sábado

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O banheiro das meninas estava uma confusão. Entramos para aumentá–la.

– Vocês viram o italianinho que a Maria está paquerando?

– Quem te disse que estou paquerando ele, Pati?

– Precisa dizer? Está mais que na cara. Você só falta babar.

– E daí? Se for? Problema meu.

– Problema mesmo, se gosta de molequinhos com sorriso metálico. Só quero ver na hora de beijar. Logo você, que morde... Seus dentes vão enganchar no aparelho. O beijo fatal!

– Pati, sua tonta. Você fala de mim mas é apaixonada pelo Alex que nem te olha. O Luca, pelo menos...

Olhei para a Cléo em busca de apoio. Torcendo as pernas na fila do xixi, a bestinha imitou o sotaque italiano:

– Bela, tchau! Vem cá que eu vou te mostrar o que é um beijo de gancho, meu!


Ô, ódio! Saí, bati a porta. Fiquei meio assim, ali sozinha, mas que se danasse. Tinha vindo para encontrar o Luca e era o que ia fazer. Não foi difícil. Ele estava perto do bar, copo na mão.

– Voltei.

Metade da boca sorriu.

Neanche mi hai lasciato dire che sei molto bella.

– Quê?!

– Linda! Você tá linda. Ainda não deu para perceber que eu gosto de ruivas?

O que a gente diz, numa hora dessas? Você também está lindo? Lindo é o seu jeito de falar? Será que uma menina pode dizer uma coisas dessas?

– Obrigada.

Wanna drink?

Ofereceu o copo e eu dei aquele golão. Aaarrgh! Os olhos se encheram de lágrimas e senti o rosto em fogo. Ele ria.

– Luca, que é isso?

– Gin tônica, ué. O que você pensou que fosse?

– Soda limonada.

– Você ficou vermelha. Quer uma soda?

– Hã hã.

– Espera aí.

Fiquei olhando para ele apoiado no balcão, falando com o garçom. Voltou com um copo. Parecia soda mas tinha cubos de gelo e uma rodela de limão na borda. Devo ter parecido muito desconfiada:

– Pode tomar. É soda limonada, juro. Só mandei por limão e gelo pra ficar bacana. Parece um drinque.

– Legal. Mas não entendo como você consegue tomar aquela coisa.

– No começo é ruim, mas a gente se acostuma. Depois fica se sentindo legal, relaxado. Você devia experimentar.

– Mas é proibido. Como eles servem para você?.

– Eu consigo tudo o que quero, meu.

Sorriu um quase sorriso, os olhos meio fechadinhos me encarando. Piscou. Tremi toda.

– Seu pai deixa?

Fez uma cara que não sei se era de mau, bravo ou triste.

– Meu velho está muito longe. Em Roma.

– Sei. Os meus também, quer dizer... É que como em geral eu sou a única que tem pais separados, nunca penso que, com os outros, também...

– Tudo bem. Deixa pra lá.

O SOL NÃO ESPERAOnde histórias criam vida. Descubra agora