Senti sua falta ...

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Eu sempre soube que meu pai era um tremendo covarde, só nao imaginava o quanto.
Passei boa parte da minha adolescência esperando o grande momento de encontra-lo, só para dizer o quanto eu o desprezo e para falar na sua cara como ele foi um covarde miserável... Esperei muito mesmo por isso e agora ele me vem com uma carta?  Sinceramente ele me surpreendeu.
Uma carta serio? Isso nao é o bastante para conseguir perdao de ninguém, como posso saber se essas palavras sao mesmo sinceras?
Mas como esperar outra atitude de uma pessoa como ele.

Eu queria tanto poder dizer que odeio ele, gostaria ate mesmo de fingir que ele nunca existiu na minha vida, mas não dá!
Apesar de toda essa raiva que tenho dentro de mim, ela não chega a ser exatamente um ódio... Tudo o que sinto não passa de magoa, uma grande e acumulada magoa do meu pai.

Ele me abandonou, eu precisei dele e ele nao estava lá, quando eu senti minha vida se despedaçar em minhas mãos, ele nao estava la para me ajudar a juntas os cacos. E eu precisava tanto mesmo dele que ele nem sequer imagina.

Ele nao estava lá, não estava porque simplesmente nao aguentou aquela situação e foi embora. E eu aguentaria aquele fardo todo sozinha?
Será que ele pensou em mim um só segundo antes de partir?
Pensou em como seria difícil para uma adolescente cuidar da mae doente sozinha?
Ele não quis voltar quando minha vida estava uma completa bagunça.

E agora é simplesmente uma injustiça ele querer aparecer na minha vida novamente, depois de tudo o que eu passei, só agora ele teve coragem de entrar em contato comigo, agora que eu sou uma pessoa feliz, enfim tenho uma vida estavel, um casamento maravilhoso, minha mãe está ficando bem novamente, então agora talvez eu não precise mais dele na minha vida

-Amor está tudo bem aqui? - Bryan entra no quarto e me tira desses pensamentos ruins.

-Não, nada está bem... eu ate poderia mentir para você e dizer que depois dessa carta tudo esta bem novamente, mas não está... minha vida é uma bagunça tão grande! - amasso a carta com uma mão e a jogo para longe de mim.

A verdade é que estou mais chateada pelo fato do meu pai não ter vindo em nenhum momento desse tempo me ver, se ele me observava de longe todos esses anos o que custaria ele vir falar comigo, ate mesmo um abraço resolveria , mas ele não veio.

-Você pode me abraçar um pouco?  - Pergunto com os olhos marejados... Droga eu não queria chorar, não pelo meu pai.

-É claro anjo, não precisa nem pedir eu ja ia fazer isso mesmo.

Bryan me toma em seus braços, me abraça forte e com carinho, isso é tudo o que eu precisava no momento. Ele vem sendo meu lugar preferido em todo o mundo, pois só aqui eu me sinto verdadeiramente amada. Ele tem tudo do que eu preciso.

-Vai ficar tudo bem, eu estou aqui com você. - Ele sussurra em meu ouvido, e eu tenho certeza que vai ficar mesmo tudo bem, com ele por perto tudo fica maravilhosamente bem.


- Eu te amo tanto mesmo. -Sussurro de volta.


-Tambem amo você amor...


***


Acordo por volta das 7 da manhã, e por incrivel que pareça Bryan ainda está dormindo ao meu lado, o ato chega a ser uma coisa linda de se ver.
Desde o casamento eu venho acordando com ele do meu lado, e isso ainda me impressiona muito.
Pois todas as outras vezes em que dormimos juntos ele acordava primeiro ou saia bem cedo para resolver seus assuntos. Eu sentia falta da sua companhia de manhã.

Passo a mão pelo seu rosto sereno e acaricio de leve sua pele... ele está dormindo tão tranquilamente que dá até dó de acorda-lo.

Rolo para o outro lado da cama pronta para sair do quarto e caminhar um pouco pela praça que tem perto do hotel. Mas no momento em que vou descer da cama os braços de Bryan me cercam e me impedem de sair do seu lado.

-Fica aqui comigo. - Ele pede com a voz rouca de sono.

