Uma vez disseram para um garoto de onze anos que ser grande significa ser incompreendido. É claro que uma criança ─ que se considerava um pré-adolescente ─ não entendeu tal dito e passou meses tentando compreender tal citação de Oscar Wilde. Anos se passaram e o garoto deixou de ser uma criança para se tornar um adolescente e a frase continuaria incompreendida. A diferença é que nos dias atuais, Benvólio não dava a mínima para isso.
Ele havia crescido e o significado daquela frase não fazia diferença.
Mas isso não queria dizer que ela o havia abandonado.
Depois de sair da sua atividade musical na cabana 102, Ben seguiu em direção até o alojamento dos dormitórios, questionando em pensamento se existia a possibilidade de dar um jeito em não participar da trilha daquele dia. É óbvio que a cabeça cheia de ideias conseguiu bolar vários planos, mas quando Ben passou por um grupo de garotas e todas acenaram para ele animadas, Ben lembrou que trilhas no Lianas poderiam ser atividades muito boas.
Foi dessa maneira que Benvólio parou de tentar arranjar uma desculpa para não participar da trilha e começou a pensar em como se livrar dos inspetores durante meia hora.
Ben poderia não gostar de atividades que envolviam caminhadas, mas ele simplesmente amava arranjar um tempo sozinho com alguma garota. E era exatamente aquilo que ele faria naquela tarde.
Ele apenas esperava que os mosquitos fossem seus amigos durante aquele período.
[...]
Infelizmente Benvólio não fora avisado que Terê iria com eles na trilha. E fugir de Terê era algo simplesmente impossível! A mulher possuía olhos de gavião, sentindo de uma águia e uma disposição considerada invejável para Ben. Ele já estava morrendo de tanto caminhar logo na primeira hora enquanto Terê parecia disposta a passar o resto da sua vida enfiada no meio daquele monte de mato. Como ela conseguia ter toda essa disposição Ben não sabia, mas que ele estava à beira de um ataque cardíaco caso eles não parassem nos próximos cinco minutos, disso ele sabia.
Benvólio sempre odiou o verão, sol, praia e férias em acampamentos. Ele gostava mesmo era das férias de junho, de acordar com a temperatura negativa e de subir a serra aos fins de semana para encontrar alguns amigos. Em momentos como esse, em que ele sentia como se fosse derreter a qualquer instante, é que Ben lembrava do quanto amava o inverno e a região sul.
Alguém mais atrás gritou para parar um pouco e Ben quase se ajoelhou aos pés da pessoa.
Quando Terê liberou a pausa para descanso ou para quem quisesse conhecer um pouco da mata ao redor, Ben deixou o corpo sentar em cima de uma pedra e ficou concentrado em respirar grandes doses do ar puro que o cercava.
Alina passou por ele e o olhou de maneira engraçada, provavelmente debochando do estado que Benvólio se encontrava. Ela disse qualquer coisa que ele fez questão de não entender e logo Alina era mais um dos seus colegas de trilha naquela tarde.
Benvólio deveria estar passando muito mal já que ele percebeu uma garrafa estendida em sua direção. Ele levantou a cabeça que estava nos joelhos e percebeu que a pessoa que havia sido gentil o bastante com ele naquele momento era Eduardo, o garoto da detenção de dias atrás.
─ Acho que você precisa tomar uns goles, cara. Tá com cara de quem vai desmaiar.
Ele até tentou agradecer a Eduardo pela água, mas nos minutos seguintes Ben ficou muito ocupado em secar a garrafa cheia de água de Eduardo. Ele nunca antes deu tanto valor a uma garrafa de água quanto naquele momento.
─ Guri, ba, sequei a tua garrafa. ─ Ben até tentou não tomar tudo, mas tinha muita sede e havia mesmo secado a garrafa de Eduardo.
─ Sem problemas. ─ Edu pegou a garrafa e sorriu despreocupado para Ben. ─ Vou pedir outra para a Terê.
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Os Desajustados | ✓
General FictionAlina jurou para si que nunca mais voltaria a colocar os pés dentro de Lianas, o famoso e velho acampamento que ela frequentava desde que era uma criança, mesmo que aquele fosse o seu último verão nele; voltar, depois do que aconteceu no ano passado...