Dois:

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Alina acordou naquela manhã com a voz da diretora Elisângela ecoando pelo corredor do seu andar. Ela e todas as outras garotas. Foi uma confusão até que todas se acalmassem e chegassem a conclusão que não era o alarme de incêndio, mas sim um aviso logo às seis e meia da manhã.

─ Bom dia, campistas. ─ Alina coçou os olhos enquanto sentava-se em sua cama, ainda meio perdida sobre o que acontecia naquela manhã. ─ Os novos uniformes não foram entregues ainda, mas até lá, como medida de tentar apaziguar a situação que eles causaram, eles foram suspensos. As garotas devem usar blusas brancas e leggings ou shorts confortáveis para as suas atividades. Obrigado pela atenção.

Foi como se um anjo descesse diretamente do céu e cantasse "Aleluia! Aleluia!" nos ouvidos de Alina. Nos ouvidos de todas as campistas, na realidade. Alina encarou suas colegas de dormitórios que estavam tão eufóricas quanto ela e mesmo que elas não fossem amigas ─ nem próximas ─ as quatro se uniram em um abraço no meio do quarto. Aquela vitória poderia parecer mínima para algumas pessoas, mas para elas que não se sentiam confortáveis com aquele uniforme, aquilo... Significava o mundo.

Mas então ela acordou.

Acordou daquele sonho que parecia muito maravilhoso para ser real; Alina, no fim, descobriu que aquilo tudo não havia passado de uma mera ilusão de sua imaginação. Ela amava o quanto sua imaginação poderia ser às vezes tão sua inimiga. Com uma imaginação dessas quem precisava de um inimigo real, não é mesmo?

Observou que apenas uma de suas colegas de quarto ainda estava dentro do cômodo, puxando a blusa do uniforme em uma tentativa de a fazer descer um pouco mais. Ela e Alina trocaram uma tentativa de sorriso assim que a outra saiu do quarto e foi naquele momento que Alina decidiu que simplesmente não iria passar por aquilo de novo. E ela já possuía a solução dos seus problemas.

E a de todas as garotas de Lianas.

Depois de vestir a primeira legging confortável que encontrou em sua mala juntamente com aquele pedaço de pano, Alina subiu as escadas correndo em direção ao andar do alojamento dos garotos e percebeu que nenhuma fiscalização ocorria ali. Agradeceu em pensamento pela sorte e saiu testando as portas, batendo em todas em busca de alguma alma perdida até aquela hora lá.

Foi quando ela chegou no dormitório 016 e levou a sua mão para bater contra a madeira e bateu em algo que definitivamente não era madeira, que Alina descobriu que pelo menos um garoto ali ainda estava.

Ela até chegou a planejar uma dancinha da vitória, mas quando percebeu que o garoto que havia batido ─ sem querer ─ era o mesmo da detenção de dia atrás, a carranca que se formou em seu rosto apareceu sem sua permissão. Alina era assim mesmo e até ela já havia parado de tentar entender como funcionava. Ela sabia que precisava da boa vontade de Eduardo, mas nem por isso conseguiu lançar um sorriso para ele. Ao contrário, ela lhe dera um soco e uma carranca e, ainda por cima, iria pedir uma camiseta "emprestada".

É, era daquela forma que Alina funcionava desde sempre.

─ Preciso de uma camiseta de uniforme sua emprestada.

─ Hein? ─ ele enrugou a testa enquanto ainda tentava entender o que se passava ali.

Eduardo tinha se atrasado naquele dia porque havia ficado até tarde criando um jogo novo e quando acordou ─ e percebeu que era o único no dormitório─ correu o máximo que pode para não se atrasar ainda mais. E quando abriu a porta para poder ir finalmente até a sua cabana daquele dia, deu de cara com Alina e sua mão indo em direção ao seu peito. O que ela havia dito mesmo?

─ Preciso. De. Uma. Camiseta. De. Uniforme. Sua. Emprestada. ─ ela pontuou cada palavra como se explicasse a uma criança o que precisava. ─ Entendeu?

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