Memórias do passado...

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A vida é mesmo tão frágil, tão simples e pequena, porem cometemos o terrível erro de acreditar que ela durará um longo tempo. O fato é que só nos damos conta disso, quando estamos perto de perde-la. Agora vejo que passei tanto tempo reclamando e me martirizando por tudo o que eu passei e por tudo o que eu nunca tive, que me esqueci totalmente do prazer que é viver, a bênção que recebia por apenas conseguir respirar todos os dias.

Conversando comigo mesma, revi todos os momentos felizes e infelizes da minha vida, percebi que fui muito ingrata com a minha vida, eu nem ao menos me dei a chance de tentar realmente ser feliz. Troquei todos os infinitos dias de plena alegria e diversão que podia ter, por muitos dias amargurados e com medo de viver.

Neste momento sei que não morri, mas não posso dizer que estou viva também, me encontro em um profundo mar de escuridão, onde só existe eu e minha consciência. Estou a par de tudo o que acontece ao meu redor, por exemplo sei que estou em algum hospital, também sei que várias pessoas entraram em meu quarto. Algumas apenas choravam, outras tentavam conversar comigo, mesmo eu não respondendo absolutamente nada. Eu gostava mais das visitas que conversavam comigo, pois de alguma forma eu me sentia presente na conversa, as vezes até fantasiava resposta, e me imaginava abrindo os olhos e conversando normalmente com essas pessoas.

Só que eu sei que isso não vai acontecer, pelo menos não tão cedo. Mesmo estando inconsciente, ouvi uma enfermeira conversando com alguém que estava no meu quarto, e dissera que meu quadro era delicado, que bati muito forte com a cabeça na ponta de algum objeto cortante. O que causou um traumatismo craniano, aparentemente eu estou bem de saúde, meus órgãos funcionam perfeitamente. O único problema é na cabeça, parece que ouve uma lesão no cérebro eles já fizeram tudo ao seu alcance, agora o que resta é esperar. E eu estou esperando, só não faço ideia de quanto tempo isso faz. Mas continuarei esperando.

**

-Filha vá mais de vagar, você pode se machucar! Grita minha mãe correndo atrás da minha bicicleta.

Eu aprendi faz dois dias à andar de bicicleta e eu me sinto incrível, como se nada pudesse me deter. Gosto de fingir que sou um pássaro, as vezes solto as duas mãos do guidão e abro os braços largamente e imagino que estou voando para longe. Esses momentos são os que minha mãe mais surta. Ela ainda me trata como um bebê, como se eu ainda tivesse apenas 5 anos, mas eu já fiz 6 anos, mês passado!

Papai disse que sou muito esperta para a minha idade e que ele se sente orgulho por eu ser tão inteligente.

-Clara vamos pra casa, já está tarde seu pai daqui a pouco vai chegar do trabalho.

-Só mais um pouco mamãe. Choramingo dando a volta com a bicicleta para chegar onde ela está.

-Você não gostaria de estar em casa para receber o papai depois do serviço? Pergunta passando as mãos nos meus cabelos rebeldes causados pelo vento.

-Eu quero sim! Digo saltando da bicicleta.

Estávamos em uma praça perto de casa, então resolvi descer da bicicleta e ir o percurso todo ao lado da minha mãe.

-Te amo mamãe. Murmuro ao chegarmos na porta de casa.

Pelo visto meu pai ainda não chegou, o que me da um tempo extra para tomar banho e ficar bem bonita para quando ele chegar em casa poder me elogiar como de costume.

-Eu também te amo anjinho. Ela diz me dando um abraço caloroso.

Entramos na sala de casa e minha mãe me pede para sentar no sofá, ela parece bem séria, o que é estranho, mamãe é sempre muito alegre.

-Quero que preste atenção no que vou dizer, o que a mamãe falar hoje para você promete que vai tentar lembrar sempre disso.

Eu apenas aceno com a cabeça, estou começando a ficar agitada no sofá, mamãe nunca teve essa expressão preocupada no rosto. Pelo menos não perto de mim...

-Primeiramente quero que saiba que sempre vou te amar, mesmo se a situação ficar difícil, eu ainda assim vou te amar...Anjinho eu gostaria que soubesse que se algum dia nossas vidas tomarem rumos diferentes, ou saírem do nosso controle, eu espero que você tome a iniciativa de ser feliz. Não se prenda muito as coisas tristes que te fará sofrer, apenas seja o mais feliz que conseguir. Hoje eu sou plenamente feliz, tenho a família que sempre sonhei, não poderia pedir mais nada à Deus, porque ele me deu exatamente tudo o que eu sempre quis, você e seu pai são uma dádiva na minha vida... Mas a mamãe não está bem de saúde, e não vai poder cuidar de você por muito tempo como eu gostaria que fosse, um dia você terá que viver por conta própria e eu espero que se torne essa garota forte e segura que estou te ensinando a ser, e mesmo em um futuro distante se eu não puder estar lá para ver suas conquista, desejo do fundo do coração que sinta orgulho de si própria, e seja feliz naquilo que decidir fazer. Portanto não importa onde estivermos ou o que aconteça com nós duas, quero que grave nessa sua cabecinha linda que eu te amo incondicionalmente, você é e sempre será meu melhor presente.

Vejo que os olhos da minha mãe se enchem de lágrimas e instintivamente eu pulo em seu braço, consolando ela.

-Você está doente mãe? O que você tem? Pergunto segurando as minhas lágrimas. Mamãe quer que eu seja uma garota forte então eu vou ser.

-Não é nada muito grave filha, mas não sei por quanto tempo continuará assim... daqui uns anos pode piorar. Mas enquanto esse dia não chegar eu quero aproveita-los o máximo com você.

-Quando esse dia chegar... Eu vou cuidar de você! Digo com o rosto enterrado em seu pescoço, não quero que ela veja que estou quase chorando.

-Não anjinho, quando esse dia chegar, eu quero que viva sua vida... promete que vai fazer isso por mim? Ela pergunta com a voz embargada.

-Prometo mamãe. Digo em tom firme dessa vez, mesmo sendo pequena ainda, eu sei que promessas deveram ser cumpridas, e eu vou fazer com que assim seja... para que minha mae possa se orgulhar de mim.

-Cadê as duas mulheres da minha vida. Anuncia Papai ao entrar pela porta da sala.

Solto o abraço da minha mãe e corro em sua direção.

-Papai você chegou! Grito antes de pular em seu colo.

Ele me pega e me joga pro alto, depois me gira no meio da sala e isso me faz ficar um pouco mais alegre, nao totalmente porque ainda estou tentando entender tudo que minha mae disse.

Todos os dias meu pai faz isso quando chega do serviço que já virou até rotina. Mamãe da risada da gente e se aproxima de nós, quando papai enfim para de me girar.

-Sentiu Minha falta princesa? Ele pergunta feliz.

-Claro que senti papai... mas não deu tempo de me arrumar antes de você chegar. Digo fazendo biquinho.

-Não tem problema filha, de qualquer jeito você sempre será a princesa do papai...

**

De onde vem esse fleches de lembranças, eu não sei. Mas já tive vários e a maioria sempre relatava dias felizes da minha infância. Eu já não sei se é mesmo real, se isso tudo um dia aconteceu mesmo, ou se estou apenas fantasiando. Só sei que gostaria que esses dias tivessem continuado por muito mais tempo, a Clara daquela época era com certeza mais feliz, do que a Clara da adolescência, e muitíssimo mais feliz do que a Clara adulta. Tenho plena convicção que se estivesse acordada estaria com um sorriso enorme no rosto. Meus pais me amavam e me amavam muito!

Eu só gostaria de me lembrar quando foi que tudo começou a dar tão errado nas nossas vidas. Eu preciso saber o motivo pelo qual meu pai nos abandonou, já que ele de fato nos amava de verdade.

Apreciem a leitura, se tudo der certo ainda hoje público outro capítulo!!! Estou ansiosa pelo fim desse livro *-*
E não posso deixar de agradecer a vocês por terem me acompanhado até aqui. Obrigada de verdade vocês são demais *---*

Apaixonada por um CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora