Capítulo 21

251 14 2
                                    

Pa: Olha, eu... – sendo interrompida –
La: Como eu senti a sua falta, minha amiga.
Laura foi em sua direção e a surpreendeu com um abraço.
Carlos engoliu em seco.
Pâmela ainda estava surpresa, parecia em estado de choque.
La: Onde esteve todo esse tempo? Eu não te vejo desde que papai morreu.
Pa: Você se lembra de mim?
La: Como eu esqueceria? O que esta fazendo aqui?
Pa: Eu... – sendo interrompida –
Carlos: Ela trabalha aqui. Sabe, ela passou por muita coisa e pediu essa ajuda. Você não se importa, não é?
La: Claro que não.
O Silêncio tomou conta do quarto naquele momento.
Carlos: Deixei suas coisas no nosso quarto.
Laura fingiu saber de que quarto ele dizia.
La: Ótimo, é na primeira porta a direita, certo?
Carlos: Na segunda a esquerda, amor.
La: Ah, claro. Eu vou tomar um banho. Me sinto cansada. Aliás. O que é isso na sua boca?
Carlos lembrou-se da discussão que acabara de ter com Murilo.
Carlos: Acredita que eu tropecei na escada? – rindo –
Ela não deu muita importância, olhou para Pâmela que parecia ter perdido a língua e completou:
La: Outra hora colocamos o assunto em dia. – sorrindo –
Pa: Com certeza. – sorrindo –
Laura deixou o quarto.
Pâmela puxou Carlos para dentro do quarto e depois de se certificar que Laura já estava longe, fechou a porta.
Pa: Mas que droga! Podia ter me avisado que estavam vindo pra casa.
Carlos: Eu não tive como ligar, ela não saiu do meu lado.
Pa: Não sabe mandar um torpedo?
Carlos: Relaxa, deu tudo certo.
Pa: Mas poderia ter ido tudo por agua abaixo. Que droga é essa no seu rosto?
Carlos: Murilo estava aí embaixo, veio tirar satisfação.
Pa: Nossa, ele sabe mesmo como cuidar de uma mulher. – rindo –
Carlos aproximou-se dela beijando-a.
Carlos: Assim eu fico com ciúmes. Eu também cuido de você, nem vai mais precisar se esconder.
Pa: Maravilha, agora sou empregada dela. – irônica –
Carlos: Será por pouco tempo.

