Rapariga Dragão

Capítulo 10

Apesar de ele ser um bom professor, a aula dele era uma seca extrema e ninguém conseguia aguentar até ao fim sem bocejar ou esfregar os olhos de cansaço. Mas, maioria do pessoal, tinha um medo terrível do prefeito Klaus e não se atreviam sequer a abrir a boca para falar. Era como se a sala de aula fosse um regime militar.

Acabei então por adormecer na aula devido à seca.

'Acorda!! Não acredito que adormeceste na minha aula!!' ouvi uma voz masculina a gritar de raiva.

Os meus sonhos foram completamente interrompidos pela voz e acordei sobressaltada e confusa.

'O-Onde estou...?' perguntei meia a dormir ainda.

Esfreguei os meus olhos e retirei as mechas rosa de cabelo da frente dos meus olhos. Klaus estava mesmo à minha frente, com uma expressão furiosa estampada na cara.

'Estás na minha aula!!' respondeu ele com irritação extrema.

O meu corpo estremeceu de medo e encolhi os ombros em defesa.

'P-Peço desculpa...! Foi sem querer...' tentei explicar mas fora em vão. Ele nem me podia ver à frente, senão explodia de raiva e mandava a escola toda pelos ares.

A culpa era minha e eu tinha tomado a atitude errada, mas aquele soninho foi tão bom no meio de tanto cansaço infernal da escola.

'*suspiro* Depois das aulas nós iremos conversar.' respondeu ele com um tom sério mas com um pouco de preocupação.

Eu concordei e acenei com a cabeça. Não podia fazer mais nada, o leite já estava derramado.

Como pude me deixar cair assim tão facilmente?! Era o meu 3° dia de aulas, e já estava a arranjar problemas... Como eu haveria de sequer passar de ano se continuasse assim...?

A aula acabou entretanto e todo o pessoal estava a arrumar o seu material. Eu apenas estava ali, sentada, à espera do pior.

'Ei, tens a certeza que ficarás bem? O meu irmão não é muito doce a falar...' Elias avisou-me enquanto tentava-me acalmar, mas sinceramente estava a tornar tudo pior.

'Eu sei mas a culpa foi minha, né? Acho que a pior coisa que me pode esperar é lavar as casas de banho.' respondi enquanto me ria para tentar suavizar o clima tenso.

'Okay...boa sorte.' ele arrumou as suas coisas e foi embora rapidamente.

'Senta-te ali.' ordenou o prefeito Klaus com um tom de voz sério mas calmo.

Ele estava a beber chá de uma forma muito digna, ele pousou o seu livro de romance e olhou para mim enquanto punha os óculos na cara.

Eu levantei-me rapidamente e fui sentar-me onde ele tinha me pedido. Estava mesmo em frente à secretária do professor.

O suor escorria-me pela testa e as minhas pernas estavam a tremer.

É agora que eu morro! É agora! Nosso senhor Avé Maria Dragão, me ajude a sair daqui viva!

Repeti essas palavras vezes sem conta na minha cabeça como se fosse um mantra, estava assustada e aterrada com o que vinha por aí.

'Calma, eu não te vou matar. Apenas quero conversar contigo sobre uma nova aluna que virá para cá.' o prefeito Klaus olhou-me nos olhos seriamente e deu um pequeno gole no seu chá.

'Aluna nova? O quê? M-Mas eu não ia levar com os pés?' perguntei confusa.

Suspirei imediatamente de alívio e senti o meu corpo a relaxar.

As minhas preces tinham sido ouvidas!

'Não penses que te irás safar daquilo de à bocado mas falar da aluna está em primeiro lugar agora.' respondeu ele um pouco incomodado.

Eu tinha sido muito burra para acreditar que simplesmente não iria levar castigo. Era vergonhoso agora olhar para Klaus nos olhos.

'B-Bom, quem é essa tal de aluna?' perguntei enquanto tentava desviar o assunto. 

'Em primeiro lugar, eu estou a falar contigo porque talvez tu irás te dar bem com ela e ela talvez não te rejeite. Ela é uma rapariga muito difícil de conviver e acompanhar, terás que ter cuidado também.' explicou ele enquanto dava pequenos goles no seu chá.

Quanto mais ele falava, com mais medo dessa rapariga eu ficava. Parecia que eu teria que ser amiga de um bode aquático, aqueles que dão coices e são muito difíceis de domar. Aqueles animais eram um pesadelo!

'Credo, ela é assim tão...selvagem?' perguntei assustada.

Talvez ela até fosse líder de uma gangue e me matasse a tiro ao alvo!

'Sim, um pouco. E como tu és...assim, talvez te desses bem com ela.' respondeu ele vagamente.

Assim? Assim como?

Queria muito perguntar-lhe isso, mas tinha medo que ele ficasse irritado e que me atirasse pela janela. Por isso achei melhor ficar calada e quieta.

'Okay...hm, qual é o nome dela?' perguntei curiosa.

'Jaylla Kendo Garumon. Ela chegará aproximadamente daqui a duas semanas.' respondeu ele com uma expressão calma enquanto bebia o seu chá.

Acenei com a cabeça e levantei-me da cadeira.

Esta era a minha oportunidade para fugir ao castigo de à bocado!

'Okay, obrigada. Uma boa tarde ao senhor prefeito Klaus!' disse alegre enquanto ia em direção à porta.

'Espera. Achas que eu me esqueci da tua punição?' perguntou ele com um tom de voz meio rude.

Os meus pés pararam de imediato no chão e eu preparei-me para o pior.

'Claro que eu não me esqueci... O que eu vou ter que fazer então?' perguntei assustada.

'Irás para as aulas de recuperação com um dos teus colegas, Guy Brighton. Ele não está na tua turma, mas às vezes terão aula juntos. Ele não é muito bom com magia e está sempre encalhado nas aulas de recuperação. Mas ele é um bom rapaz e irá te ajudar.' explicou o prefeito Klaus enquanto arrumava au suas coisas e pegava no seu romance.

'Okay, onde o posso encontrar?' perguntei curiosa.

Afinal o castigo não era assim tão mau, apenas teria mais aulas e estaria mais ocupada a estudar e chegaria mais tarde ao dormitório e teria menos tempo para dormir. Também teria mais trabalhos​ de casa e tinha quase a certeza que o professor Schuyler iria dar a aula.

Agora que via as coisas nessa visão, realmente era uma punição horrível. Ficar com menos tempo para dormir era um horror!

'Maioria das vezes ele está no pátio a jogar Ladilz com os alunos. Até que é fácil encontrá-lo. Agora vai embora, eu preciso tratar de papelada.' explicou ele cansado enquanto saía da sala.

Eu arrumei as minhas coisas e saí apressadamente em seguida.

'Que demora, hein?' vi o Vincent na porta à minha espera.

Algo me dizia que ele estava muito farto de esperar por alguém, e esse alguém era eu.

'Estavas à minha espera?' perguntei um pouco envergonhada, as minhas bochechas começaram a corar.

'Sim, estava. Eu não tenho muitos amigos aqui, então achei que podia me colar a ti!' respondeu ele com um tom alegre.

Eu ri-me com as suas palavras e nós dois começámos a andar pelo corredor fora.