Onze:

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Lua sentia-se pequena naquela manhã.

Pequena não, mas sim minúscula.

Apenas uma partícula no meio de toda grandiosidade que era o mundo. Ou melhor: do que o Lianas tinha se tornado diante dos seus olhos. Lua não entendia muitas coisas, e outras fazia questão de não entender, mas agora ela sabia que o acampamento que havia sido seu lar e de Sol durante tanto tempo, não era mais o mesmo. Agora Lianas era um lugar sujo, podre e horrível. Cheio de segredos e trapaças, pessoas horríveis e que transformavam o lugar no pior pesadelo de Lua.

Lua sentia uma dor imensurável em pensar em Lianas daquela maneira.

Da mesma maneira que doía ter que fazer o que eles iriam fazer. Ela sabia e nem precisou ir para o seu mundo para descobrir tal fato que, no momento em que toda as verdades sobre o acampamento viessem à tona, Lianas iria fechar. Doía em Lua saber sobre isso, mas iria doer mil vezes mais caso eles não fizessem nada e deixassem toda a bagunça como estava. Eles estariam sendo iguais a Elisângela e Ricardo caso omitissem.

Ela olhou para o celular uma última vez antes de o deixar em cima da sua cama. Lua havia telefonado para os pais e dito que precisava de ajuda. Ela não pode detalhar muita coisa por telefone, mas pediu para que eles ligassem para ela na manhã seguinte para que eles pudessem conversar. Seus pais sempre a apoiavam, mas eram super protetores demais, e Lua entendia eles, todavia achava um verdadeiro exagero que eles dirigissem por mais de dez horas naquela noite apenas para terem certeza que ela estava bem.

Depois de afirmar uma porção de vezes que sim, estava bem, eles a deixaram falar e combinaram de ligar pela manhã para que Lua explicasse tudo. Ela sabia mesmo antes de ter ligado para os pais que eles iriam a ajudar; eles sempre a ajudariam e estariam ali por ela. Sempre.

Lua procurou por Alina naquela tarde, mas não a encontrou no seu quarto. Ela também foi até o dormitório de Eduardo, todavia, ele também não estava lá. Lua não achou estranho aquele fato: se Alina e Eduardo não estavam em seus dormitórios isso significava que eles estavam juntos. E Lua amava a ideia de Alina e Eduardo juntos. Apenas juntos, sem serem, necessariamente, um casal apaixonado. Lua via a maneira que Alina olhava para Eduardo e a maneira que Eduardo olhava para Alina e apenas conseguia enxergar naquelas trocas de olhares o sentimento mais lindo que Lua conhecia no mundo. A amizade. Era incrível como Eduardo e Alina confiavam um no outro mesmo sem saberem.

Sem saber o que fazer ou como agir depois de ter falado com seus pais, Lua ficou sentada em um dos inúmeros bancos do Lianas, apenas observando os campistas passando de um lado para o outro e não se importando nenhum pouco por não ter comparecido a sua atividade daquela tarde.

Não que ela estivesse cansada ou não gostasse das cabanas, mas naquela tarde sua prioridade fora tratar sobre seus problemas com seus pais. Em parte, é claro, mas Lua não sentiu a mínima vontade em ir até a sua atividade depois.

Ficar sentada ao ar livre, ao seu ver, era mais produtivo.

O problema é que Lua não estava preparada para ver Benvólio naquele momento.

Para Lua, ele deveria estar na sua cabana e cumprindo com a sua atividade já que eles tinham atividades no mesmo horário. Mas Benvólio não estava na sua cabana. Muito menos indo em direção a ela.

Ele estava com o violão nas costas e com um caderno em mãos, mas tomou a decisão de seguir a trilha que o levaria diretamente ao meio da floresta que cercava o acampamento. Ele parecia estar... Fugindo de algo.

E Lua, sem ao menos perceber, colocou-se em pé e caminhou até o começo da trilha. Sem saber o que fazer a seguir, Lua pensou por um momento e sentiu-se sendo transportada para a infância. Exatamente para os momentos em que ela ia até suas consultas médicas e alguém dava um jeito de enfiar uma agulha em seu braço.

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