Dois dias se passou desde então.
Laura já ansiava pela volta ao trabalho. Naquela manhã o seu carro fora deixado na casa de Carlos. Todos os reparos necessários haviam sido feitos, ele estava perfeito.
Logo depois de verificar seu carro, ela tomava o café da manhã sozinha. Pâmela a serviu e seguiu para cozinha, já Carlos, ainda dormia.
Sua rotina era diferente das pessoas daquela casa, pareciam mortas. Em todo o caso estava ansiosa para voltar ao trabalho, por isso tomou o seu café rapidamente, pegou sua bolsa e seguiu para o seu carro.
Antes mesmo de todo o portão abrir automaticamente para que ela saísse, Carlos apareceu em frente ao seu carro. Parecia desesperado.
Foi até o seu lado e bateu no vidro. Aquilo fez com que Laura se irritasse.
La: Não bata assim no vidro do meu carro!
Carlos: Aonde você vai?
La: Vou trabalhar.
Carlos: Não, você precisa descansar. Se esqueceu de que você me autorizou a comandar a Concessionária pra você?
Laura riu.
La: Me desculpe, Carlos. Mas eu nunca passaria o comando das minhas empresas, pra ninguém.
Ela foi curta e grossa. Carlos percebeu que no fundo ela era a Laura que viu na boate aquele dia. Indomável. Precisava ter cuidado de agora em diante com as coisas que inventaria para ela.
Não deixou a conversa prolongar, fechou o vidro e seguiu seu caminho.
Chegou na Concessionária, mal passava das oito da manhã.
Estranhou de imediato a moça que a aguardava em frente a sua sala.
La: Onde está Carla?
A moça ficou nervosa com a presença dela.
La: Eu sou Laura Drummond.
De: Ah, me desculpe. Carla precisou ir para Londres. Disse que a senhora entenderia, pois era caso de saúde.
La: Claro que entenderia. Mas pensei que pelo menos ela me dissesse isso pessoalmente.
Depois de alguns segundos em silêncio, Laura balançou a cabeça e disse:
La: Ok, devo estar cheia de coisas para fazer. Leve a minha sala os relatórios de todas as reuniões, compras e pagamentos feitos desde o dia em que eu precisei ficar fora.
De: Claro, senhora.
A moça assentiu com a cabeça e já começou a verificar no sistema os relatórios.
Laura virou-se e seguiu para a sua sala. Ou onde ela lembrava que era.
Sequer percebeu que não era a sua sala, afinal, era tão deliciosamente familiar.
Sentou-se na cadeira atrás da mesa e ligou o computador. Enquanto o mesmo inicializava, ela começou a observar as fotos em cima da mesa.
Pelo menos duas era dela sozinha, outro era ela e Murilo. Estava sorrindo, parecia estar tão feliz naquele momento e tão íntimos.
Antes que ela pudesse se fazer mais perguntas, Murilo entrou em sua sala um tanto desatento. Quando viu Laura, não conteve o susto e uma emoção que invadiu seu peito.
Mu: Laura?! – surpreso –
La: Me desculpe, acho que entrei na sala errada. – sorrindo –
Ele deixou sua bolsa em cima de uma poltrona ao lado e foi em direção a ela. O sorriso era inventável, ele não conseguia disfarçar a felicidade que sentiu ao vê-la ali, bem pertinho.
Ela também vinha em sua direção.
Mu: Não se preocupe, essa sala é sua. Assim como tudo que está nela.
A voz parecia cada vez mais doce conforme ela se aproximava.
La: Você é o Murilo, não é?
Aquilo doía demais, ela referir-se a ele como apenas um funcionário.
La: Estava comigo naquele acidente, eu sinto muito. Se não fosse eu insistir naquela reunião.
Mu: Reunião?
La: Sim, Carlos me disse que estávamos a caminho de uma reunião.
Mu: Ah, sim. Reunião. – decepcionado –
La: Como está o seu braço?
Murilo não conseguia assimilar o que ela dizia, só não conseguia parar de olhá-la.
Não respondeu nada, apenas a abraçou, forte e demoradamente. Ela ficou sem reação.
Mu: Eu sinto muito. Se eu tivesse mais atento, talvez eu conseguisse tirar o seu carro a tempo.
Ela não soube o porquê, mas sentiu as lágrimas invadirem os seus olhos. Ainda estava afundada aos braços dele.
La: Calma. Já passou.
Mu: Eu tive tanto medo de te perder.
Laura estava ficando constrangida. Até que ponto tinha uma relação com aquele homem.
La: Nós...
Mu: Você vai se lembrar, Laura. Eu sei que vai. – acariciando o rosto dela –
Ambos ficaram alguns segundos em silêncio. O olhar de ambos ainda estava conectado, pareciam conversar entre si.
O momento fora interrompido com a entrada intempestiva de Carlos na sala de Murilo.
Carlos: O que está fazendo aqui com ele, Laura? – nervoso –
Mu: Não fale assim com ela. – bravo –
Murilo já ia em direção a Carlos e Laura interveio.
La: Calma, não precisam exaltar os ânimos. Carlos, o que está fazendo aqui?
A voz dela não parecia suave.
Carlos: Eu? Eu só vim ficar com você, não quero te deixar sozinha. Além disso, pode precisar de mim pra revisar algum relatório, realizar alguma reunião.
La: Carlos, eu não preciso de você aqui, eu sei muito bem fazer o meu trabalho e as reuniões quando não são dirigidas por mim, são muito bem dirigidas pelo Murilo.
Carlos sentiu o rosto corar. Murilo não conteve o sorriso discreto.
Ela passou por eles e antes de sair, pegou sua bolsa e disse ao Murilo:
La: Obrigada por ter cuidado de tudo pra mim. Eu prometo que vou recompensar isso.
Ela saiu da sala e antes mesmo que Carlos pudesse fazer o mesmo, Murilo o segurou pelo braço e fechou a porta.
Mu: Se eu souber que você relou a mão na minha mulher, eu juro que eu te mato.
Carlos riu sarcasticamente.
Carlos: Primeiramente, meu querido irmão. Laura não está na minha casa a força, está porque quer. – rindo –
Murilo o segurou novamente pela gola da camisa.
Mu: Seu desgraçado.
Carlos: Segundamente, não fui eu quem foi atrás dela, foi ela quem sentiu minha falta e foi atrás de mim, que nem um cachorrinho sem dono.
Ele ia golpear Carlos mais uma vez, mas o mesmo argumentou rapidamente.
Carlos: Acho que terá problemas no seu trabalho quando precisar explicar pra sua patroa o porquê deu um soco no noivo dela.
Murilo o soltou.
Mu: Você é um lixo. Sabe que ela está vulnerável, que está fazendo isso por causa do acidente.
Carlos: E porque você não diz logo pra ela? Diz que ela me odeia que você é o noivo dela, que ela está vivendo uma mentira. Vai lá! – rindo –
Murilo sentia-se inútil ao ouvir tudo aquilo e não poder fazer nada. Afastou-se dele, pois não aguentaria mais, então ele foi em direção a sua mesa, mas Carlos gostou de provoca-lo e faria isso um pouco mais, o seguiu e disse:
Carlos: Isso tudo é hilário. – rindo –
Mu: Hilário? O que diabos você quer? Você não a ama, isso tudo é só pra me destruir? Me odeia tanto assim?
Carlos riu.
Carlos: Acha mesmo que eu me daria o trabalho de tudo isso pra te destruir? Como você é idiota. Pelo amor de Deus – rindo –
Mu: Saiba que eu não vou deixar que você... – sendo interrompido –
Carlos: Você não está em posição de deixar nada, Murilo. Sua mulher está em minhas mãos, confia em mim e não faz ideia de quem você de fato é na vida dela. O idiota do amigo dela nunca mais vai voltar, então não faça nada estupido ou quem vai sofrer será ela.
Mu: É o dinheiro, não é? Você quer o dinheiro dela. Mas se você tentar alguma coisa, eu te coloco na cadeia e você nunca mais sai de lá.
A conversa não se estendeu mais, Laura abriu a porta da sala de Murilo bruscamente.
La: Querido?
A força do habito fez com que Murilo também respondesse a ela. Então um tanto desconsertada ela deu um jeito de especificar.
La: Carlos, o que ainda está fazendo aqui? – estranhando –
Carlos: Ah, eu é... – sendo interrompido –
La: Murilo, depois eu preciso que me ajude com alguns relatórios que a Debora me entregou.
Ele estranhou o nome.
Mu: Debora?
La: Sim, não soube que Carla precisou se ausentar? Está em Londres.
Ele ficou chocado, os aliados estavam dispersando.
Carlos se despediu e voltou para casa, Laura tinha um gênio difícil e Carlos não era acostumado com ele.
Ela voltou para a sua sala e mergulhou-se no trabalho por manhã inteira.
Murilo só recebeu uma mensagem de voz no celular, era Carla e dizia o seguinte:
“Doutor Murilo, precisei voltar para Londres, é caso de saúde. Deixei uma pessoa de minha confiança para auxiliar o senhor na Empresa. Obrigada, assim que estiver tudo resolvido, eu volto.”

