Capítulo 1 | Trevor

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Já tem um tempo que o mundo se abriu para que eu me afundasse nele, por isso estou a dias trancado em meu apartamento. Não saio para nada, não quero ver a luz do sol, não quero ver as pessoas na rua, não quero nem saber se existe vida após a minha porta. Sei que tudo isso é degradante, mas não consigo reagir.

A perna que quebrou parece estar bem melhor, mas eu não. Não estou nada bem.

Minha mãe me liga todos os dias para saber como eu estou e eu minto. Digo que está tudo certo, que estou melhorando muito a cada dia, mas não é bem isso o que acontece.

Ela fala que virá me visitar, mas eu sempre invento alguma coisa, não quero que ela entre aqui e se assuste com as montanhas de lixo que estão se formando por toda a parte.

Até dispensei minha faxineira, não quero que ninguém invada este mundo que eu criei para mim, parece que isso me deixa protegido de todo o mal.

Tem horas que eu me importo com isso, até penso em levantar do sofá e arrumar tudo, mas esta vontade se dissipa toda vez que eu percebo que minha vida não está nada daquilo que eu imaginava.

Se perguntassem para o Trevor do passado como ele se imaginaria no futuro, com certeza ele falaria que estaria morando em um apartamento enorme, com uma família linda ao lado da Luciana, trabalhando em sua empresa que seria um grande sucesso, mas não é isso o que está acontecendo. Não sei dizer onde foi que eu puxei a pedra que desencadeou toda esta avalanche.

Será que sou o único com este sentimento de fracasso?

Sei que para muitos eu sou o grande vilão desta estória, mas as coisas não são bem assim. Pode se dizer até que eu fui ingênuo de acreditar que poderia ter dado certo. Foi isso que me disseram.

Tenho me afastado de tudo e todos, mas por incrível que pareça a única pessoa que eu quero conversar é a Sophia. Ela é uma garota incrível, carinhosa, companheira e compreensiva. Nesta parte posso afirmar que eu errei, não devia ter brincado com os sentimentos dela.

Bom, na verdade não sabia o que queria, pois eu estava muito confuso por tudo o que tinha acontecido, talvez tudo aconteceu daquele jeito porque pensei que ela pudesse ser minha salvação, mas mesmo assim viajei para a Europa pensando que conseguiria me consertar para que depois pudéssemos construir uma nova vida, mas então a Luciana apareceu e mais uma vez ela estragou tudo. Tudo bem, não posso jogar toda a culpa nela, mas se ela não tivesse se aberto tanto nas redes sociais, teria tido tempo de ter conversado com a Soph.

O mais engraçado é como o mundo é pequeno, ao mesmo tempo que é gigante. Como nossas histórias poderiam estar tão cruzadas? Luciana, eu, Sophia e em seguida o Theodor. Bom, mas isso vou deixar para lá, acho que não se faz necessário pensar nisto agora, com certeza só me fará mal.

Olho para o teto da sala que tem sido meu maior companheiro ultimamente e praticamente berro:

- CHEGAAAA!

Não aguento mais. Para de se colocar no papel de vítima o tempo todo, algumas das escolhas foram suas então não adianta colocar toda a culpa nos outros. Está na hora de você levantar deste sofá e reagir cara!

Isso mesmo chega!! Se eu ficar mais um dia trancado neste lixo todo, vou me transformar nele. Preciso reagir, preciso me livrar disto tudo, preciso lutar pelo o que é meu e começar uma nova história.

Vou até a lavanderia e pego um saco grande de lixo, saio pela sala catando tudo o que eu encontro, milhares de latas de cerveja, várias embalagens de comida pronta e restos de pizza. Jogo tudo lá dentro.

Em seguida pesco todas as roupas sujas e largadas pelo apartamento, para poder enfiar tudo dentro da máquina.

Pela primeira vez em muito tempo, me aposso de uma vassoura, um pano embebecido no álcool e começo a limpar os móveis e o chão. Nem sei se é isso que se passa, mas pelo menos ajudará a me livrar de algumas manchas secas.

Algumas coisas já estavam cheirando mal, estava tão fechado no meu mundo que até isso me parecia normal. Até banho estou sem tomar creio que uns... sei lá, 3 dias?

Uma certa vez ouvi que se colocarmos um sapo dentro de uma panela com água fria e esta for colocada para ferver, o sapo vai se acostumando com a temperatura e não luta, no final quando a água já está quente o bastante, ele tenta pular, mas já não tem mais forças para lutar por passar tanto tempo se acostumando com a situação.

Creio que no momento eu sou um sapo dentro de uma panela de água fervente, passei dias me acostumando com a situação, com este estado vegetativo e sinto que se não fizer algo agora, enquanto ainda tenho forças, estarei fadado a loucura.

Pensar nessa parábola me dá um empurrão para lutar... tanto que em um pouco mais de duas horas o apartamento já está minimamente arrumado e limpo. Eu faço questão de tomar um banho bem quente e relaxante para recobrar minhas energias.

Estou até com uma certa barba, mas com esta ficarei por mais um tempo, só preciso ir ao barbeiro para acertá-la. Isso, vou sair daqui agora e resolver isso.

Olho para o relógio e são 3h da tarde. Nossa, nem imaginava que horas eram, na verdade não sei nem em que dia estou.

Entro em uma barbearia nova que abriu a pouco tempo na minha rua, ela tem estes novos conceitos de lugares para homens. Parece bacana, a decoração é de estilo antigo, com sofás de couro preto e algumas TVs que passam esportes o tempo todo. Tem até um bar dentro com cervejas de vários países, mas desta parte passarei um pouco longe, tenho bebido muito álcool ultimamente e estou precisando desintoxicar meu corpo.

Enquanto espero para ser atendido, brinco um pouco em uma máquina antiga de pinball. Nossa, não mexo em uma dessa há anos.

Lembro que no começo do meu namoro com Luciana, sempre íamos a um fliperama e competíamos. O que mais gostávamos de jogar eram nessas máquinas.

Jogar nela me trouxe boas recordações... destas, várias que escreveram minha história até aqui...

 destas, várias que escreveram minha história até aqui

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