Olho para seu rosto, e vejo que ele não  abriu os olhos ainda para me olhar. Será que ele não está sonhando?

-Eu não posso sair do seu lado ne, mas eu nunca acordei com você do meu lado na cama, o que tem a dizer sobre isso? Tento perguntar séria para ver se ele acorda de vez e me olha nos olhos, mas minha voz saiu bem mais curiosa do que séria.

Enfim ele abriu os olhos como imaginei que faria, seu olhar é confuso e também sonolento. E acabo me arrependendo de te-lo acordado.

-Eu nunca me achei digno. - Ele responde por fim.

-Como?

-Eu nao me achava digno de acordar ao seu lado, por isso levantava todas as manhãs bem cedo e saia para o trabalho, ou as vezes apenas corria um pouco.

- E porque pensava isso? Como poderia não ser digno de mim? - Pergunto alterada.

-Pelo simples fato de pensar que fui o causador do nosso término, por mais que no começo eu não soubesse seus motivos para ter ido embora, sempre tive a sensação de ter sido eu o motivo da sua fuga. Então quando voltamos a ficar juntos eu simplesmente não podia permanecer na cama e esperar você acordar, tinha o pensamento louco de que você olharia para mim ao seu lado e se arrependeria de ter me dado uma nova chance, mesmo quando você me contou toda a verdade, eu ainda tinha medo, simplesmente nao conseguia... Eu não podia deixar você ir embora outra vez.

-E o que mudou agora?

-Agora você é minha, aquele medo estúpido de antes já não existe, pois se você me amou ao ponto de deixar que eu coloca-se essa aliança bem aqui. - Ele pega minha mão que contem o anel de noivado e a beija com carinho depois volta a me olhar novamente.
-Entao quer dizer que você deseja também passar o resto da vida ao meu lado, e a partir daquele dia em diante jurei passar todas as manhãs, de todos os dias da nossa vida ao seu lado, não só na cama, mas em todos os momentos que precisar estarei lá para você.


-Só tenho uma coisa à dizer. - Sussurro emocionada por suas palavras.

-O que amor?

-Quer casar comigo denovo?

Ele sorri com a minha proposta e eu me vejo refletindo seu sorriso, pois é tao contagiante

-Claro que sim! Caso quantas vezes for preciso.

***

O resto da manhã se arrastou com nós dois deitados na cama, trocando carícias, conversas e ate passamos um tempo sem falar e nem fazer nada, apenas aproveitando a companhia um do outro.

Já era depois do meio dia quando descemos para o restaurante do hotel almoçar. O combinado seria que iríamos embora agora pela tarde, mas antes de ir gostaria de ver minha mae só mais um pouco, para me certificar de que ela ficaria mesmo bem.
Bryan concordou em passar na clínica quando estivéssemos a caminho do aeroporto, assim não ia precisar mudar o horário do vôo.

E aqui estou mais uma vez na frente dos portões da clínica, mas dessa vez não estou nervosa igual antes, estou bem tranquila pois eu sei que tudo dará certo.

Assim que entramos o mesmo rapaz de ontem nos recebe com um sorriso no rosto.

-Sabia que voltariam. - Ele nos cumprimenta cordiamente, seu jeito é bem simpático e extrovertido. Pelo menos minha mae esta em boas mãos.

Digo que gostaria de fazer uma visita, dou o nome da paciente e ele vai verificar se podemos ir ve-la. Minutos depois ele volta para nos dar a resposta.

-Ela esta no jardim, só que já tem uma pessoa com ela, chegou a poucos minutos... se nao tiver problemas para vocês dividirem seu tempo com a outra visita, podem descer ate o jardim e fiquem a vontade.

Ele sai e nos deixa sozinhos e pensativos. Quem mais alem de nós viria visita-lá?

-Vamos descer ate lá, só quero dar um abraço nela antes de partir.

Pego a mão do meu marido e descemos juntos ate o jardim.

Caminhamos tranquilamente pelo local, parecendo até estarmos acostumado com aquele ambiente.

Não foi dificil encontrar minha mãe, ela estava novamente sentada no balanço, mas estava sozinha. Nos aproximamos dela o suficiente para ela nos ver e vir ao nosso encontro.