O dia passou rápido, Laura sequer saiu para almoçar, mesmo com a insistência de Murilo. Inclusive ele ficou esperando ela ir para casa para que pudesse ao menos acompanha-la até o estacionamento. Mas foi inútil, ela foi embora sem ao menos se despedir.
Quando ela chegou na casa de Carlos, não encontrou Carlos, mas Pamela estava em seu quarto quando entrou.
Ficou nervosa quando Laura perguntou o que ela procurava em sua gaveta de cômoda.
Pa: Me desculpe, eu estava apenas vendo se você precisava de mais toalhas limpas.
La: Eu estou bem, obrigada. Quando eu precisar desse tipo de coisa eu te aviso.
Pâmela sentia as mãos formigarem de raiva, Laura era autoritária e sempre com ar de superioridade. Isso a deixava com mais ódio dela.
Antes que Pâmela deixasse o quarto, Laura deu algumas instruções.
La: Eu vou tomar um banho agora, não sei onde o Carlos está, quando ele chegar avise que já estou em casa.
Pa: Sim. – saindo –
La: Ah! Não se esqueça de que o jantar deve ser servido antes das nove.
Pa: Como quiser.
La: Obrigada, minha querida. – sorrindo –
Pâmela deixou o quarto furiosa, desceu as escadas com passos pesados e Carlos a questionou:
Carlos: O que foi? – rindo –
Pa: Eu não sei do que está rindo. Essa mulher é uma miserável! Estou preocupada.
Carlos: Preocupada com o que?
Pa: Eu não sei, não sei! – nervosa –
Carlos: Fique tranquila, eu já te disse que o Murilo não é mais um problema, ele não vai arriscar que façamos alguma coisa com ela.
Pa: Não sei se ameaçar Murilo foi uma boa ideia.
Carlos: Mas que droga, Pâmela. Relaxa! Ele não vai fazer nada, ela não lembra dele, ponto.
Pa: Ele tem fotos, tem o que quiser pra fazer ela acreditar nele.
Carlos: Amor, a única coisa que poderia fazer com que ela acredite nele, seria o Lucas. E eu não sei por que ninguém consegue se comunicar com ele, ele só manda e-mails para Laura. E só de reuniões e de avisos que embarcará daqui alguns dias.
Ela continuava em silêncio, estava pensativa.
Carlos: Ele não vai tentar forçar Laura a se lembrar dele, o médico disse que isso é perigoso para ela. Essa é a nossa maior vantagem.
Pamela sorriu para ele.
Pa: Você até que está se saindo muito bem. – sorrindo – Aliás, acho que estou até com um pouco de ciúmes. Não sei se quero que transe com ela. – rindo –
Carlos: Meu amor – rindo – Só precisamos que ela assine uma procuração, depois disso? Acabou!
Laura apareceu na ponta da escada e disse:
La: O que é que acabou?
Pâmela sentiu o calafrio percorrer seu corpo, não podia imaginar colocar o plano pros ares por um descuido imbecil desses.
Precisava se apresar numa desculpa descente.
Pa: Ele estava me dizendo que agora “acabou” a preocupação. Que você ir ao trabalho hoje nos mostrou que está recuperada.
La: Tem razão, me sinto ótima. Estou tão feliz. Ainda mais agora que recebei um e-mail do Lucas me dizendo que chega essa madrugada, não vejo a hora de revê-lo.
Carlos não conteve um olhar preocupado em direção a Pâmela.
Laura por sua vez, apenas seguiu para a sala de jantar despreocupada.
Carlos aproximou-se discretamente de Pâmela e disse:
Carlos: O que vamos fazer?
Pa: Eu vou dar um jeito. Só não deixa essa mulher ir atrás dele no aeroporto.

O Jogo de uma Vida - 2017 [Concluída✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora