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Na manhã do outro dia Felipe me levou para a escola e antes que eu chegasse na minha sala recebi uma mensagem de Benjamim.

Julie, as fotos que você pediu. Desculpe a demora, eles só abriram ontem, espero que ainda sirva.

Claro, serve sim. Muito obrigada, Ben.

Por nada, espero que dê tudo certo. <3

Desejo o mesmo para você :)

- Senhorita, Monteiro. – ouvi o professor Chevalier me chamar.

- Professor, bom dia!

- Você já tem as fotos para me mostrar?

- Eu tenho algumas. O senhor quer que eu envie para o seu e-mail?

- Não, eu prefiro que você mesma me mostre na minha sala hoje à tarde. É possível?

- Ah... Claro!

- Agora preciso achar o outro garoto, ele é da sua turma.

- Jean? – chutei, já que era o único que eu conhecia.

- Esse mesmo, ele tem o talento do avô. Quero vocês dois na minha sala às 13 horas.

- Ok, eu posso avisar a ele.

- Ótimo, até a tarde.

- Até.

~~*~~

Jean estava na sala, depois de me cumprimentar perguntou logo pelo pincel. Ele estava realmente interessado no objeto.

- Aqui está. – falei, abrindo o tecido em sua mesa.

Os olhos de Jean brilharam e eu entendi que qualquer que fosse a sua hipótese, estava certa.

- E então? – perguntei, já que ele parecia bem mais ocupado em apreciar o pincel do que me dar uma resposta concreta sobre o dono dele.

- Era o que eu pensava! É uma história estranha sobre como acontecem cristocidências nesse mundo pequeno.

- Me conta logo! – pedi, animada.

- A minha família inteira é artista, temos músicos, pintores, poetas, em fim... E uma parte de nós estudou nessa escola, incluindo o meu avô. Ele foi um artista importante de sua época, e viajou o mundo em exposições. E... – ele parou, sorrindo. – Meu avô sempre conta essa história, ele conheceu um garotinho que tinha um brilho no olhar, ele viu algo de diferente nele, e sentiu que deveria deixar que ele usasse seu pincel...

- Você lembra o nome do garoto? – questionei.

- Ed... Ed... Eu não lembro exatamente, só sei que esse pincel era muito importante pro vovô, o seu pai tinha mandado fazer especialmente pra ele, era seu primeiro pincel. Julie... Você não faz ideia da alegria que está trazendo para nós. Eu não estou falando do objeto, embora tenha valor sentimental, estou falando das notícias de seu pai, meu avô vai gostar de saber que ele foi um artista e que a ensinou a arte também.

- É... O meu pai foi o meu maior professor. E isso começou por causa do seu avô.

- Isso é incrível, não? Estarmos juntos aqui... Duas pessoas de tão longe que tem algo forte em comum.

- É... Eu jamais poderia imaginar algo assim. Meu pai e seu avô...

Nós rimos da estranheza e ao mesmo tempo da beleza da situação.

- Será que eu posso conhece-lo? – perguntei, animada.

- Bom, teremos que decidir muitas coisas, eu vou tentar organizar tudo para irmos o mais rápido possível. Ele vai gostar de te conhecer.

- Imagina eu! Seu avô, ainda que não saiba influenciou muito toda a minha vida.

- Ele nunca esqueceu do seu pai Julie, pode acreditar. – Jean disse.

- Eu queria que meu pai soubesse que eu vou conseguir fazer o que ele queria.

Jean sorriu, e apertou minha mão sobre o pincel.

- Você fará, e é isso que importa. Até lá, você pode ficar com ele. Era o que o meu avô ia querer.

~~*~~

Nós almoçamos num restaurante perto da escola e então ficamos esperando o professor na porta de sua sala, quando ele voltou do horário de almoço entramos com ele, curiosos para saber o que o senhor Chevalier queria falar com a gente.

- Boa tarde.

- Boa tarde, senhor Chevalier. – respondemos.

- É muito bom ter vocês aqui, trouxeram o que eu pedi?

Confirmamos e entregamos fotos impressas de nossas pinturas.

- Muito bom. – ele disse, e começou a analisar todos os detalhes de nossas obras, sem soltar nem uma palavra sequer.

Jean e eu nos entreolhamos sem saber o que o professor diria em seguida.

- São muito verdadeiros. Vocês dois tem um traço diferente, e sinceramente, estão indo muito bem, para além de qualquer técnica. Me digam, qual é o segredo? Não é uma pergunta retórica.

Olhei para Jean e sorrimos, nós sabíamos o segredo.

- Deus. – respondemos juntos.

O professor ficou nos encarando.

- Não era isso que eu esperava ouvir, mas... Cada um com suas excentricidades. – disse e sorriu para nós. – Eu tenho uma proposta para os dois.

Ele tirou papeis de dentro de uma gaveta e estendeu um para cada um.

- Nós temos o costume de ceder bolsas para novos talentos, e funciona da seguinte forma, cada professor tem uma determinada quantidade e pode escolher os seus melhores alunos para trabalharem em seus projetos. Eu gostaria de saber se seria do interesse de vocês participar do meu projeto, a bolsa tem um valor razoável, é apenas o incentivo, mas eu tenho muitos contatos, vou lançar vocês no cenário das artes.

- Eu aceito. – Jean falou, enquanto lia o termo de compromisso.

- Eu também aceito. Vai ser uma honra trabalhar com o senhor.

- Ótimo, vocês terão que estar aqui todos os dias, selecionei algumas exposições para participar, algumas aqui e uma em Portugal, daqui a um mês e meio.

- Mas já? – estranhei.

- Eu estou colocando minha mão no fogo por vocês, são muito jovens, mas tenho certeza que se sairão bem, o talento de vocês é singular.

- Eu agradeço a confiança. – Jean disse.

Eu me sentia muito animada, mas ao mesmo tempo receosa por assumir uma responsabilidade tão grande, mas ouvi dentro de mim que aquela bolsa e essas exposições seriam a minha chance de ajudar financeiramente a família de Aldo. E meu pai ficaria tão orgulhoso de mim...

Respirei fundo e me forcei a deixar de lado qualquer medo ou insegurança, essa bolsa era uma resposta de Deus às minhas orações, eu não deixaria passar por mim sem que eu ao menos tentasse dar o meu melhor. 

Enlace (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora