Capítulo 1

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1º Capitulo - O Jogo de uma Vida (2017)

Laura Drummond, sua adolescência foi marcada por muita dor.
Sua mãe Cecília morreu quando Laura tinha seus oito anos de idade.
Morava sozinha com o seu velho pai. O Mecânico e adorador de Carros, Manoel Drummond.
Era o seu último ano na escola, era desleixada com a aparência e assim como o seu pai, amava o mundo que ele lhe ensinava sobre os carros.
Isso a deixava fora dos “padrões” das adolescentes daquela idade.
Era uma noite como qualquer outra, Laura estava com a sua mochila pendurada em um de seus ombros e entrava distraída no corredor da escola.
P: Laura!
A mesma virou-se ao ouvir seu nome.
Era Pâmela. Sua amiga desde a oitava série.
Diferente dela, Pâmela vestia o que de mais novo e na moda existia.
Seus cabelos eram brilhantes e loiros, chegavam a altura de suas costas.
Todos a olhavam como jamais olharam para Laura.
P: Oi, achei que não fosse vir hoje. Não consigo falar com você o dia todo.
La: Meu pai não está bem, passou o fim de semana todo com inalação.
P: Você precisa ficar calma, sabe que ele sempre tem essas crises. Essa só será mais uma.
La: Eu realmente quero acreditar nisso.
O Pai de Laura sofria de Pneumonia, mas devido a idade, cada crise estava sendo pior e a preocupação com isso, era inevitável.
Continuaram pelo corredor até a sala de aula, como era de costume entre os garotos, as piadas eram pesadas em cima de Laura.
Falavam sobre tudo, suas roupas, seu cabelo, seu jeito de andar.
Pâmela sempre tentava fazer com que a amiga não guardasse para ela nenhuma daquelas palavras.
Não fazia diferente quando um jovem as interrompeu.
Lu: Licença, mas você está bem?
O reflexo veio mais rápido do que qualquer educação de Pâmela.
P: Sai daqui! Ela está bem, ela sempre ficará bem.
Ele continuou olhando para Laura, que se virou para ele e disse com a voz baixa:
La: Eu estou bem. Já estou acostumada
O garoto segurou delicadamente as mãos delas e completou:
Lu: Mas não deveria se acostumar com uma coisa dessas.
Laura ficou surpresa com a preocupação dele, na verdade não se lembra de nem tê-lo visto naquela escola.
Ignorando completamente o semblante de impaciência da amiga, a filha de Manoel decidiu continuar com a conversa.
La: Quem é você? Qual o seu nome?
Ele riu ao se lembrar de que nem falara o seu nome.
Lu: Lucas, estudo com você desde a oitava série.
La: Olha, Lucas. Como eu te disse, estou bem. Mas obrigada por se preocupar. Eu sempre respondo as perguntas que fazem, porque no fundo eu acho que um dia será diferente.
Que não será um insulto e sim apenas uma pergunta.
Lu: Um dia vai ser. Você vai ver que cada rasteira que a vida nos dá, é pra ensinar alguma coisa mais a frente.
Ambos sorriram um ao outro.
Lucas a essa altura nem se lembrava de que Pâmela ainda estava ali, junto a eles.
Deu-se conta quando se virou para sair dali e a mesma segurou o seu braço.
P: Espera! Acho que te devo desculpas.
Lu: Não se preocupe com isso.
P: É que eu odeio que façam isso com ela, então quando você aproximou, eu pensei logo que fosse mais um desses babacas.
Lu: Ok. Continue cuidando dela. Ela é especial.
Com mais um sorriso, ele seguiu para o seu lugar na sala.
Ela voltou junto a Laura e percebeu que a mesma enxugava disfarçadamente as lágrimas.
Pâmela tentou animá-la.
P: Hum, acho que não seremos mais só nós duas. Aos sábados teremos mais uma pessoa pra dividir Pizza de Mussarela com a gente. – rindo –
La: Até parece. Ele só ficou com dó de mim, como a maioria faz.
P: Que maioria? Eu nunca vi nenhum desses idiotas virem perguntar como você estava.
Laura ficou pensativa. Pâmela tinha razão.

