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Senti um frio na barriga tomar conta de mim quando cheguei na exposição. Muitos alunos mais experientes estavam apresentando suas obras, Jean não parecia nervoso ou deslocado só eu estava parecendo um peixe fora d'agua.

- Calma, Julie. – Jean disse, segurando minha mão.

- Eu preciso respirar ar puro. – falei, tirando sua mão da minha e indo em direção a porta de entrada fazendo o caminho inverso e alcançando a luz do dia.

Respirei bem fundo, mas ao invés de melhorar comecei a me sentir pior, não era apenas nervosismo, era como se algo muito ruim estivesse para acontecer. Me encostei perto da porta, tentando acalmar o que se agitava dentro de mim. Estava tudo bem. Tudo mesmo. Deus estava sendo tão bom! Eu não posso imaginar, ainda bem, nada tão grave que pudesse acontecer, disse para mim mesma.

- Julie. – senti a mão de Jean tocar meu ombro. – Nós precisamos ir, eu vou me apresentar e logo depois é você.

- Já?

- O professor conseguiu que fossemos um dos primeiros porque precisamos voltar pra casa ainda hoje, nosso voo está marcado para daqui a uma hora.

- Ah sim, é verdade. Vamos lá. – falei acompanhando-o até o seu estande.

Jean seria avaliado primeiro, e como estávamos em categorias diferentes nós dois tínhamos chance de ganhar, mas só saberíamos o resultado depois, já que sairíamos cedo para conseguir pegar o avião.

Os avaliadores se aproximaram do quadro dele, junto com eles algumas pessoas curiosas, provavelmente queriam saber o que diriam da obra de Jean. Eu não me preocupei com sua colocação, poderia haver quadros melhores, mas o de Jean estava incrível, e ele podia se orgulhar disso.

Isso pode servir pra mim também, pensei. Eu podia ficar tranquila quanto a avaliação deles sobre o meu trabalho, até porque apesar de estar na exposição buscando uma boa colocação, eu não pintava só por isso, eu pintava para mostrar o que o meu Jardineiro queria mostrar, aquilo que Ele me contava e queria que eu espalhasse para os outros. Eu não pintava só por mim...

~~*~~

Jean terminou sua apresentação e respondeu algumas perguntas sobre as técnicas que usou na composição do quadro e sua motivação para pintá-lo, com o burburinho das pessoas e o meu nervosismo não consegui ouvir suas respostas. Caminhei até o estande onde eu faria minha apresentação e dei uma última olhada no meu quadro, que já estava sendo observado por um homem bem vestido, com uma câmera na mão.

- O senhor gostou? - perguntei.

- É muito bom, gostaria de levar para o Brasil... O quadro e o artista.

- A artista, no caso. – o corrigi, gentilmente.

- Você conhece? – ele questionou, voltando-se para mim.

- Sou eu. – falei, sorrindo.

- Tão jovem... Apesar de ser uma exposição de jovens talentos. Parabéns. Como posso fazer para ter suas obras em uma das minhas exposições no Brasil?

Vibrei com a possibilidade de expor meus quadros no meu país.

- Bom, eu estarei de volta ao Brasil em alguns meses. No momento estou fazendo um curso de artes na França.

- Muito bom! Eu vou deixar meu cartão com você, quando estiver no Brasil não esqueça de me ligar. Quero realizar algum evento junto com você.

- Combinado, então. Eu vou te ligar.

- Ok, eu preciso ir agora, mas foi um prazer conhece-la senhorita...

- Julieta. E o senhor é?

- Normando Luís. – falou, estendendo a sua mão.

Eu apertei sua mão, e logo depois o perdi de vista. Guardei o seu cartão no bolso do casaco e ao ver um casal que usava crachá de avaliador se aproximar me posicionei no estande e procurei, discretamente, com um olhar sob o espaço Jean e o senhor Chevalier.

Comecei a minha apresentação, e enquanto falava perdi meu nervosismo, e pensei como gostaria de ter sempre essa oportunidade de visitar e me apresentar em exposições de arte.

- O que pensei ao pintar esse quadro foi numa relação de confiança...

Os avaliadores balançavam a cabeça algumas vezes e quando finalizei minha fala, explicando a minha tela que mostrava uma garota caindo, ou melhor, se lançando em um grande e profundo céu estrelado, a imagem não estava clara como se fosse uma foto, mas estava compreensível, e com certeza era possível perceber a emoção que eu gostaria de demonstrar.

Eles anotaram algumas coisas em um papel, e me fizeram perguntas que eu respondi rapidamente, e então me parabenizaram.

- Nós gostamos bastante da sua obra senhorita Monteiro. Ficamos felizes em ver tantos novos talentos surgindo. Parabéns, nós comunicaremos o resultado assim que o tivermos.

- Obrigada. – falei, e fui até Jean e o professor, que já estavam entre a plateia.

- Você foi muito bem, Julie! – Jean me parabenizou, me abraçando.

- Obrigada, Jean. Você também foi muito bem!

- Parabéns aos dois, tenho certeza que vamos ter resultados positivos. Agora nós precisamos ir, nosso voo não vai demorar pra sair. - o professor disse, agitando repetidamente o relógio em seu braço.

Pegamos um táxi e em meia hora estávamos no aeroporto. Fomos diretor fazer o check-in, compramos comida em uma das lanchonetes de lá e enquanto comíamos comentamos a qualidade dos quadros que vimos na exposição. Apesar de serem muito bons o senhor Chevalier tinha certeza do bom resultado, segundo ele nossas arte tinha algo de diferente. Olhei para Jean como quem dizia "Eu conto ou você conta? Haha"

A última chamada para o embarque soou e nós procuramos nossos assentos, que ficaram separados.

Desliguei meu celular e li alguns capítulos da Bíblia, até cochilei uma meia hora, mas logo Jean me chamou. O voo tinha terminado.  Eu tinha gostado de visitar Portugal, mas o que senti ao sair do avião foi como se a França já fosse o meu lar.

- Pronto. Estão entregues. - o professor falou. - Vão direto pra casa. Não vou acompanhar vocês porque minha filha está organizando uma festa de aniversário para minha esposa, eu não posso me atrasar.

- Tudo bem. - respondemos.

Jean e eu caminhamos para fora do aeroporto, iríamos rachar um táxi até em casa, mas quando chegamos do lado de fora encontramos Felipe à nossa espera.

- Felipe! - o cumprimentei com um abraço.

- Correu tudo bem lá? - ele quis saber.

- Tudo ótimo,  conheci a família de Jean. E apresentação foi ótima! E aqui está tudo bem? - perguntei ao perceber sua expressão nada animada.

- Aqui na França está tudo bem...

- Mas...?

- Nós recebemos uma notícia do Brasil.

Senti meu coração acelerar só de imaginar o que poderia ser. Pelo jeito de Felipe não era nada bom.

- A sua vó. Ela passou mal agora a pouco e infelizmente ela faleceu. - Felipe disse e eu senti Jean segurar meu ombro.

Talvez ele temesse a reação que eu poderia ter, mas eu não sabia como reagir. Senti minha garganta secar e um frio cortante tomar conta de mim.

Minha vozinha...

Deixei as lágrimas rolarem, mas o pior era o que eu estava sentindo por dentro e não conseguia expressar.

Minha vó morta e eu aqui tão longe.

- Eu preciso voltar para o Brasil! - falei.  - Eu preciso voltar!


~~*~~

OI AMORES! Tô viva! Se ainda estiverem por aqui quero que saibam que estou escrevendo a história e pretendo terminar acreditem! Mandem um sinal de vida, please!

Enlace (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora