Capítulo 10

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Quarta-feira, mais um plantão começava. Às 6h da manhã, lá estava Luiza vestindo seu jaleco para mais uma longa e difícil jornada, a de salvar vidas.

Se era cansativo? Era. Se encontrava pessoas com mal humor? Encontrava. Muitas. Mas Luiza simplesmente amava aquilo. Amava a sensação de vitoria quando alguém chegava à beira da morte, e que ela conseguia salvar àquela vida, aquilo era e sempre foi seu grande sonho. Obviamente, haviam aqueles casos em que por mais que tentasse, a vida se esvaía. E nesses momentos Luiza precisava entrar em alguma ala mais vazia, sentar e respirar fundo. Às vezes, até chorava. Chorava pelos amigos, pela familia, pela mãe daquele ser humano, que devia ter sido alguém na vida. Poderia ter sido um pai, uma mãe. Poderia ter servido de alicerce para sustentar alguém de pé, e isso certamente doeria. Certamente, se o alicerce cair, o resto todo desmorona. Quando alguém morre, certamente deixa um grande vazio na vida de alguém...

As pessoas diziam "logo você se acostuma", mas a verdade era que ela era muito humana para isso, para ver alguém morrendo na sua frente, ela nunca se acostumaria a isso. Tudo na vida tem um preço, e nem sempre é barato.

E assim iam se passando os dias na vida de Luiza.

Havia refletido tanto na noite anterior que nem se quer pegara no sono, sua cabeça latejava.

Decidiu que uma mudança radical aconteceria em sua vida, mudaria algo que jamais pensou que pudesse mudar, e não voltaria atrás.

Laura acabara se sentindo mal, angustiada com toda essa história de seu pai, e isso havia ferido a alma de Luiza, havia dilacerado seu coração.

Luiza ligou para o Médico responsável pelo caso de Cadu e descobriu que sua alta seria na sexta. Ótimo, logo acabaria seu martírio. Já a partir daquela quarta, não visitaria mais a ele, nem deixaria que Laurinha continuasse com suas perguntas em sua relação. Desligaria o canal Carlos Eduardo, de uma forma ou de outra.

Aquele dia não passou, suas 24 horas pareciam ter se tornado 72, quando pensava que havia se passado uma hora, haviam se passado poucos minutos, os segundos se passavam vagarosamente e ela estava irritada com isso, queria mesmo era ir embora e sentir o cheirinho doce de sua menina. Quando em fim foi pegar Laura na casa de Sílvia, a pequena já veio logo perguntando se seu papai estava bem.

- Mamãezinha, você viu meu papai hoje? - a menina correu para abraça-la com um largo sorrido esperançoso que derretia o coração de sua mãe.

Luiza mudou de assunto, se abaixa na altura da menina contando outras histórias para ela.

- Luiza, a gente pode conversar? - diz Sílvia adentrando à sala. Luiza ergue os olhos e sente um grande peso nas costas por estar brigada com sua melhor amiga, a quem considerava uma irmã, assentiu.

As duas caminharam em silêncio pelo corredor da pequena casa, até a cozinha. Aquele lugar era tão familiar para Luiza, passara muitos finais de semana ali, cozinhando ou inventando novos pratos com a amiga, isso doía.

- Quer chá?

- Acho que sim. Obrigada. - Luiza diz e fica reparando na amiga colocar o exato tanto de chá que ela sempre tomava, uma colher de açúcar, como sempre. As duas se conheciam tão bem, que as vezes faziam algum jogo entre si para ver quem conhecia melhor a quem, ninguém nunca ganhou.

- Olha, me perdoe por aquele dia. Sei que não tenho o direito de interferir em sua vida, nem na da Laurinha. Só quero que entenda que eu fico triste em saber que sua filha sonha em ter um pai, e que se ela faz alguma pergunta com relação a ele, você se esquiva e ela fica triste. Mas eu não tenho nada com isso. Me perdoe.

- Ah, Sílvia... - Luiza se levanta e vai ao encontro da amiga para abraça-la - Claro que eu te perdoo. Eu já não aguentava mais ficar sem falar com você. Me perdoe também. Eu fui uma estúpida, mesmo. É que eu fico irada com certas coisas... Não parece certo aquele infeliz aparecer depois de mais de quatro anos e querer seu lugar ao lado da filha, isso não desce em minha garganta...

Para Sempre, Amor (revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora