Me sento em uma cadeira próxima ao leito de Natasha, os olhos fixos nela, sentindo o peso esmagador da culpa e do medo. O som do monitor cardíaco é o único ruído que quebra o silêncio da sala. Natasha está tão quieta e pálida, e não posso deixar de pensar que tudo isso poderia ter sido evitado se eu não tivesse sido tão covarde, tão... egoísta.
A mão dela está fria na minha, e tento transferir um pouco do calor que ainda me resta para ela. O Dr. Leblanc me observa, seus olhos compreensivos, mas sérios, como se dissesse que sabe que, em parte, essa dor também é minha. Ele finalmente quebra o silêncio, a voz suave, mas cheia de um peso que só aumenta a minha culpa.
— Senhor Rodgers, lamento ter que informar — ele começa, a voz baixa.
Minhas mãos vão ao rosto, pressionando os olhos, tentando segurar a onda de desespero que cresce no meu peito. Dois meses de distância, de luta interna, de fingir que o que aconteceu entre nós naquela noite não foi nada... Quando, na verdade, foi tudo. Não foi apenas sexo, foi mais do que eu poderia admitir para mim mesmo. Fizemos amor. E foi ali que eu soube que a amava, mas, em vez de me aproximar, fugi. Afastei-me, mergulhando em trabalho e em desculpas esfarrapadas para não estar com ela. Era mais fácil negar do que enfrentar esse sentimento.
E agora estou aqui, ao lado dela, quando tudo desmoronou.
— A senhorita Willdarth deve acordar em breve, se quiser ficar ao lado dela — o doutor sugere com uma calma que me desconcerta, como se já tivesse testemunhado incontáveis momentos como este. Faço um leve aceno e sigo para o quarto. Sento-me ao lado dela e seguro a mão de Natasha, a dor em meu peito aumentando, como se houvesse uma faca cravada ali.
Finalmente, depois de um longo silêncio, murmuro para mim mesmo:
— Isso não pode estar acontecendo...
— Eu sinto muito, senhor Rodgers — Dr. Leblanc responde, a voz tranquila, mas cheia de pesar.
Sinto o peso das lágrimas se formando, e minha garganta está apertada.
— Como vou contar isso a ela? — minha voz é quase um sussurro, perdida no vazio da sala.
— Sei que a notícia é devastadora, mas fizemos tudo o que podíamos — ele diz, e a culpa só aumenta, apertando meu peito com uma força que quase me tira o ar. Aperto a mão de Natasha e, num impulso de desespero, murmuro:
— Me desculpe, Natasha... — a voz treme e meus olhos se enchem de lágrimas. — Eu só queria distrair aquela mulher para conseguir chamar os seguranças sem que ela percebesse. Meu Deus, eu sou um monstro... Você nunca vai me perdoar... Não queria que você tivesse ouvido tudo aquilo...
E então, sinto um leve movimento. Natasha está apertando minha mão de volta. Meu coração quase para. Eu me inclino sobre ela, o rosto cheio de esperança.
— Natasha!? Doutor, ela apertou a minha mão! Natasha, abre os olhos pra mim, por favor — digo, com a voz trêmula de emoção.
O doutor se aproxima e assente, dizendo com um sorriso leve:
— Ela deve estar acordando, senhor Rodgers.
Natasha começa a mover os lábios, quase como se estivesse tentando falar. Ouço um som fraco, que parece "Be...". Ela tenta de novo, com esforço: — Bes...
Minha garganta se fecha; meu coração aperta com uma mistura de dor e culpa.
— Natasha, deixa eu ver esses olhos azuis, querida... Por favor, só mais uma vez.
O doutor faz uma observação casual, talvez até sem pensar, mas que me atinge como uma facada:
— O instinto materno nunca falha.
Merda. Meu corpo se enrijece e lanço um olhar de advertência para ele. Ele logo se dá conta do que disse e parece arrependido.
— Não diga nada, doutor Leblanc... — falo com os dentes cerrados, tentando conter a raiva e o desespero que me dominam.
