Eternidade Finita

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::ANA::

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::ANA::


Isso começou comigo, então, é justo que eu termine.

Uma das coisas que mais se modificaram quando a verdade foi libertada na minha mente foi o conceito de eternidade. Na grande maioria das vezes a gente tende a pensar nas pessoas, ou nos sentimentos, como coisas infinitas, esquecemos que nossa existência é frágil e sujeita a minutos contados na ampulheta do tempo cuja areia fina vai lentamente caindo na parte de baixo do vidro. É esse esquecimento que nos faz viver frugalmente, não valorizar as pessoas que estão à nossa volta, esquecer de dizer "eu te amo" quando temos a chance e fazer o bem que deveríamos fazer porque sempre achamos que o dia seguinte virá e que, amanhã teremos a chance de completar o que não fizemos hoje em nome do comodismo.

Ao longo do tempo deturpamos a ética, a moral. Esquecemos o valor das pequenas coisas em prol da ganância. Viramos as costas para a única pessoa que se importou conosco desde antes de nascermos. Encontrar Fernando me fez pensar e repensar os valores e as crenças que construí — e desconstruí — ao longo da minha vida (e vidas), repensar quem eu era e o meu papel na vida das outras pessoas.

Um dia, o mundo acabou completamente, submerso numa violenta tempestade. Um dia, uma aliança foi firmada para que aquilo nunca mais se repetisse e um povo foi destacado entre os demais, talvez esse tenha sido o ponto, quando alguém se destaca tende a ser posto para baixo, dizimado pelos que receberam menos atenção. Esse povo destacado recebeu a maior das honrarias, teve ao seu lado o rei mais forte e tudo que se propuseram a fazer prosperou graças a isso e tudo que o rei pediu em troca foi sua lealdade, o amor e a confiança. Mas parecia pedir muito uma vez que esse mesmo povo virou as costas contra ele na primeira oportunidade. Então, ferido, o rei deixou que seguissem seu caminho sozinhos, já que eles não queriam mais viver sob seu reinado. E esse povo que pensava que era autossuficiente caiu na escravidão, foi explorado e ferido por um novo rei tirano. Apesar de terem ferido seu coração, o rei bondoso ouviu o clamor do povo que um dia foi seu e enviou um guerreiro para libertá-los, mas novamente aqueles seres humanos rebeldes e insensíveis lhe feriram à espada, viraram as costas para ele e o esqueceram. Sem alternativa, o rei mandou o príncipe regente para investigar o povo, na tentativa de ensiná-los, de descobrir de que precisavam para melhorar a vida deles, e o príncipe ficou em seu meio, ele os ensinou a lutar, lhes forneceu armas que ninguém mais poderia derrotar, lhes concedeu conhecimento. Ainda assim, inflamados contra o rei, mataram o príncipe. E mesmo diante de tudo isso, o rei não deixou de amá-los e cuidar deles.

Fernando havia me contado aquela história há muito tempo. De início, ela fez um sentido apenas parcial para mim, mas logo vim a entender o profundo significado da ingratidão e da maldade humana que perdurava por milênios, a incapacidade que eles tem ainda hoje de se redimir, endireitar, fazer uma coisa tão simples e tão bela que é amar. Era isso que aquela historinha queria me dizer, ele estava querendo me mostrar que a causa dos infortúnios que caíam sobre a humanidade era culpa da própria, do coração endurecido dos homens que estavam completamente voltados para si, fechados no seu egoísmo e cegos pela crueldade. Por isso, quando me lembrara de ler aquela historinha no caderno de Ana — ainda era difícil acreditar no fato de que eu e ela éramos a mesma pessoa — repensei a raiva que estava sentindo e tomei a decisão de perdoá-lo, pois mais que a incapacidade de viver bem longe dele tinha em mente que ele sucumbira ao desespero, se tornara o máximo de humano que sua condição permitira. Tal qual o príncipe, ele desistira de si mesmo em função de mim, quando tomei consciência disso o entendimento de todo o mais veio até mim.

O ProtetorOnde histórias criam vida. Descubra agora