Capítulo VI - Escuridão

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Não lembro de nada, nem palavras, nem dos sentimentos daquela pessoa, porém, ainda sentia a dor em minha cabeça depois de "acordar". Minha visão estava escurecida e minha respiração dificultosa, e eu sabia que havia me metido em uma situação nada agradável.

Minhas mãos ainda continuavam amarradas e estavam doloridas pela força do nó, entretanto, agora eu estava sentado e era bem desagradável estar desse modo, estava com tanta raiva, que mesmo não funcionando, em gestos totalmente fracassados, ainda fazia força para tentar em uma tentativa falha me soltar. Em alguns segundos, uma voz masculina e grossa começou a falar.

— Finalmente acordou, desculpe, sua cabeça deve estar doendo — Realmente, estava com tanto ódio que esqueci da dor, havia levado uma pancada do lado direito que ainda latejava. — Deixe-me tirar isso de sua cabeça — Ele retirou um tipo de saco preto e minha visão novamente sentia o desconforto que era ver novamente a luz, mesmo que fosse de uma lâmpada. Meus olhos entreabertos tentavam distinguir a figura a minha frente e percebi que tal pessoa não estava sozinha.

O lugar me parecia um galpão, pouca luz entrava por aquele lugar, era pelos buracos no teto e as fendas no imenso portão de ferro que parte da iluminação local era fornecida. Parecia que estava em um filme de ação e realmente esperava por alguém com um carro super moderno batesse na entrada e salvasse a pátria.

— Você não me conhece, não é? — Fiz minha melhor "cara de bunda", por qual motivo iria conhecer um cara que poderia me levar para um galpão amarrado?! E ainda com vários brutamontes como guarda-costas ou seja lá o que forem — prazer, Francis, você deve conhecer meu filho, Nathaniel — Espera, esse cara era o pai de Nathaniel? Meus olhos se arregalaram como se fossem dois faróis, estava perplexo. Demorei em retornar ao meu estado original, mesmo que não seja um dos melhores.

— O que você quer? Por que me trouxe aqui? — Perguntei firme, ele se aproximou levantando o meu queixo com a dobra de seu dedo indicador.

— Mesmo em uma situação como esta você ainda quer se mostrar o valentão? — Afastou-se, porém logo senti minha bochecha arder, o tapa desferido em meu rosto ardia, e eu com certeza poderia matar ele com os olhos naquela hora. — Respeite seus superiores, não quer que seus pais percam o emprego, certo? — O que ele tinha haver com meus pais? Eu não estou entendo mais nada dessa porra!

— Você não respondeu nenhuma das minhas perguntas — Não era como se aquele tapa chegasse perto do que eu iria fazer com ele quando eu me soltar, se, eu me soltar.

— Emily, minha nora, chegou um dia dizendo se o que você disse era verdade — Emily? — Ela disse que um garoto da escola falou que o pai do querido namorado era traficante de armas ilegais e alegou que era você quem disse.

— E acreditou naquela vadia? — A faca que ele jogou fez um pequeno machucado em minha bochecha que antes havia batido. E pensei que realmente ele era capaz de fazer qualquer coisa.

— É melhor não falar assim da nora dos outros, delinguentesinho — Ele virou-se de costas. — Saiam! Eu quero conversar a sós com ele, até porque ele não vai conseguir sair dali mesmo — Nesse momento eu entendi o que deveria fazer, ele estava procurando algo em uma pequena caixa em cima de um tipo de carrinho de ferro a frente dele.

Nunca pensei que isso daria certo, e com certeza se fizesse isso iria me foder mais tarde, mas tentar sair daquele lugar era meu principal objetivo. E com certeza se eu conseguisse dar o fora dali, eu daria um jeito naquela vadia.

Virei meu rosto para a direita e tentei pegar a faca com a boca, com o intuito também de fazer o mínimo de barulho possível. Quando consegui retira-la da madeira da cadeira que estava assentado, poderia dar certo ou não jogá-la para trás para tentar pega-la com a mão, e se caísse no chão...