-Falaram que você tinha visita, mas não vejo ninguém... - Questiono minha mãe.

Eu sei que deveria ter começado dizendo um oi ou perguntando como ela esta hoje, mas a curiosidade sempre foi um defeito meu.

-Ele foi ao banheiro, ja deve estar voltando. - Ela responde com tranquilidade.

-Ele quem mãe? 

Ela permanece quieta sem me responder, apenas me encara fixamente. Será que ela está em seu dia ruim? Espero do fundo do coração que não.

-Ele quem? - Pergunto novamente.

-Eu filha.

Uma voz masculina responde atras de mim.
Sem ao menos me virar eu ja sei quem esta ali, e cada célula do meu corpo congela naquele instante, me sinto completamente paralisada.
Depois de alguns segundos eu enfim me viro para encarar a imagem da pessoa que imaginei nunca mais ver na vida.

Meu pai parece bem mais velho do que eu me lembrava. E não porque de fato ele esteja velho, pois tanto meu pai como minha mae me tiveram bem jovens. Ele deve ter agora menos de 45 anos, embora sua aparência seja de alguém com bem mais de 50.

-O que você esta fazendo aqui? - Pergunto ríspida e olho de relance para o meu marido. Ele nao pode ter feito isso comigo.

-Eu nao fiz nada, nao dessa vez. - Bryan se defende antes mesmo que o acuse de algo.

-Seu marido esta falando a verdade, eu nao fazia ideia que você viria hoje. -Diz a pessoa que deveria chamar de pai.

-Ok, só vim ver como ela esta, mas como você ja esta fazendo companhia a ela eu volto outro dia.

O encaro por um momento, só para confirmar que minhas esperanças de ter uma explicação da parte dele, não passava de meras esperanças frustradas. Covarde.

Sua expressão é inquieta como se ele quisesse dizer algo, mas nao diz nada. Vamos, pelo menos um pedido de desculpas, diga alguma coisa! Qualquer coisa...
Suspiro decepcionada e começo dar meus primeiros passos para longe dele.

-Espera... Eu gostaria de conversar com voce...Se voce quiser é claro.

Suas palavras são totalmente inseguras e sem jeito, e penso quantas vezes fui uma pessoa assim, insegura com medo. Hoje a unica coisa que tenho absoluta certeza é que eu nao quero voltar a ser assim, e foi com esse pesamento que resolvi ficar e escultar o que ele tem a dizer.

-Bom que tal a gente dar uma caminhada enquanto eles conversão?  - Propõe Bryan a minha mãe.

Eu o encaro preocupada, não sei se sou capaz de ficar sozinha com meu pai eu nem sei o que ele quer conversar. Mas meu marido apenas me lança aquele olhar de quem diz "Você consegue" e sai caminhando pelo jardim com minha mae ao seu lado.

-Então o que quer falar? - Questiono.

Posso até parecer corajosa e confiante por fora, mas só eu sei o quanto esta me custando permanecer firme na frente dele... Só Deus sabe em quantos pedacinhos esta meu coração nesse momento.
A imagem do homem à minha frente se resume em todos os momentos complicados da minha vida, todas as dificuldades que passei foi por culpa dele... Mas ele é a causa de eu ser forte hoje, foi meu incentivo a nunca ser alguem como ele.

-Eu sei que demorei um pouco para esse reencontro, talvez ate seja tarde demais... Porém eu nao poderia viver o resto da minha vida com essa dúvida, uma duvida que me corroe dia e noite sem sessar. Espero que tenha lido a minha carta, pois nela eu tentei explicar o máximo meus motivos. Não pense que estava querendo me justificar, pois o que eu fiz nao haverá nunca justificativa plausível para me defender, eu só quis que você entendesse um pouco meu lado nessa história... Mesmo que esse lado seja o de um covarde, ainda sim acho que mesmo a pior das pessoas merecem perdão, ou ate mesmo uma segunda chance. Eu tentei, confesso que tentei seguir em frente e esquecer tudo isso, tentei deixar a vida de voces duas em paz, e nunca te atormentar com a minha presença, mas nao pude. Há um espaço em meu coração que é destinado a você e sua mãe, esse lugar jamais será capaz de ser preenchido por nada, nem ninguem.

