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Os últimos dias depois do jantar foram tão movimentados que eu não tive tempo de me preocupar com Benjamim ou desobedecer Romeu e ir falar com ele. Claro que eu sentia sua falta, mas já estava na hora dele demonstrar que gostava de mim, então foquei minhas energias nos trabalhos da igreja, liderando a equipe de trabalho beneficente e acompanhando Nadine nos ensaios do grupo de dança, isso eu fazia só para me distrair já que eu não conseguia fazer um terço da coreografia que ela e Marcela ensinavam.

Quando acordei hoje fui direto ao escritório de Aldo, precisava fazer contato com a França para cancelar a minha matrícula permanentemente. Falaria diretamente com meu professor, para que ele cuidasse dessa burocracia. E também queria tentar falar com Jean, toda vez que eu relia sua carta me lembrava de que eu não o veria mais... Queria pelo menos conversar uma última vez.

Mandei um email para o professor e recebi sua resposta depois de alguns minutos confirmando que faria o cancelamento, além disso ele anexou o contato de uma galeria no Brasil que se interessou pela minha pintura. Antes do final de semana eu enviaria meu portfólio para eles.

— Ah, você está por aqui!— Aldo estranhou.

— Eu só vim tentar falar com o meu professor e com o Jean.

— O Jean... O Felipe ligou e pediu pra te avisar que ele se internou ontem... Eu anotei nesse bloquinho o telefone do hospital. Eu só vim buscar minha pasta e já estou saindo. Pode ficar à vontade.

— Obrigada por me avisar! — falei, remexendo nos papéis para encontrar o número. — Acei.

Coloquei o número no telefone de Aldo e esperei que alguém atendesse.

Alô? Julie?— uma voz baixa me respondeu.

— Jean! Como você sabia que era eu?

O identificador de chamadas... Você é minha única amiga internacional. — ele produziu um som parecido com uma risada, mas foi interrompido por uma tosse seca.

— Como você está Jean? Eu fiquei muito preocupada depois que li sua carta...

Eu estou bem, pode não parecer, mas eu estou. Como está tudo por aí?

— Bem melhor do que eu esperava! Mas eu não liguei para falar de mim, quero saber de você, do seu estado de saúde, queria que você tivesse me falado disso ainda na França.

Eu tenho os meus motivos, e não estou na França, estou num hospital de Portugal mais perto da minha família. Estava sentindo muita dor, por isso me internei.

— Sinto muito por isso... Queria que você tivesse mais tempo, eu sei que quando for embora vai para um lugar melhor, mas isso não me impede de sentir sua falta.

Eu sei, eu sei, mas se ajudar, eu já estou sentindo paz. Estou tentando não pensar nas coisas que não vou viver e focar na eternidade, a vida verdadeira.

Sorri com suas palavras, afinal de contas ele tinha razão, existe uma vida depois dessa, com Deus, no céu, na eternidade, se a gente lembrasse disso todo dia viveríamos de um jeito diferente, usaríamos melhor o nosso tempo, e Jean tinha feito isso.

— Vai ficar tudo bem, né?

Vai ficar tudo muito melhor, Julie.

— Você é um cara incrível, uma das melhores coisas da França foi te conhecer.

Pra mim também. Nunca esqueça do amor de Deus, compartilhe esse amor com todas as pessoas, eu quero te ver lá no Grande Dia!

— É claro que nós vamos nos ver!— falei sorrindo enquanto algumas lágrimas caiam.

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