A noite passou rápido, Laura não conseguia sequer prestar atenção em suas aulas. A cabeça ficara em casa cuidando do pai.
Felizmente quando ela saiu naquela noite para ir à escola, deixou o pai em casa um tanto melhor que o dia anterior.
Quando chegou, a casa estava em silêncio. Correu para o quarto dele e para o seu alívio, dormia como um anjo.
No dia seguinte, Laura passou a manhã toda com o pai na Oficina.
Adorava tudo aquilo, cada detalhe que seu pai lhe ensinava, cada dúvida que ele tirava, era perfeito.
Pouco antes do almoço, Laura percebeu que o pai já estava cansado demais, e algumas tosses chatas começaram a incomodá-lo.
La: Pai, vamos parar por agora.
Manoel percebeu que a filha estava empolgada, era cedo de mais para parar.
M: Mas porque, filha? Ainda quero te mostrar o modelo de calota daquele carro.
La: Amanhã continuamos, Pai. Agora o que acha de pedirmos uma pizza?
M: Claro. – rindo –
Durante a tarde, Laura foi quem cuidou da Oficina, depois de muita insistência.
Ela também não queria deixá-lo em casa para ir a escola, mas isso ela não conseguiu convencê-lo.
Laura já havia faltado em varias aulas, e estava arriscada a perder o ano por elas. Mas absolutamente nada é mais importante do que seu pai.
Alguma coisa naquela noite estava deixando Laura inquieta.
Somente em uma hora de aula, já havia ido ao banheiro quatro vezes.
Precisava ir, sentia que devia estar em casa.
Deixou a escola sem sequer voltar a sala de aula e dar alguma explicação.
Estava uma noite quente e abafada, em passos apressado logo ela estaria em casa.
Exatos treze minutos foi o tempo que Laura levou para chegar em casa e ouvir as tosses do pai logo da varanda da casa.
Entrou correndo e foi até o quarto do pai.
La: Pai! Calma, eu te ajudo.
Ela descobria um pouco o seu pai que mesmo com a crise de tosse, estava enrolado em um quente cobertor e com dificuldades de levantar-se para respirar melhor.
Com certa força, ela conseguiu deixa-lo um pouco sentado.
Ao lado da cama ela providenciou um copo de agua.
Manoel via que a filha estava preocupada e nervosa.
M: Filha, olhe aqui.
Ela continuava concentrada em encontrar os remédios que amenizavam a crise. Estavam dentro de uma gaveta acompanhada de vários outros.
La: Só um minuto, pai. Eles estavam aqui. Eu sei que estavam.
M: Laura, vai ficar tudo bem.
Ela percebeu que agora ele falava um pouco mais baixo.
La: Pai...
M: Filha, eu quero que escute bem oque eu vou te dizer.
La: Pai, eu preciso chamar a ambulância, o senhor precisa ir para o hospital.
M: Sabe que não adianta. Sabe que chegou a minha hora, filha.
La: Não, pai. Não pode... – sendo interrompida –
M: Filha. Pegue a caixinha de porcelana na primeira gaveta da cômoda do meu quarto.
Ela não queria deixa-lo por nenhum segundo sozinho, mas correu para o quarto e trouxe o que ele lhe pediu.
Laura o olhou e pensou que o mesmo estava mais pálido do que antes.
M: Isso é para você. Quero que abra somente depois que eu já não estiver mais.
L: Pai, por favor, você não pode.
Ela já tinha o telefone ao alcance das mãos, mas já não era mais necessário a pressa.
O pai fechara os olhos como em um sono esperado.
Seu corpo encontrava-se descansado sobre a cama.
Depois de toda a burocracia, de velório e enterro.
Lá estava ela, sentada no sofá da sua casa totalmente em silêncio.
Para Laura, nada mais fazia sentido.
Foi quando se lembrou da caixa de porcelana que seu pai havia lhe dado pouco antes de morrer.
Ao abri-la, as lagrimas a acompanharam.
Era recente demais.
A música que tocara era linda, o motor de um Opala 2.0. No lugar de uma delicada bailarina dançante, a caixa tinha a miniatura do Opala.
No canto um papel, nele as letras tremidas do pai.
Sei que você vai seguir o caminho que vier do seu coração, sei também de que seja qual for, sentirei muito orgulho de você. Eu dediquei meus últimos anos para preparar o seu futuro, eu espero que goste, sei que fará sucesso.
“Eu te amo, filha.”

