Seis:

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As olheiras denunciavam a noite mal dormida que Alina teve.

No fim das contas, não tinha sido uma ótima ideia ter se oferecido para ler metade daqueles papéis que Eduardo estava encarregado. Ela achou que seria muita coisa para apenas uma pessoa fazer, e Alina tinha razão, mas pensou errado em pensar que apenas duas pessoas dariam conta de toda aquela papelada. Era muita coisa.

Alina não ficava admirada por tamanha comoção aquele dia; Lua "pegou emprestado" ─ como ela afirmava dizer ─ pelo menos cem folhas. Cem folhas repletas de letras e números, contratos e mais gráficos sobre a situação financeira do acampamento. Alina não sabia como Lua havia conseguido achar aquelas folhas e nem sabia como Eduardo estava tentando dar conta de todas elas, mas ela sabia apenas em uma noite tentando entender os gráficos, que aqueles números iriam a perseguir eternamente.

E dito e feito: Alina teve sonhos aquela noite com números e gráficos.

Quando ela encontrou Eduardo no café da manhã e percebeu que ele parecia normal, Alina fez questão de perguntar como Eduardo conseguia ser normal depois de tantos números e cláusulas complicadas, e recebeu como resposta apenas um sorriso torto e um balançar leve de ombros. Alina então lembrou-se que Eduardo não falava sobre aquele assunto em público. E ele estava certo.

Depois que Lua pegou emprestado aqueles papéis, as coisas ficaram muito mais tensas em Lianas.

Alina suspeitava que algum daqueles papéis que Lua havia pego escondia algo. Algo podre e que encrencava alguém. Agora qual papel e a quem ele encrencava... Isso eles ainda não sabiam. Mas Alina focava no ainda já que eles tinham Eduardo no quarteto e ele parecia muito habituado com aqueles papéis.

A garota até poderia dizer que ele parecia um tanto quanto possessivo sobre eles. Foi um trabalho complicado fazer com que Eduardo dividisse os papéis com ela, mas depois de uma discussão ─ coisa que Alina era profissional ─ ela conseguiu arrancar alguns papéis de Eduardo e os levou até o seu quarto. Agora eles eram de Alina e ela deveria cuidar deles muito bem. Se alguém descobrisse que os papéis estavam com eles... Alina não queria nem pensar nas consequências.

Falando em consequências e discussões, Alina lembrou-se de Ben e na breve discussão que eles tiveram no dia anterior.

Ben topou receber ajuda depois que Lua falou com ele, afinal, eles eram um quarteto naquele assunto também. Além de colocar Ricardo atrás das grades, eles iriam descobrir o motivo de Elisângela simplesmente não escutar nenhuma das campistas. E, com alguma sorte, não seriam mandados para nenhuma instituição para jovens delinquentes por conta dos papéis que Lua pegou emprestado.

Voltando ao assunto... Ben e Alina haviam discutido no dia anterior por causa de Lua.

Alina, inocentemente, havia sugerido que Lua voltasse a sala de Elisângela e devolvesse uma parte dos papéis e, apenas por sugerir aquilo, Ben achou que poderia começar uma discussão com ela. Logo ela, a rainha da discussão. Alina nunca fugia de uma boa discussão e nunca perdia uma também. Pobre Ben que pensou que poderia entrar em uma discussão com ela. Ele já deveria ter aprendido durante esse tempo que eles tinham de "colegas" que Alina não perdia uma discussão.

Ok, Alina nem poderia dizer que aquilo havia sido uma discussão verdadeira já que no momento em que aquilo foi se tornar uma discussão real, Lua interferiu e, como em um passe de mágica, Ben voltou a se acalmar. Alina ficou em choque. Não apenas por não ter acabado a discussão, mas sim por Lua ter feito Ben ficar quieto e acabar com aquilo.

Alina nunca havia visto Benvólio fugir de uma boa discussão ou briga. Nunca mesmo. E olha que Benvólio era conhecido justamente por sempre se meter em confusão. Ver Ben recuando por causa de Lua e parecendo um chihuahua adestrado a deixou em estado de choque. Será que... Não, Alina saberia se alguma coisa estivesse acontecendo entre eles. A não ser que nada estivesse acontecendo, mas Ben estivesse querendo que acontecesse.

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