— O... o... que? — Natasha sussurra, seu rosto confuso.
Seguro sua mão com mais força, tentando passar qualquer conforto que eu possa.
— Calma, meu amor. Vai ficar tudo bem.
Natasha luta para falar mais, mas sua voz sai rouca e frágil. Ela pede água. O doutor sai para buscar um copo d'água, e eu aproveito o momento para apertar sua mão.
— Por favor, me perdoa — murmuro. — Eu prometo ser um bom pai, mas... por favor, me perdoa — repito, quase em desespero, sentindo o peso da culpa como se fosse uma âncora me puxando para o fundo do oceano.
Quando o doutor volta, ajuda Natasha a beber. Ela segura o copo com as mãos trêmulas e bebe devagar, depois fecha os olhos, como se estivesse tentando reunir forças. Aos poucos, suas pálpebras começam a se abrir, e, finalmente, vejo seus olhos azuis — aqueles mesmos olhos que sempre me deixaram sem palavras. Eles se abrem e fecham algumas vezes, até que, finalmente, ficam fixos em mim. Ela parece confusa, mas depois seu rosto se ilumina em reconhecimento.
— Damien... — ela murmura, e o som do meu nome em sua voz me atinge como uma onda de alívio e dor.
Antes que eu consiga responder, o doutor começa a explicar seu estado de saúde, sua voz calma, mas firme.
— A senhorita passou por um estresse muito intenso, o que impactou a gravidez. Infelizmente, um dos fetos... não sobreviveu.
Natasha leva a mão ao ventre, o olhar vazio, enquanto processa a informação. Lágrimas começam a brotar em seus olhos, e eu me aproximo, sem saber o que fazer ou o que dizer, apenas querendo ser uma presença ao seu lado.
— Eu sinto tanto — sussurro, a minha própria voz embargada. Seguro a mão dela com firmeza, apertando-a como se pudesse transferir algum tipo de consolo, como se isso pudesse apagar o erro que cometi. — Me perdoa. Foi culpa minha, eu sei... Eu não queria...
As palavras se perdem quando ela olha para mim, com aqueles olhos tão tristes e profundos. Ela não diz nada, mas, em vez de afastar minha mão, puxa-me para perto dela, entrelaçando os dedos em minha nuca e trazendo meu rosto para junto do seu. Sem pensar, inclino-me, e nossos lábios se encontram. É um beijo cheio de mágoa e lágrimas, mas também de um carinho que tenta curar, mesmo sem saber como.
No fundo, ouço o toque do celular dela, mas ignoro. O som de uma música preenche o quarto, e as palavras parecem refletir tudo o que estou sentindo naquele momento:
"Lembra daquelas paredes que construí? Bem, elas estão desmoronando... Elas nem tentaram ficar em pé... Nem fizeram um som."
A cada palavra da música, sinto como se as barreiras que construí para me proteger estivessem caindo, como se cada parede se desfizesse diante da força do que sinto por ela. Puxo Natasha para mais perto, tentando transmitir o que as palavras não conseguem, e ela responde com a mesma intensidade.
As palavras da música continuam, e cada uma delas parece falar diretamente com meu coração.
"É como se eu estivesse despertando... Todas as regras que eu tinha, você está quebrando. É o risco que estou correndo... Eu nunca vou te calar."
Quando a música para, separo nossos lábios e olho para ela. Lágrimas ainda escorrem dos seus olhos, e a culpa volta a me esmagar. Mas, antes que possa pensar, as palavras saem, sinceras, sem qualquer hesitação.
— Eu te amo — digo, a voz cheia de emoção.
É verdade. Eu a amo, e percebo que nunca mais quero deixá-la.
(...)
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Natasha: Quente como o fogo
ChickLit"Alguns me chamam de ousada, outros de provocante. Mas eu? Eu sou quente como o fogo" Natasha Willdarth é uma mulher de espírito livre e ardente, determinada a fazer o que deseja e a viver intensamente. Mesmo sendo herdeira de uma fortuna, ela decid...