Sete:

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Lua sabia exatamente o motivo de ter assinado seu nome na lista de pessoas que iriam acampar naquela sexta-feira já que a ideia de dormir em uma barraca nunca a agradou, mas como aquele era o seu último ano em Lianas, ela decidiu que deveria dar uma chance e acampar. Afinal, caso ela não gostasse, era apenas dizer não para o último acampamento que Lianas sempre dava como forma de despedida ao fim do acampamento. A garota fazia aquilo por ela e por Sol, a última promessa que elas fizeram juntas ia finalmente ser realizada.

Ela queria ter aquela experiência, de certa forma, mas queria ainda mais cumprir com a sua palavra.

Vir a acampamentos nunca fora a experiência preferida de Lua, mas quando Sol, sua irmã, descobriu o Lianas há anos atrás e fez uma grande propaganda sobre o acampamento para Lua, ela ficou contagiada pela irmã. E a verdade é que Lua gostou de Lianas, gostou tanto que ainda o frequentava depois de tudo.

Para a sua família, Lua apenas ia ao Lianas por causa de Sol. De certa forma eles tinham razão; Lua via na oportunidade de passar as férias de verão no acampamento uma chance de passar um tempo com a sua irmã mais velha que estava no seu primeiro na faculdade. E mesmo que Sol fosse alguns anos mais velha que Lua, a cumplicidade que elas tinham era algo transversal. Lua não se importava, no final das contas, que seus pais pensassem que ela frequentava o Lianas por causa de Sol já que ela sabia a verdade.

Ela gostava de Lianas e gostava mais ainda de ficar com Sol nas férias de verão.

Só que depois de tudo... Ela continuou indo para o acampamento e isso surpreendeu à todos.

Teve um ano em que Lua e Sol não conseguiram chegar até o acampamento. Foi nesse mesmo ano que Sol estava comemorando porque ainda iria ser monitora naquele verão e Lua estava animada porque ela havia prometido que iria acampar naquele ano. Um acampamento de verdade. Elas estavam animadas, como sempre, já que Lua e Sol eram sempre aquele brilho de alegria na vida. Mas então aconteceu e aquele brilho que parecia ser eterno, fora apagado.

Lua nunca soube explicar muito bem o que aconteceu, ela apenas lembra-se de Sol contando à ela que aquele seria o melhor verão de todos já que Lua finalmente havia topado acampar, e a última coisa que Lua viu fora o sorriso da sua irmão. E então alguém apagou tudo.

Depois de uma semana, Lua acordou em um hospital. Tinha uma perna quebrada, uma luxação na barriga e um olho roxo, mas estava viva, foi o que médico disse para ela. Ele também disse que Lua tinha muita sorte de ter saído de um acidente como aquele com apenas pequenos machucados. O médico disse todas aquelas coisas com um leve sorriso no rosto e Lua achou estranho o fato de não sentir vontade de sorrir para ele de volta. E, isso, era algo muito estranho já que Lua não guardava seus sorrisos. Lua não entendia, mas bastou ela perguntar sobre Sol que tudo passou a fazer sentido.

O médico e nem ninguém precisou dizer nada. Lua soube no momento em que a pergunta escorregou dos seus lábios e pela expressão do médico que tudo havia sido apagado. Definitivamente. Quando seus pais entraram no seu quarto, a confirmação veio através dos olhos inchados e expressões desoladas. Ninguém disse nada. Lua não precisou que ninguém falasse uma palavra. Ela via. Ela entendia. Ela sentia.

Dias depois, já fora do hospital, Lua ficou sabendo que um caminhão perdeu o controle e invadiu a pista no exato momento em que o carro em que Lua e Sol estavam indo para o acampamento. O impacto fora tão violento que Sol parou de irradiar seu calor e alegria na hora. Lua teve o que todos diziam ser sorte. Uma benção de Deus. Que seu anjo da guarda não brincava em serviço. Lua sabia que nada daquilo tinha a ver com sorte, Deus ou com o seu anjo da guarda, aquilo tinha a ver com Sol. Foi a sua irmã mais velha que a protegeu de tudo. Como sempre.

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