— Sabe... — Ele começou a falar, gelei, além de estar ameaçando virar novamente, tinha algo nas mãos, uma seringa, quando Nathaniel disse que ele afastava as pessoas, era deste jeito? — Eu o vi com meu filho uma noite dessas... — Joguei a faca para trás e quase havia escorregado de minhas mãos, mas meus dedos foram eficientes, mesmo os cortando fundo, fiz um gesto mesmo que "cego" por não conseguir vê-la, distingui o cabo da parte cortante e a segurei, começando a cortar as cordas — Você o ama? — Ele falava mais calmo, por que essa pergunta em uma hora como essa? Meu coração acelerou, mas era agora que tinha que estar certo dos meus sentimentos? Respirei fundo e a resposta simplesmente saiu, sem excitação, nem medo do que viria a seguir.

— Eu o amo — Ele baixou sua mão e deixou a seringa em uma bandeja de alumínio, seu rosto não mostrava resquícios de sentimentos, mas eu estava certo no que dizia para ele.

— Mesmo que você saia vivo dessa, eu nunca vou deixar você chegar perto dele, nunca vou aceitar isso, mesmo que eu morra — Socou a mesa fazendo as ferramentas nela pularem e ecoarem seu barulho pelo galpão.

Então guarde o que eu vou te falar seu velho, eu nunca vou deixar você machucá-lo novamente, mesmo que eu morra por isso — Era um conflito, seus olhos não deixaram os meus, era como se estivesse prestes a sair fogo dos olhos daquele homem, mas eu não sentia o medo que deveria.

Em um ato ligeiro, soltei minhas mãos, mas estava fingindo ainda estar com elas amarradas. Francis pegou novamente a seringa em suas mãos, dando leves batidas com seus dedos e esguichando um pouco do liquido amarelo que residia dentro. Ele se aproximava, mas a cada passo eu pensava em uma forma de nocautear-lo e fugir dali.

A agulha se aproximava de meu pescoço enquanto ele segurava meu queixo. Em um ato pensado, mas que pensava que não iria dar certo, segurei seu braço e dei-lhe uma rasteira o fazendo cair, tentei correr mas estava tonto, talvez fosse a pancada que havia levado em minha cabeça, isso deu tempo para ele segurar minha canela, ofegante, sentou-se em cima de mim e forçava a seringa contra meu pescoço mas minhas mãos segurava seu braço, porém não por muito tempo.

Impulsionei meu abdômen o jogando por cima de mim o que o fez rolar pelo chão de cimento liso, eu havia levantado e percebi que ele estava imóvel, era uma oportunidade para acabar com isso de uma vez por todas, mas eu não era um assassino. O portão de ferro se abriu, acabaria aqui, não tem como eu correr se nem ao menos eu conseguia me levantar direito.

— Castiel?! — A voz preocupada e ofegante do garoto que eu disse amar enchera o galpão. Era como se fosse uma força que tentava me fazer levantar, mesmo cambaleante tentei pôr-me de pé, com esforço, sorri como se ele fosse um anjo parado ali, o suor molhava seu cabelo que colava em seu rosto desesperado.

Mas em pouco tempo, senti algo perfurar meu pescoço injetando algo, vi o sorriso do pai de Nathaniel se abrir em minha frente, mas logo atrás o menino de cabelos dourados gritar algo, mas eu já não ouvia mais, estava tudo inaudível, era como se tudo fosse acabasse ali, sem poder tocá-lo ou ou sentir seus lábios novamente , estava tão distante, como se tudo voltasse novamente para o começo. Não tinha mais controle do meu corpo que simplesmente caiu no chão gelado, não apaguei, não antes de eu ver os olhos envoltos em ódio de Nathaniel, fora quando eu já não via mais nada... Fora quando minha visão imergiu em completa escuridão.

Dias de Verão em Tempos de Inverno (Amor Doce) REDIGITAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora