Estará tudo perdido?

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- Onde você estava? - Pergunta Bryan, assim que entro na sala.

Não consigo esconder a surpresa ao ve-lo ali, bem na minha frente.

Pensei que ele não fosse voltar hoje para a empresa, gostaria muito que ele tivesse tirado o dia para refletir sobre seus atos. Mas parece que isso não aconteceu!
Tudo o que eu menos queria nesse momento é ter outra discussão como aquela, então respondo calmamente sua pergunta.

- Fui almoçar. - Digo de forma monótona e vou caminhando direto para a minha mesa, ele me segue a passos determinados.

- Que horas você saiu pro almoço? Estou aqui há mais de uma hora! - Pergunta de forma brusca.

- Eu sai mais cedo para almoçar, não tinha nenhum serviço e não queria ficar aqui te esperando igual a uma idiota.

Ele suspira frustado e senta na cadeira do outro lado da mesa onde.

Eu não me incomodo mais com a sua cara zangada em minha direção. Não vou aguentar mais seus desaforos e peço a Deus para ele não questionar o café que eu não fiz, porque juro que não vou consegui me controlar.

- Hum, então você acha que pode fazer o que quiser aqui? Sair a hora que quiser? Eu sou o chefe aqui, não você!

- Que seja! - Digo sem me importar, o que só o faz ficar mais nervoso. Começo a olhar para as minhas unhas e descascar o esmalte que ainda resta nelas, tudo para não olhar para ele.

- Que seja, Clara? Sério isso? Se eu quiser eu posso te demitir sabia? E você foi almoçar a onde? E com quem?

Ele parece ao mesmo tempo com raiva e surpreso, como se não acreditasse que eu não estou dando a mínima para as suas ameaças. E eu não estou mesmo.

- Olha se quiser me demitir vá em frente eu não me importo, já cansei dessas suas ameaças ridículas. Tudo pra você é motivo de tacar na minha cara que a empresa é sua, então faz o que quiser. Há e eu fui almoçar com um amigo, o qual se importa com os meus sentimentos e me escuta, e não é um imbecil como você.

Ele dá um murro na mesa e faz um barulho bem alto, eu dou um pulo da cadeira surpresa com o seu movimento.

- Você foi almoçar com quem? Não me fala que é com aquele merda que eu vi no dia do seu aniversário? E se ele é tão melhor que eu, porque não ficou com ele porra! - Ele se levanta e vem se aproximando de mim com uma expressão predadora nos olhos.

Há um brilho intenso neles, algo fora do comum, como se ele não conseguisse se controlar.

Empurro a cadeira um pouco para trás recuando de seu acesso de raiva, tenho certeza que meus olhos então cheios de lágrimas, mas de jeito nenhum vou chorar na frente dele. Não dá pra acreditar que todo esse transtorno é só por causa de um simples almoço, o que há de mais nisso?

- Olha é melhor eu ir para casa, não quero mais continuar nessa briga sem sentido, você está agindo igual a um louco e não foi esse Bryan que eu conheci e me apaixonei. Na verdade eu nem sequer compreendo o que quer com todas essas brigas! Eu não vou ficar isolada do mundo só porque estamos namorando, isso nem pensar! Amo a minha liberdade e se tiver que escolher entre ela e você, com toda certeza do mundo que a escolherei

Ele está de pé na minha frente, mas se encolhe um pouco com as minhas palavras.
Olho para seu rosto e por um momento, só por um momento penso que vai pedir desculpas ou pelo menos repensar em sua forma de agir comigo, só que nada disso acontece, ele volta a mesma postura de antes, inacessível e prepotente diante de mim.

- Se quiser pode ir para casa, eu não me importo. Mas se for não precisa voltar amanhã, nem nunca. Se pisar o pé pra fora desse prédio estará demitida e poderá ficar com a sua liberdade tão amada.

Ele dá uma última olhada para mim como se certificando de que suas palavras perfuraram o fundo da minha alma. E foi isso que aconteceu, elas tocam em cheio o meu coração, ferindo de novo meus sentimentos, que enfim estavam cicatrizando. Então é isso? Ele não vai nem tenta acertar as coisas? Vai me deixar ir e pronto?

Não consigo piscar, fico observando enquanto ele vira as costas para mim e sai andando em direção à sua sala, me deixando sozinha com um milhão de pensamentos borbulhando dentro de mim.

Mas o que mais se passa pela minha cabeça é " Que filho da puta "

Continuo ali, sentada sem reação por alguns minutos, tentando entender como um dia pode começar tão bem e acabar um fiasco total.

Acho que só continuo aqui, porque um pensamento louco, de que o Bryan vai entrar na minha sala a qualquer momento, dizer que sente muito e que não queria dizer nada daquilo. E eu como uma bela idiota iria perdoar. Mas pior do que ser uma besta e querer perdoar, é ficar aqui parada fantasiando coisas que não vão acontecer.

Me levanto relutante da cadeira, sentindo que meu mundo está se despedaçando aos poucos, o vazio que havia ido embora está voltando para a minha vida novamente, ele me deixou ir... dessa vez não foi por escolha minha.

E saber que não significo tanto assim na vida dele me deixa arrasada, eu faria tudo por ele, pelo nosso relacionamento, e ele não quis nem tentar resolver as coisas comigo.

Mas não posso ficar aqui mendigando o amor de ninguém, não vou ficar fracassada nessa sala esperando para ter um segundo de sua atenção. Se ele quer que eu vá embora, então eu vou! Mas não voltarei, disso eu tenho certeza...

Dou uma última olhada no lugar, que estranhamente nunca senti que era a minha sala, nunca me senti confortável aqui nem com os funcionários, sempre me senti uma estranha mesmo, não será tão triste ir embora afinal.
Só me lembro de estar triste, pois lá no fundo sinto um pontada insistente no meu coração, no meu amor que foi desprezado, essa dor insiste ser permanente na minha vida, parece que a única constante que permanece comigo é a dor.

De repente olho para a minha agenda e uma coisa me vem à mente, não vou deixar isso mal acabado, tenho que o deixar ciente da minha escolha.

Se antes eu tinha pavor de dizer adeus e terminar ciclos da vida. Hoje em dia eu não consigo seguir em frente, enquanto não sentir que encerrei algo que me deixou mal.

Pego então minha agenda e começo a escrever um bilhete/carta, não sei ao certo como descreve-lo

Sinceramente não sei o que fiz de tão errado para te deixar assim, mas tudo o que eu queria é que enfim fôssemos felizes. Achei que depois de tanto tempo e de tanto desentendimento, dessa vez ficaríamos juntos, mas percebi que não é isso o que você quer...
Bom não consigo mais ficar aqui e ser tratada com desprezo, eu tenho sentimentos, os quais você fez questão de magoar.
Mas tudo bem, tudo bem mesmo, eu só quero que você fique ciente da minha escolha, você me pediu para decidir e eu decido não sofrer, eu decido ser livre mas livre da dor e de tudo que possa me fazer mal.
Percebi que não tenho a mesma importância para você e te deixo também ser livre do peso que eu acho que estou sendo.
A parti de hoje, saio não só da sua empresa, mas também da sua vida. Como você mesmo disse, não voltarei nem amanhã nem nunca. Apesar de ser muito difícil eu vou tentar seguir em frente sem você, adeus Bryan.



Editado 05/04/22

Apaixonada por um CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora