Quatorze:

2.2K 422 145
                                    

Os papéis haviam sido invertidos e agora era Benvólio quem fugia de Lua.

Nem ele ao certo sabia o motivo de estar fugindo de Lua desde o momento que eles tiveram na clareira. Tudo bem, Ben sabia exatamente por qual motivo vinha escondendo-se de Lua desde o ocorrido na clareira, mas admitir aquele fato para si mesmo era, no mínimo, doloroso. E humilhante.

Já que, para Ben, Lua apenas havia o beijado porque estava com pena dele.

Era doloroso aceitar esse fato, mais doloroso do que ver Lua fugindo dele, mas ela havia apenas o beijado porque queria o confortar de alguma maneira.

Lua não gostava de Ben.

Lua não sentia o estômago criar vida quando Ben se aproximava.

Lua simplesmente não sentia nada por ele.

E pior do que saber isso, era saber que aquele beijo havia sido dado por pura pena.

Ben odiava que as pessoas sentissem pena dele, todavia, ele nunca havia se sentido tão péssimo quanto agora. Ter a garota que você está completamente apaixonada beijando você apenas por pena era... Era... Doloroso. Mais doloroso do que quebrar o braço brincando com algum amigo.

Mas nada ─ nada mesmo ─ era mais doloroso do que lembrar do beijo de Lua.

Aquele beijo... Aquele beijo ficaria eternamente em seus pensamentos, o atormentando em sonhos e sendo relembrado em todos os momentos possíveis. A mente de Ben vinha trabalhando daquela maneira desde aquele dia na clareira: uma parte ficava o lembrando constantemente que Lua havia feito o que fez por perna, e a outra parte ficava o lembrando da sensação que fora ter os lábios de Lua pressionados contra o seu, o toque delicado dela em si, a forma como ela parecia ter tomado uma decisão no momento em que o beijou... Ben estava sendo assombrado pela lembrança daquele beijo.

E, por Deus, como aquilo machucava também.

Era doce ao mesmo tempo que era amargo.

Era um sonho de uma noite de verão ao mesmo tempo que era uma tempestade.

Ben balançou a cabeça, uma tentativa desesperada e falha para afastar Lua dos seus pensamentos. Não resolveu seus problemas, mas o fez acordar para a realidade ao seu redor. Ele ainda estava no refeitório e seu café da manhã ainda estava intocado. Ele não sentia mais fome agora, a única coisa que permanecia intacta dentro de si era o desejo de beijar Lua novamente.

A única coisa que ele não faria novamente.

─ EI, BEN!

Ele virou-se na direção que chamavam e antes não tivesse feito isso.

Eduardo havia o chamado e vinha em sua direção. Não sozinho, mas é claro que ele não estaria sozinho. Lua estava com ele, parecendo mais ansiosa do que nunca por ter finalmente o encontrado depois de tantos dias. Era ele quem fugia dele da mesma maneira que seu gato fugia dos dias que precisava tomar banho. Seria cômico... Caso não fosse trágico.

Ignorando todas as boas maneiras que seu pai e sua avó ensinaram para ele ao decorrer dos anos, Ben apenas levantou-se, passando diretamente por Eduardo e Lua. Sem nenhuma palavra, sem nenhum olhar, sem nenhum toque. Sem absolutamente nada. Ben não olhou para trás quando saiu do refeitório.

Ele não percebeu que havia deixado um Eduardo extremamente confuso para trás e uma Lua extremamente decepcionada também.

[...]

Ben sentia-se um estranho no ninho ao andar pelo acampamento sem seu fiel companheiro: o seu violão. Mas ele teria que se acostumar em algum momento, afinal, reconstruir o violão seria impossível. Ben lamentava por um lado já que realmente gostava do violão, mas por outro... Se livrar dele fora como se libertar da última amarra que o prendia a sua mãe. Ele sentiria falta? Sentiria, mas talvez ter colocado o ponto final definitivo naquela história tenha sido o certo.

Os Desajustados | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora