Capítulo 24

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3 dias depois

Luiza acorda desnorteada, sua cabeça doía muito e ao se lembrar do que passou sente seu coração disparar, pensando que ainda estava naquele lugar, ainda não havia aberto os olhos e relutou para não os abrir, pelo contrário, os cerrou com toda a força que podia, tentando acordar, tentando fazer com que tudo virasse algo de sua imaginação.

Luiza fica alguns segundos assim, com a respiração muito forte, mas ao se lembrar que Sophie não estava com ela, se incentivou a ter forças, criou coragem e aos poucos foi abrindo os olhos.

Notou que estava em uma sala branca e calma.

"Graças a Deus foi só um sonho ruim..." - ela pensou, estava louca para reencontrar Felipe e contar esse sonho maluco, se preocupou até mesmo com Cadu, mas ela percebeu não estava em sua casa, um temor tomou conta de seu corpo. "Onde eu estou?" - se perguntava, então tentou se sentar na cama que e sentiu muita dor, dor no seu lado esquerdo, exatamente nas costelas que havia fraturado no sonho e só então percebeu que tinha uma cânula de oxigênio ligada à suas narinas, arrancou aquilo rapidamente, tinha um catéter levando soro a sua veia. Luiza entrou em um estado de transe, relembrando e revivendo tudo o que aconteceu.

- Sophie... - chorou baixinho e sentiu uma mão pegando a sua, seu reflexo foi tomar um susto e imediatamente puxar a mão. Tudo doía. Luiza olha para o lado e vê Cadu que a olhava com muita ternura nos olhos, seus lábios estavam comprimidos e ele se equilibrava com a ajuda da moleta. Ele ainda estava abatido, havia alguns roxos espalhados pelo seu rosto e pontos em uma de suas sobrancelhas.

Ele estava péssimo, mas nada comprado ao estado em que ele se encontrava antes, estava até mesmo mais corado.

- O que você faz aqui? Onde está Sophie? - Luiza pergunta na defensiva, sentindo os cantos de sua boca arderem a cada palavra.

- Calma, estão todos ali fora. Eu só vim para te ver um pouco. Aliás, fazem três dias desde que...

- Três dias? - ela leva a mão à boca - Então tudo acabou? Graças a Deus!

- É... podemos dizer que sim.

- Você disse todos, todos quem?

- Sua família. Eu ainda guardava o contato deles, escondido, é claro. Não foi difícil localiza-los.

- Meu pai está aí fora? - Luiza fala sentindo seus olhos pesarem pelas lágrimas que começam a surgir.

- Sim. Hã... Vou manda-los entrar.

Cadu virou para sair do quarto, e Luiza percebeu como era difícil para ele se locomover, ele fazia um esforço tremendo a cada passo, como se suas pernas pesassem muito mais que seu corpo inteiro. Luiza o observava atenta a cada músculo que se movia. Sentiu uma necessidade de falar com ele, de conversar com esse Cadu, totalmente diferente do antigo. Queria falar com esse homem, queria abraça-lo.

Quando ele alcançou a maçaneta, ela o chamou:

- Cadu?

Ele apenas a olhou, com tristeza no olhar.

- Quando eles saírem, volte aqui. A gente precisa conversar sobre algumas coisas.

Cadu assentiu e saiu do quarto.

Poucos minutos após a porta ser fechada por Cadu, ela foi aberta novamente por Dolores, e assim que ela viu a filha, abriu o seu maior e mais terno sorriso de mãe. Isso foi reconfortante para Luiza. E agarrada em sua mão, estava Sophie, com um olhar curioso e muito travesso, como sempre.

Luiza demorou uns cinco segundos para decidir com quem ela falaria primeiro, mas quando olhou mais detalhadamente para Sophie, com um vestido rodado, vermelho e de bolinhas brancas, com as meias brancas que Dolores havia dado e sapatilhas pretas, seu cabelo preso num rabo alto e com as pontas com cachos bem moldados pelas mãos da avó, não conteve a emoção, nem podia acreditar que nada de ruim havia acontecido com ela. Mas podia esperar para abraçar aquela criança linda que foi o motivo de sua felicidade, aquela criança de olhos obscuros e olhar sapeca, a criança que veio por acaso, mas que não existe acaso nenhum em sua existência. A criança que ela amou, cuidou e protegeu, a quem Luiza poderia dar facilmente a sua vida, o único ser humano que foi capaz de tirar Luiza de um sofrimento terrível, que foi capaz de fazê-la feliz pelo simples fato de existir e estar sempre ali por perto.

Luiza chorou muito, com um pouco de dificuldade conseguiu colocar a cama em uma posição que elevava mais seu tronco. Quase sentada, pediu para Dolores colocar Sophie em seu colo.

Dolores com um olhar desconfiado, e medo de machucar a própria filha, colocou a pequena criança com uma perna de cada lado no colo de Luiza.

Luiza a abraçou e chorou ainda mais. Prometeu para si mesma que jamais permitiria que algo ruim acontecesse com sua filha.

- Eu não me perdoaria se alguma coisa tivesse acontecido com você! - Luiza diz segurando o queixo da pequena - Agora tudo acabou. Você está bem, eu estou bem... tudo vai continuar assim, e jamais voltaremos a nos separar!

- Tá bom mamãe. Eu senti saudade da senhora!

- Mamãe também sentiu muita falta de você, meu amor!

- Mamãe? O que aconteceu com você? - Sophie pergunta, como sempre muito curiosa, mas com preocupação. Ela olhava para cada machucado de sua mãe e seus olhinhos miúdos se encheram de lágrimas - Me disseram que você foi viajar, mas você voltou dodói...

- Calma meu bem, já já a mamãe te explica!

- Vem, querida, - diz Dolores tirando Sophie do colo de Luiza - Vai lá brincar com seu papai... - Dolores saiu porta a fora com Sophie nos braços e voltou com Otávio a seu lado. Faziam muitos anos desde a última vez que Luiza e seu pai haviam se visto.

Luiza sentiu seu canal lacrimal arder, pela enchurrada de lágrimas que estavam por descer.

- Minha filha! - Otávio diz com voz extremamente embargada, a abraça da forma que consegue e faz carinho na cabeça da filha, como quando ela era uma criança - Jamais imaginei que a próxima vez que eu fosse te ver, seria após você quase morrer... - Otávio chora - Espero que possa me perdoar filha. Me perdoar por ser esse pai tão ausente e péssimo e...

- Não! Pai... - Luiza fez sinal de negação - Nunca mais diga uma coisa como essa... eu, pai!

- Filha eu não estive aqui nem para ver o nascimento de sua filha... mas não foi por que eu não me importava, eu me importo, muito! Mas eu precisava trabalhar, quero dar a sua mãe a vida que ela nunca teve. Quis dar a você um bom estudo, um bom lugar para morar. Eu quis que você, minha caçulinha, eu quis te ver com uma vida melhor que a minha. Não quis que você fosse uma ninguém como eu! - Otávio estava muito emocionado, e Luiza chorava compulsivamente.

- Pai...

- Filha, posso dizer que sou o cara mais sortudo e rico do mundo. Eu tenho uma esposa atenciosa, carinhosa e que cuidou muito bem das nossas crianças - ele olha para Dolores, que sorria emocionada também - E sou pai das mulheres mais lindas de todo o planeta!

- Eu te amo! -Luiza puxa seu pai para mais um abraço apertado - Eu senti tanto a sua falta!

- Eu também, minha criança! - Otávio fala, e Luiza pensa em como já cresceu e que hoje era uma mulher madura, perto dos trinta anos, lembrou-se de como se sentia incomodada quando era chamada de criança, sempre querendo crescer, querendo virar adulta, sem saber que ser adulta nem sempre seria difícil, ou pior, sem saber que quando crescesse sentiria muita falta de ser criança. Mesmo com tudo isso, Luiza a tempos em sua vida não se sentia protegida e segura, como nos braços de seu pai.

Luiza aos poucos foi se permitindo voltar ao passado, reviver os poucos e ótimos momentos vividos com sua família, as páscoas, os natais, os novos anos que se iniciavam... Luiza lembrou-se de todas as datas comemorativas que Otávio saía do seu serviço longe e pesado apenas para ficar com sua família, para abraçar suas três mulheres, para se sentir em casa. As mãos fortemente calejadas pelo cabo de enxadas, foices,  por fazer cercas e por todos os serviços pesados que ele fazia a tantos anos para não deixar que na mesa de sua família pudesse faltar alimento.

Luiza o amava tanto quanto amava sua mãe, que se achegou ao abraco, os apertou e ficaram os três naquele devaneio de lembranças, e recordações boas por um bom tempo.

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Feliz Páscoa
Gente, alguém gostaria de um bônus do p.o.v. do Felipe antes de morrer?
Estou seriamente pensando nisto.
Se vocês quiserem, comentem bastante e votem, chamem os amigos para ler esta história, me ajudem na divulgação, dependendo do que vocês acharem, eu começo a escrever.

Beijos amo vocês!

Para Sempre, Amor (revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora