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Salmos 23:4
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.

Alguns meses antes, África

Eu olhei mais uma vez para a foto dela, e sorri. Era inevitável não sorrir. Sua expressão me transmitia tanta calma quanto era possível e eu não poderia negar como ela era linda, meu Deus! Sua beleza era simples, mas me deixava tão cativado, que isso tudo só poderia ser coisa de Deus. Tinha que ser ideia dele, eu pensei.

- Obrigado por ter me dado ela, Deus. - falei, em um sussuro.

Coloquei a foto dentro da minha Bíblia novamente e guardei o livro dentro do travesseiro, junto com toda a esponja. Apesar do vilarejo onde estarmos ser um pouco mais seguro eu não poderia colocar todos em risco deixando minha Bíblia à mostra. Caso acontecesse seríamos levados à prisão por traição. Olhei ao redor da barraca onde, Vitória, Beto, a família dos nossos líderes e eu estávamos morando. Era pequena demais para sete pessoas, nos ajeitávamos como dava. O chão não tinha piso, e precisávamos ter sempre muito cuidado com as doenças, tudo era bem precário, mas à medida que economizávamos nos nossos gastos podíamos trazer mais comida, água e remédios para a população, além dos materiais para a sala de aula, que funcionava numa barraca perto da nossa.

- Benjamim, nós vamos sair agora. Estamos indo visitar a senhora Jana, ela está doente. - Paulo, nosso líder, avisou.

- Eu vou com vocês, o filho dela não está vindo à escola desde a semana passada.

- Então, vamos lá.

- Eu vou ficar cuidando do Beto e das crianças. Mas não demoro a ir pra enfermaria.  - Vitória disse, checando mais uma vez a temperatura dele.

Beto foi picado por um mosquito, e estava sentindo muitas dores e febre há duas semanas. Era uma situação difícil de aguentar, ele quase não dormia a noite, estávamos com medo de que acontecesse algo pior.

- Ele vai ficar bem. - Paulo garantiu observando minha preocupação. - E você vai gostar da notícia que tenho pra te dar.

- Sério? O que é? - perguntei, torcendo para que fosse o que eu estava pensando.

- Consegui fichas para que você vá até a cidade e fale com seus parentes, ou com a Julieta de quem você tanto falou... Você precisa ser cauteloso, não te daria essas fichas se não soubesse o quanto eles são importantes pra você.

- Eu sei, obrigada! Estou precisando muito falar com eles, principalmente com a Julie, ela estava passando por um momento complicado. A última vez que nos falamos ela estava indo para a audiência, não sei o que aconteceu...

- Tudo bem, você pode ir no próximo carro, vai sair daqui a umas duas horas.

- Ok, ainda dá tempo de ir com o senhor até a senhora Jana.

~~*~~

A casa da senhora Jana era repleta de símbolos de deuses africanos, mas apesar disso ela nos recebia em sua casa desde o dia que começamos a distribuir os alimentos e ensinar as crianças da comunidade. Era sempre bom manter um relacionamento amigável com pessoas influentes do vilarejo, elas facilitavam muito nossas ações. Estávamos sentindo que em breve ela conheceria Jesus.

Foi a filha dela que nos recebeu, e conversou conosco no dialeto local.

- Entrem, ela está detada.

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