Ela não conseguia conter a emoção das palavras deixadas do pai.
Ainda o sentia vivo, como se só estive na Oficina durante toda aquela manhã triste.
Mas ao mesmo tempo pensou;
O que seu pai havia te deixado? Do que estaria falando?
Logo resolveu acreditar que fora apenas uma expressão.
                                                                                       ***
Duas semanas foi o que Laura conseguiu ficar sem aparecer na escola depois da morte de seu pai.
Mas naquela noite, não tinha como adiar mais.
O garoto por que todas se apaixonavam pelo qual muitas brigavam entre si.
O dono dos olhos azuis mais lindos de toda a escola e um tremendo babaca, estava aproximando dela assim que a mesma foi notada.                                    
Ela o viu aproximar e o quanto antes mudou seu caminho e aproximava-se do banheiro quando ele segurou forte em seus braços.
La: Me solta, o que pensa que está fazendo? – brava –
C: Calma, não fica nervosa. Eu me chamo Carlos, sou... – sendo interrompido –
La: Eu sei quem você é.
C: Bom, então isso nos poupa um bom tempo de formalidades.
La: Sai, me deixa passar. – soltando-se –
C: Porque essa agressividade? Eu só quero dizer que eu sinto muito pelo seu pai.
La: Eu aceito qualquer coisa que façam comigo, mas eu não quero o nome do meu pai na boca de vocês.
C: Laura, eu disse pra ficar calma, eu estou aqui de coração aberto. Eu sinto muito. De coração.
Os olhos passavam sinceridade, mas Laura não queria acreditar.
La: Coração aberto? – rindo –
C: Olha, eu sei que tenho sido um idiota com você, que disse coisas que devem ter te magoado. Mas me desculpa, quero ser seu amigo, quero que possa contar comigo. Vamos começar do zero?
Ambos ficaram em silêncio.
La: Eu acho que... – foi interrompida –
P: Algum problema aqui, Laura?
Como em um despertar, Laura respondeu:
La: Não, eu só estou esperando me darem espaço para passar e ir ao banheiro.
C: Ah, me desculpe. – afastando-se –
Elas entraram no banheiro e Pâmela não conseguiu esconder a curiosidade.
P: O que ele queria com você, hum?
O tom de malícia na voz da amiga, a incomodava de certa forma.
La: Não é nada disso. Ele só queria me pedir desculpas.
P: Simples assim? Ele te insulta por três anos seguidos, e do nada vem e te pede desculpas?
Ela teve um silêncio como resposta.
P: Laura, o que foi que respondeu pra ele?
La: Nada, não sou idiota. Não acredito em nada que sai da boca deles. Ainda mais ele.
P: Sabe de uma coisa? Sei que é sempre ele que agita os garotos a te insultarem, mas acho que devia aceitar as desculpas dele.
Laura não pode conter o susto.
La: Está brincando comigo?
P: Só acho que todo mundo deve ter uma segunda chance. As pessoas mudam, Laura.
La: Você está me deixando confusa.
P: Só pensa no que eu estou falando.
Ela disse que não, mas já estava pensando a respeito.
Quando estava saindo da escola, aproximava-se da meia noite, Lucas aproximou-se logo dizendo:
Lu: Laura.
La: Que susto, Lucas!! – rindo –
Lu: Desculpa, não quis assustar. – rindo – Posso te acompanhar?
La: Claro que pode.
Lu: Sinto muito pelo seu pai. Sabe que pode contar comigo para o que precisar, não é?
La: Obrigada.
Ela gostava de ter Lucas por perto, sabia desde o inicio que ele estaria com ela pra sempre, como um anjo da guarda. Confiava mais nele do que em sua melhor amiga.
Mais algumas semanas se passaram e Laura estranhava as atitudes de Carlos.
Todos os dias algo a surpreendia. De uma hora para outra, o seu perdão parecia a razão para que Carlos continuasse a viver.
Quando foi que isso se tornou algo tão importante assim?
Ela o amava, sempre o amou, desde quando o viu pela primeira vez, desde quando olhou em seus olhos.
Continuou o amando mesmo quando ele instigou a sala de aula a infernizar a sua vida por tanto tempo.
Não conseguia mandar no coração, fazer com que ele simplesmente parasse de ser um imbecil.
Era inevitável que depois de tanta insistência Carlos conseguiria o tão esperado perdão de Laura.
C: Laura, você não sabe o bem que está fazendo em aceitar o meu perdão. Você não vai se arrepender, eu vou provar pra você que eu mudei.
Foi rápido e nem nos seus mais profundos sonhos, ela ousaria sonhar com isso.
Um beijo, Carlos a segurou pelos ombros e a beijou.
Ali mesmo no corredor da escola, onde apenas uma aluna do primeiro ano passava com alguns livros na mão.
Ela o afastou e com o tom ríspido completou:
La: O que pensa que está fazendo? Está maluco?
C: Eu quero você, Laura. Eu acho que te amo.
Não foi da forma que imaginava, no fundo, nunca imaginara de jeito algum.
Ela não tinha uma resposta formulada em sua boca, apenas entrou em estado de choque.
Ele não perdeu tempo e a beijou mais uma vez e apenas comprovou o que já havia desconfiado.
Laura era dele, sempre fora, está em suas mãos.
Depois daquele dia, a rotina dela mudou completamente.

O Jogo de uma Vida - 2017 [Concluída✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora