É sexta-feira. Eu estou ajudando a Catarina com matemática desde o começo da semana. Minha mãe disse que eu só faço isso porque gosto dela, mas ela é minha amiga, então acordaria cedo mais uma semana mesmo que não sentisse nada mais.
Felizmente, ela é bem terrível com números, então foram praticamente aulas particulares. Sentamos em dupla no fundo da sala, e ficamos a manhã toda lá, saindo apenas para o intervalo de vinte minutos (que também passamos juntos. Ela vem evitando ficar sozinha cada vez mais, por motivos: Liam). Estudar com a Cat é bem demorado, porque ela se distrai muito fácil, então o processo foi muito lento.
Na segunda, revisamos radiciação.
Na terça, revisamos equação de primeiro grau - porque ela não lembrava como fazer direito.
Na quarta, equação de segundo grau incompleta.
Na quinta, Báskara, para as equações de segundo grau completas.
Hoje estamos revisando a revisão. Passei uma lista de exercícios que aborda todos os conteúdos que ela devia saber, e tento tirar um cochilo enquanto ela faz as contas. Quando finalmente consigo pegar no sono, Catarina me chama.
- Kev, acabei.
- Eu tava dormindo - resmungo, pegando as folhas de sua mesa.
- Eu sei - ela ri. - Sonhou comigo?
- Não deu nem tempo - respondo, começando a corrigir com uma caneta vermelha.
Mas não há o que corrigir, está tudo certo.
Entrego as folhas para ela.
- Parabéns, Cat, já pode ser matemática.
- Engraçadinho.
- Nunca imaginei que em uma semana você deixaria de ser...
- Burra? Lerda? - ela cruza os braços e inclina a cadeira para trás.
- ... de humanas.
- Ah, mas eu ainda sou de humanas. Matemática só é legal com você.
- Faça o favor de não ficar de recuperação no próximo bimestre.
- Se você estudar comigo... - ela pisca para mim, inclinando a cadeira um pouco mais.
- Você vai cair.
- Vou nada!
Bem nesse momento, a cadeira escorrega. Ela exclama "Eita, porra!", mas felizmente, eu a seguro, impedindo que Catarina caia no chão.
- Que sorte - comenta.
- Ainda bem que os meus reflexos de aranha são ótimos. - pego a garrafinha d'água cor de rosa da mesa de Cat e tomo um gole. - Vou falar para a professora te passar o teste.
- Mas eu fiz a revisão! - ela choraminga. - Não quero fazer mais conta, já deu.
Reviro os olhos e me levanto. Ando até a mesa da professora, e, apesar dos protestos da Catarina, digo que acabamos a revisão.
A professora sorri para mim. Agradece a minha ajuda desses dias e diz para eu esperar em algum lugar fora da sala.
A escola está praticamente vazia, porque a maioria dos que ficam de recuperação fazem tudo correndo para entrar nas férias. Vago pelo pátio quase vazio e vou para a biblioteca.
- Kevin! - a sra. Mhairi me recebe com um sorriso. - Ficou de recuperação, menino?
- Não - sorrio de volta. - Vim ajudar a Catarina. Você sabe como ela é, né...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Snap out of it
Short StoryNão era uma queda, era um penhasco. ❝I wanna grab both your shoulders and shake, baby Snap out of it❞ 19.07.2017 → #43 em Conto