As lagrimas teimavam em ficar sobre a superfície dos meus olhos, minha vista começou a ficar um pouco embaçada, mas eu insistia em manter as lágrimas contidas. Eu nao vou chorar. Era tudo o que conseguia pensar nesse momento.

- Voce se lembra quando era pequena, e sempre que eu chegava do trabalho você estava toda arrumada, impecável, todas as vezes... Assim que saia da empresa ate o caminho de casa, eu só conseguia pensar em qual roupa maluca voce colocaria dessa vez para me impressionar...
Um certo dia você me perguntou se algum dia teria um irmãozinho ou irmãzinha, e eu disse que talvez teria. Então você perguntou com a cara mais preocupada do mundo se o outro irmão iria roubar o seu lugar, e eu me lembro de ter prometido que jamais deixaria isso acontecer, que iria amar igual os dois, mas seu lugar nunca seria ocupado... E ele nao foi filha, seu lugar continua intacto em meu coração, assim como o lugar da sua mãe, e jamais esses lugares serão preenchidos... E eu peço, na verdade imploro para que se ai dentro de você houver pelo menos um pouco daquela Clara, a Clara que me achava o melhor pai do mundo, um herói... Me desculpe filha, eu só preciso disso, do seu perdão, se nao quiser me ver nunca mais eu entendo tambem! Mas me perdoe se minha escolha errada afetou tanto você, eu sei que fui o culpado de muitas coisas, e tenho certeza que toda essa situação deve ser bem ruim para você. Eu fui um covarde no passado, errei mais ainda em ter esperado todo esse tempo, mas eu nao quero ser mais um homem covarde, eu quero minha filha de volta, quero reconquistar sua confiança e seu carinho.

-Então diz alguma coisa filha, qualquer coisa...


Durante anos eu imaginei esse reencontro, sonhei diversaa vezes e de muitas maneiras com o jeito que seria a volta do meu pai. Porém essa superou todas as expectativas, eu me imaginava brigando com ele, xingando, ou ate mesmo ignorando tudo e qualquer coisa que ele viesse a dizer.
Eu jamais imaginei o tamanho do arrependimento do meu pai, e também nunca pensei que ele fosse ser tao sincero, ou que se parecesse tanto com meu antigo pai... A verdade é que eu idealizei meu pai como um monstro depois de sua partida, eu havia me esquecido de como ele era para mim antes de ir embora.
Olhando assim para ele, seu semblante esta tao abatido, parace com alguém que nao dorme a muito tempo, e eu entendo o que é isso, eu mesma ja passei por isso. Se chama culpa, e ela é o pior sentimento de todos, pois te atormenta por onde for.


- Filha? - Ele questiona aflito.

-Voce tem o meu perdão. - É tudo o que eu digo. Gostaria de poder dizer mais, porém o caroço em minha garganta impede que eu diga qualquer outra coisa.

Embora nada mais precisasse ser dito, eu falei o que ele queria ouvir e também tudo o que eu precisava dizer. Agora ambos podemos seguir com nossas vidas, sem culpa, sem ressentimentos.
Era para ser assim, um momento de superação apenas, nada mais que isso, só que poucos segundos depois sem que eu seguer percebesse e pega totalmente de surpresa, meu pai tinha os braços ao meu redor. Seu abraco era apertado e um pouco desajeitado, mas era confortavel como só um abraço de pai pode ser... Eu só precisava desse abraço para senti os restantes dos caquinhos do meu coração se colaram novamente. Eu finalmente estava completa.

-Me desculpe filha, eu senti tanto a sua falta. - Ele diz ainda abraçado a mim.

-Também senti a sua falta pai...

E o mais incrivel de tudo é que, o que eu disse era muito sincero, eu senti falta do meu pai, falta daquele pai que me protegia como se fosse seu tesouro mais precioso. E posso ver muito do antigo pai com o de agora na minha frente. E caramba como ele me fez falta, falta do seu carinho, da sua atenção, e até mesmo do seu amor paterno.

Senti falta da minha família...

Genteeeee como o final ficou muito grande eu dividi ele em duas partes, ok?
O restante tambem ja esta disponível!!!
Boa leitura *-*

Apaixonada por um CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora