Minha respiração se tornava mais ofegante, e a única possibilidade que eu via em meu futuro era a morte. Enquanto aquele homem avançava sobre meu corpo a única coisa que eu podia fazer era orar, pedir a Deus que me salvasse mais uma vez.
- Você é muito linda. – ele disse, tirando a mão do outro e querendo me beijar.
Eu desviei meu rosto e aproveitei para gritar.
- Socorro! Jean! – gritei, e esperei agressões mais fortes.
Fechei meus olhos esperando sentir mais dores, mas eles me largaram no chão, e antes que meu corpo encontrasse o piso frio senti braços me envolverem.
- O que é isso? – eles perguntavam entre si, e apontavam para quem estava me segurando. – Ele está brilhando! Ele está brilhando!
Eu não estava entendendo nada, mas havia mesmo uma luz na rua que antes era escura e os homens tampavam seus rostos, correndo para longe de mim. O que era isso? Eu não entendia, mas não precisava, eu estava segura, o que eu precisava mesmo era agradecer.
- Obrigada, meu Deus, obrigada! – falei, chorando de alívio.
Quando levantei meus olhos vi Jean me segurando de olhos fechados, movendo os lábios, ele estava orando.
- Por que o Senhor é o teu refúgio; o Altíssimo a tua habitação. Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará a tua tenda...
Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra. Porquanto tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei.
Jean estava falando em voz alta o Salmos 91, e parecia nem ter se dado conta do que havia acontecido.
- Jean. – chamei. – Eles foram embora. – eu disse, abraçando-o.
- Deus seja louvado! – ele falou, e suspirou bem fundo.
- Aconteceu alguma coisa aqui. – eu disse, me levantando com a ajuda dele. – Algo muito incrível. – falei, chorando de alegria. – Deus esteve aqui, Jean. Ele esteve aqui!
- Julie, Ele está aqui. Nunca esteve fora, ele está aqui, o nossa vigia não dorme. – ele sorriu, segurando meu rosto em suas mãos. – Vai ficar tudo bem.
- Eu sei, eu sei. – concordei, olhando para a noite estrelada, sorrindo para Deus.
~~*~~
Deus havia me salvado mais uma vez, e de uma forma sobrenatural. Ao invés de Jean, eles viram o brilho de Cristo. Quando penso nisso não consigo controlar o choro.
- Você quer ir pra casa? – ele perguntou.
- Eu quero ir pra igreja.
- Ok, vamos pegar um táxi.
Fomos para a calçada e em alguns minutos conseguimos um táxi vazio. Logo estávamos na igreja onde Jean tinha me levado no dia que o pai de Felipe foi para o hospital. O culto estava no meio, alguém estava cantando louvores no altar. A igreja inteira estava de mãos levantadas em adoração, encontramos lugares vazios e nos juntamos ao grupo.
Eu me sentei no banco e baixei minha cabeça cobrindo-a com as mãos.
- Obrigada, Jesus. Eu não merecia sua bondade, mas o Senhor me presenteou com mais que isso. Sem seu amora eu já não estaria mais aqui. Obrigada, obrigada. Como eu sou grata, a ti. O que eu posso fazer em agradecimento?
Senti Jean tocar meu braço.
- Julie, eles estão cantando sobre viver pra Deus, sobre ser morada do Espírito Santo. – ele disse.
- Vou viver pra ti, viver contigo. – repeti.
Me senti tão bem no culto, ainda que não entendesse tudo que era falado, que resolvi começar a vir todos os dias de culto, Jean se ofereceu para me buscar e levar de volta nos dias que a família de Aldo não viesse, eu aceitei, e agradeci a Deus por tê-lo colocado em meu caminho, Jean me ajudava muito.
~~*~~
Cheguei em casa exausta fisicamente, andamos muito a pé e de bike, mas apesar de só querer uma bom banho e uma longa noite de sono, eu me sentia tão alegre quanto era possível. Eu sentia forte o amor de Deus, e estava pronta para viver esse amor no dia a dia, mesmo sem os grandes sinais, como o que aconteceu naquela rua escura.
Passei pela cozinha e vi a tia Judite sentada na cadeira com o telefone na mão. Seus olhos estavam avermelhados e sua voz estava embargada.
- Você tem certeza que não há como isso ser revertido? Se você nos der mais algumas semanas eu tenho certeza que a situação vai voltar ao normal... Entendi. Ok, se essa é sua decisão final. Obrigada, para você também... – ela desligou o telefone, respirando fundo, e então olhou para mim. – Julie, você chegou. Eu já estava ficando preocupada.
- Eu estou bem, tia. E a senhora, como está?
- Ah, querida. Eu estou tentando não me preocupar de mais, com meu marido no hospital é quase impossível, mas agora todos terão que ser firmes porque muitas coisas vão mudar por aqui.
- Do que a senhora está falando tia?
- Julie, nós sempre tivemos um ótimo padrão de vida, mas ultimamente a empresa onde seu tio trabalha estava vendendo menos, mas tudo bem porque ele era um dos melhores funcionários... Agora com o AVC, eles tiveram a justificativa para demiti-lo, Felipe me deu a notícia quando trocamos de turno.
- Mas eles não podem fazer isso!
- Podem. Eles se comprometem em arcar com os custos do hospital, mas ele será desligado da empresa em breve, porque não vão esperar o tempo necessário pra que ele volte à trabalhar. Não sei como vamos nos sustentar...
Segurei sua mão e a abracei, eu não tinha nada material para lhe oferecer ajuda, mas oraria por nossa situação, e com certeza Deus nos ajudaria de alguma forma.
- Vai ficar tudo bem. Deus nunca vai nos abandonar.
Ela sorriu pra mim, e encostou sua cabeça em meu ombro.
- Eu acredito nisso, nós vivemos um tempo de bonança na presença dele, não é na hora da tempestade que vamos ser abandonados. É muito bom ter você conosco, Julie. Sua família foi um presente para nós.
- Eu digo o mesmo de vocês. – falei, sorrindo.
Depois de lanchar com Judite eu subi e tomei um banho para finalmente dormir e descansar pra o dia seguinte.
Vesti meu pijama e fiquei sentada na cama lendo algumas das poesias de Martha, eu já estava terminando seu livrinho de versos, e era muito bom. Tão verdadeiro. Nós precisávamos espalhar para o mundo.
- Por hoje chega. Boa noite, Jesus. Boa noite, Espírito Santo. Boa noite, Paizinho. Eu amo vocês. Amo mesmo.
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Enlace (COMPLETO)
SpiritualLivro 3 Quando as coisas pareciam estar se encaixando, uma notícia ruim faz tudo ficar bagunçado de novo. E em meio ao caos Julieta e Benjamim se veem separados. Com a prioridade errada, uma sucessão de acontecimentos e escolhas fazem com que os doi...