Capítulo 24

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- Vocês têm de parecer o mais normal possíveis! - Bruno disse, a olhar para cada um que estava sentado naquela mesa - Nada de andarem com diários de capa dura na mão, nada de falarem sobre a ilha em qualquer lugar e, especialmente, nada de inventarem que são os milionários mais milionários deste mundo e que conhecem o Wesley Oliveira em pessoa - ele olhou para Zayn - Entendido?

- Eles estavam a gabar-se dos sapatos de marca! - ele defendeu-se - Eu tinha de dizer alguma coisa. E, por acaso, não é mentira a parte do Wesley Oliveira. Eu fui convidado para um jantar na casa dele e tudo!

Bruno revirou os olhos e sentou-se na mesa.

- Por favor, não estraguem a missão por serem palermas e quererem ser populares, muito menos nos Estados Unidos, onde vão estar rodeados de adolescentes da vossa idade.

- E crianças! - Edson protestou.

- Com vocês eu não me preocupo. Só me preocupo quando entrarem na idade da parvoíce.

- Estás a chamar-nos de parvos?! - Jennifer protestou.

Lara começou a rir e Kelly deu a Jennifer uma cotovelada.

- Fica calada.

- Lembrem-se. Os Estados Unidos não é como o nosso esconderijo. Lá está cheio de pessoas más, que querem-nos fazer mal e vocês não podem ser burros e acreditarem no que eles dizem-vos. Pode ser uma tentação ser o melhor amigo do Thiago Oliveira ou sua namorada, mas lembrem-se o que aconteceu com Jenny.

- Sim, Bruno - Ellen disse quase num suspiro - Todos nós sabemos que ela é considerada uma das piores traidoras do refúgio.

- Não sei como uma pessoa como nós pode casar-se com um dos Oliveira - Chloe disse.

- O amor, Chloe - Joan suspirou - O amor está sempre a pregar-nos partidas.

Diogo olha para Yasmin e esta olha ao mesmo tempo. Ao ver o desvio rápido do rapaz, vê que a conversa que tem de ter com ele é urgente, não podiam ficar muitos dias sem falar. 

Depois da conversa que tiveram com Bruno, Yasmin foi até o quarto de Diogo. Ele estava deitado na cama, a pensar no "nada", sem vontade de sair e com as lágrimas a queimarem-lhe a cara. 

- Diogo, preciso de falar contigo. - ela sentou-se na cama - O Lourenço deu-me o cartão de entrada - ela mostrou-o - Estavas a falar a sério sobre...

Não obteve nenhum resposta, nenhuma reação. Queria chorar, mas odiava mostrar esse tipo de fraqueza.

- Diogo, eu vou-te dizer pela terceira vez: Nós adormecemos enquanto estávamos a trabalhar no grande segredo - ela pegou nas mãos dele - Eu sei que tenho passado muito pouco tempo contigo, mas não é porque eu quero, é só que eu tenho uma grande responsabilidade nas minhas costas. O diário foi me dado. Eu é que tenho de descobrir e a ajuda do Harry tem sido muito boa. Descobrimos várias coisas hoje, infelizmente, eu perdi a página que revelava o segredo mas... - ela falava sem parar e mesmo assim a expressão dele não mudava - Isto é inútil... 

Ela suspirou e levantou-se da cama, a mexer os dedos um pouco irrequieta. Nunca pensou que algum dia eles dois iriam ficar assim chateados, sem falar, sem terem uma relação. Então, veio-lhe à cabeça o dia em que conheceu Diogo. Como ela ficou a ver uma menino irrequieto a apontar-lhe um pau ao peito e a julgar-lhe por ser uma menina. Sabia lá que essa menina um dia seria a miúda que tanto iria amar. E quando ele recusou-se a ficar com Yasmin e foi procurar frutas e conseguiu uma. Foi aí que apercebeu-se que naquela ilha só estavam eles dois. Brincaram na lagoa, dormiram os dois abraçados numa gruta, fizeram uma casa, comeram vários tipos de frutas e descobriram várias coisas sobre sentimentos.

Quem diria que iria acabar tudo assim.

Não podia acabar assim.

Ela não ia permitir que eles acabassem assim, que as histórias que viveram, que as histórias que ainda tinham de viver... Não. 

- Diogo, para com isso! - ela voltou-se para trás - Eu sei que tu nasceste mesmo assim, um teimoso chato. Sei disso desde o momento em que tu não conseguiste acreditar que estavas sozinho naquela ilha com uma menina. Mas sei também que tu és inteligente. Sei disso quando vi como utilizaste bem todos os teus membros para buscar aquela fruta naquela árvore. E também sei que tu és simpático. Tu partilhaste-a comigo, mesmo estando cheio de fome, e fizeste de tudo para que eu não passasse frio naquela noite, naquela gruta, enquanto chovia.

Uma lágrima desceu do olho dela.

- E sei também que amas-me - ela disse, por fim - Por aquele beijo que tu destes-me, naquele pôr-do-sol, e por todos os anos que nós passamos na ilha, contigo sempre atrás de mim, a querer-me proteger. Sei que agora não consegues estar sempre atrás de mim, a segurar a minha mãe e a beijar-me, mas tens de perceber o porquê. Quando tudo isto passar, voltaremos ao normal.

Nada. A expressão não tinha mudado. Apenas um desvio de olhar que ele fez-lhe, porém, voltou ao mesmo lugar: a frente dele, a parede branca do quarto.

Yasmin engoliu seco e tentou limpar as lágrimas todas da cara. Levantou os seus joelhos do chão, a desistir. Estava tudo acabado. 

Começou a andar e pôs a mão na maçaneta.

Não.

Ela estes anos todos pode ter desistido de coisas muito importantes, mas nada era mais importante que Diogo, aquele que cuidou dela nove anos, numa ilha. Como seria a sua vida sem Diogo? Morreria de fome, morreria de frio, morreria de solidão. Não podia retribuir-lhe assim!

Voltou-se para Diogo, séria, e a mexer os dedos.

- Eu amo-te - ela começou a chorar - Só a ti. Não há mais ninguém neste mundo que eu ame mais do que tu. Eu nunca seria capaz de te trair com outra pessoa. Por favor!

Ela pôs as mãos nos olhos e começou a chorar tudo o que ela queria chorar.

Nada.

Nenhum som, nada.

- Por favor, Diogo. Perdoa-me. 

O silêncio estava a incomodar-lhe. Parecia que Diogo estava sem sentimentos, parecia que não se importava pelo facto de ela estar a chorar mesmo à sua frente. Não tinha feito isso durante muitos anos.

Sentiu uma boca a ir contra a dela e a afastar as suas mãos do caminho. Sentiu umas mãos a irem para a cintura dela e um corpo a ir contra o seu.

Ele estava mesmo ali e o seu coração agora, em vez de abanar de medo e tristeza, estava a abanar por amor.

- Diz-me o que é preciso fazer - ele disse, a acabar com o beijo - Eu quero-vos ajudar.

Yasmin pensou por momentos. Ter o Diogo e o Harry ao seu lado iria gerar muita confusão, mas ela precisava de Harry e, ainda mais, de Diogo.

- As outras páginas estão em França. É lá onde iremos continuar com a nossa busca.


Os Revolucionários - equipa 210Onde histórias criam vida. Descubra agora