Rua. Pracinha. Àquela hora já estava todo mundo lá.
– Maria! O que você estava fazendo tão cedo na casa do Luca?
– Saíram de mãos dadas.
– Dormiu com ele?
– Cala a boca, Max! Ele pegou um monte de segundas épocas, não pode sair o dia inteiro.
– Claro que a Dona Ferruginosa precisava ir lá. Fazer uma companhia pro coitadinho do italiano. Que dó! Conta. O que vocês ficaram fazendo? Dando uns malhos?
– O que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta!
Debi com esparadrapo nos óculos, Cléo e o chapéu maluco, jogando saquinhos sentadas no meio fio.
– Liga não, Ma. Esse cara é um bolha.
– Quer jogar?
– Não. Quebrou os óculos?
– Sexta, no vôlei. Mas conta! Vocês tão namorando?
– Que coisa! Só pensam nisso?
– Conta logo, vai.
– Aqui não. Os meninos podem ouvir.
– Vamos dar uma volta.
– Até a padaria, tomar um sorvete.
– Só se vocês pagarem, saí de casa sem nada.
– Saiu feito louca, de madrugada, só pra ver o cara?
– Nem pra chamar. Me largou lá. Tomei café sozinha com seu avô, sabia?
– Pois mereceu. Depois do que disse ontem. Mas chamei, sim. Você estava dormindo feito uma pedra bêbada.
– Bêbada? Olha quem fala! Fui eu quem tomou gin tônica ontem à noite?
– Gin quê?
– Gin tônica nada. Era soda. Falei só para encher a Pati.
– Maria, eu não fui nessa festa, não sei de nada. Agora você vai contar tudo.
– Não tem nada para contar. Ele me pediu para namorar. Eu disse que ia pensar. Pensei... e aceitei.
– Mas já?
– Já, ué! Queria o quê, Cléo? Que eu passasse um mês, meditando?
– Olha, não é por nada, Ma, mas você nem conhece esse menino direito. Faz o quê? Duas semanas que ele mudou para cá?
– Então, segundo você, eu ia namorar quem?
– Alguém conhecido. Um amigo.
Nem a Debi estava aguentando.
– Cléo, já é demais! Quando a gente gosta, gosta, pronto. Eu acho o Luca divertido. Grande Chefe Cavalo Louco. Acho legal eles namorarem. Conta, Maria. Estou morrendo de curiosidade.
– Sei lá. Quando estamos juntos... Parece que conheço ele desde sempre.
– Ah, está mesmo apaixonada!
– Beijaram na boca, afinal?
– Ainda não.
– Que milagre! Do jeito que você está rapidinha, pensei que... Não eram nem dez da manhã e já estava lá.
– Conta, vai! O que vocês ficaram fazendo?
– Nada de mais, ora. Dançando.
– Dançando? Logo cedo?
– Sozinhos? Música lenta?
– Dançando, no quarto dele de porta fechada sozinhos logo cedo música lenta dos Rolling Stones, tá bom? Algum problema?
– Você não está exagerando, Maria? Sozinhos no quarto! Sabe o que falam dele? Foi expulso de dois colégios, porque fez bombas. Da última vez, o padre chamou ele de terrorista, faltou chamarem a polícia.
– Quem disse?
– O Dimi, que estudou com ele. Mas todo mundo sabe, menos você.
– E daí? Você está muito careta. Nem parece a Cléo que eu conheço, uma intelectual que não é alienada, vai para Londres, lê o Sartre. Se o Luca fez bombas, devia ter algum motivo. Você está com inveja porque eu estou namorando?
– Está mesmo apaixonada!... Isso vai acabar em casamento.
– Desse jeito, vai acabar é mal.
– Cala a boca, vai, Cléo!
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O SOL NÃO ESPERA
Fiksi RemajaO ano é 1973. Maria está prestes a completar 13 anos e sua vida parece ter virado de ponta-cabeça, num redemoinho. Não bastasse estar perplexa com as atividades misteriosas de seu tio, ela vai conhecer Luca, um novo menino que acaba de mudar para a...