4/12, segunda

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Desde ontem cedo não tinha mais visto o Luca. Passei pela praça à tarde, esperei um tempão e nada. Na casa dele, tudo fechado. Não tinha coragem de tocar a campainha; e se a mãe atendesse? Pensei em pedir para a Debi, mas... na frente de todo mundo? Dos meninos? Depois de toda a gozação que ouvira de manhã? Esperei mais um pouco, o sol começou a descer e voltei pra casa confusa. Mais um assunto para me tirar o sono: será que ele havia mudado de idéia?

Hoje, Caco veio da rua com um bilhete:

Maria
dessendo a rua Saranda a esquerda a un terreno con um muro de tijolo. Do lado tem uma taboa verde. Esta solta e da para passar. Te spero la as cinco e meia atras da quelas plantas de frutas ingrassadas. Vai a pe que nao da para entrar com a bici.

Luca

Que graça... Ele não sabe o que é mamona! Mas claro que já descobriu a entrada para o terreno baldio. Que lugar! A Cléo acharia o fim. Se eu contasse pra ela.

Cheguei. A tábua estava afastada. Fui espiar e acertaram uma mamona na minha testa. Dei de cara com a cara do Luca rindo por cima do muro.

– Vem!

Há quanto tempo eu não ia lá! As plantas cresceram formando um esconderijo, quase uma cabaninha debaixo do abacateiro. Ele havia arrumado um banco com uma tábua e tijolos.

– Ficou legal aqui, né?

– Quando eu era pequena, a gente fazia guerra com essas bolinhas. Chama mamona.

Ele achou muita graça.

– Mamona?

– É, e dói, viu? Uma vez pegamos o Max. Três meninas contra ele. Um verdadeiro massacre.

– Ele não vai com a minha cara.

– Max? Ele é assim mesmo.

– Você já está de férias?

– A prova é amanhã. Depois estou livre. E você?

– Três provas ainda. Se pegar mais uma segunda época, é bomba direto.

– Ih!

– Nada! Agora é moleza. Inglês, Ciências e Matemática. Mas de que adianta? Já estou de castigo mesmo. Trancado em casa até janeiro, baby!

– Janeiro?!

– Condicional das cinco às sete da tarde, e olhe lá. Sério.

– Que droga!

– É. Mas eu aprontei.

– O quê?

– Coisas. Um dia eu te conto. Ela não aguenta mais. Disse que vai me por na linha de qualquer jeito.

– Quem?

– Minha mãe, ora! Maria, você vem me encontrar aqui, todo dia a essa hora?

– Aqui?

– É! Na rua tem muita gente. Eu trago o gravadorzinho. Umas fitas. Sozinhos. Vem?

– Tá.

E dane–se a hora do jantar.

– Só no sábado que... Olha, sábado tem jogo.

– É o dia da reunião de bandeirantes. Se eu passar lá depois?

– A gente volta juntos! Mina, você é demais!

E tacou uma mamona no meu nariz.

O SOL NÃO ESPERAOnde histórias criam vida. Descubra agora