Double

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Há algumas semanas eu havia descoberto que seria pai. É claro que logo fomos atrás de fazer todos os exames. Elena vinha tendo enjoos matinais e cuidar dela estava sendo a minha distração.

Era incrível como a vida tinha tendência de balancear e as coisas sempre aconteciam ao mesmo tempo. Primeiro uma lesão que me deixaria fora por quase toda a temporada, e logo depois a minha namorada grávida.

Ter tempo de poder levá-la a todos os exames e preparar a nossa casa para esperar aquelas crianças que chegariam em poucos meses. Parecíamos que tínhamos tempo, mas eu sabia que logo ela não conseguiria fazer tudo que queria e eu precisava da minha mulher para tomar algumas decisões.

Lembrava do dia do primeiro ultra som de nosso bebê e eu estava ansioso. Não havia dormido a noite só pensando se ele estaria bem. Ou ela, apesar de preferir um menininho para jogar futebol comigo, também poderia levar uma garotinha com o número 6 nas costas para o Signal Iduna Park.

Quando contamos para nossos pais eles começaram a agradecer o Lars. Segundo eles, havia sido a bendita viagem para Fiji que havia resultado nessa gravidez. Bem, sabemos muito bem o que aconteceu naquele chalé, quem seria eu para dizer que não.

Mas a surpresa maior foi descobrir que não teríamos apenas um bebê. A manhã do início de março já mostrava sinais da primavera que se aproximava. O sol batia na janela do carro aquecendo o suficiente para não precisar de ligar o aquecedor. Fomos de carro até a clínica onde Elena faria o exame. Eu estava sem jogar a mais de um mês e provavelmente ficaria mais um de molho, o que me dava muito tempo para acompanhar o início da gravidez

Elena já estava nervosa com a expectativa de cuidar de uma criança e quando fomos fazer o ultrassom e o médico soltou que seriam dois, fiquei com medo dela passar mal.

Preenchemos as fichas com todos os dados e percebi olhares de alguns pacientes que aguardavam para serem atendidos. Felizmente, ninguém veio nos incomodar.

A sala parecia exatamente igual ao do dia que descobrimos que teríamos gêmeos. Naquela consulta poderíamos descobrir o sexo dos bebês.

Quando era mais novo eu dizia que quando fosse ter filhos, esperaria que eles nascessem para descobrir o sexo. Porém Elena estava ansiosa para descobrir.

Depois de alguns dias de discussões sobre o assunto, chegamos a conclusão que pediríamos para Lars anotar em uma folha de papel e não contaria para nenhum de nós. Se por um acaso descobrissemos, estava certo. Se não, deixariamos para o dia do nascimento.

E era por isso que o chato do meu irmão estava sentado ao meu lado na sala de espera.

- Demora assim mesmo?

- Nós somos os próximos Lars.

- Quero logo saber se vou ter dois sobrinhos, duas sobrinhas, ou um de cada. E eu ainda não acredito que vocês não querem saber.

- Vocês e muita gente! Essas criaturas estão crescendo dentro de mim e esse idiota não me deixa saber nem se vão ser meninos ou meninas. - Elena disse cutucando meu braço. Comecei a pensar se de fato havia sido uma boa ideia convidar o Lars de todas as pessoas que poderiam guardar esse segredo.

Estava vendo a hora que meu irmão iria convencer Elena a pedir para o médico contar para ela. Ou ele mesmo iria sorrateiramente passar o papel para minha mulher.

Estes dois ficavam impossíveis juntos. Sempre gostei como eles se davam bem, mas quando resolviam se juntar contra mim eu precisava me cuidar.

- Está bem crianças, dentro de alguns meses todo mundo vai saber. Ok?

Meine | Sven BenderOnde histórias criam vida. Descubra agora