Cor-de-rosa

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Era domingo de manhã e eu estava pintando com a minha avó na varanda.
Minha avó adorava pintar, igual ao meu avô. Ela dizia que ele era um artista e que eles sempre pintavam juntos, mas depois que ele morreu, essa função era minha. E eu não estou reclamando, longe de mim, afinal eu apreciava cada segundo daqueles momentos que passava com ela.

Agora eu a observava pintar, quase com o cuidado necessário para se cuidar de um recém-nascido, o quadro que tentava terminar há semanas. Seu cabelo claro e parcialmente grisalho caía sobre seus ombros, quase como se se inclinasse para frente para observar mais de perto aquela obra de arte.

- O que o vovô gostava de pintar?

- Ah, ele era apaixonado por arte renascentista.

- Tipo Da Vinci?

- É, Lorie, tipo Da Vinci.- ela respondeu sorrindo.- Quando sua mãe era mais nova, ela também gostava. Vivia suja de tinta pela casa. Não era nem um pouco parecida com a sua tia.

- Talvez porque minha mãe não era egoísta.

- Lorie, sua tia ama você.

- Mentira, ela nem se importa com a gente.

Depois da morte da mamãe e do papai, fomos indenizados, mas minha avó teve que pagar tratamentos hospitalares muito caros e eu só podia mexer no meu dinheiro quando tivesse 18 anos. Minha tia investiu o dinheiro com o marido dela e não se opôs quando minha avó disse que me criaria.

- Ela tem a mente fraca, Lo. E aquele marido dela não a ajuda muito a ver o que é o certo.

- Pra mim, eles dois se merecem.

Minha avó se virou para a tela do quadro novamente. Ela parecia magoada, como se quisesse concordar comigo, mas sem falar mal da própria filha. Eu a entendia, de verdade. Ela nunca disse que minha tia costumava ser carinhosa, nunca me contou sobre alguma festa ou viagem que fizeram juntas. Sempre foi com a minha mãe. E agora apenas lhe restava a filha que só mantém contato através de ligações telefônicas e cheques no começo do mês.

- Vovó... Me desculpe.- eu me levantei para abraçá-la.- Eu não quis ser grossa.

- Tudo bem, Lo. A única coisa que me preocupa agora é o atraso do seu amigo.- ela sorriu para mudar de assunto.- Que horas ele disse que ia chegar?

Nesse exato momento, como que por magia, a campainha tocou, informando que nosso convidado havia finalmente chegado.

- Agora!- eu ri enquanto ia atender a porta.

E então me deparei com aquele menino pálido, escondido dentro de um casaco de inverno azul-marinho, parado em frente à minha porta com um sorriso tímido no rosto. Nate disse que não ia fazer nada hoje, então minha avó pediu para que eu o chamasse.

- Oi, Lorie. São pra você.- Ele diz, tirando um pacote de jujubas do bolso do casaco.

- Jujubas? Eu estava esperando flores e chocolates.

- Você é muito clichê, meu bem.

Eu rio alto com a frase e nós finalmente entramos.

- Olá, Nate.

- Olá, Sra. Jenkins.

Minha avó insistiu para que ele a chamasse pelo primeiro nome quando ele veio aqui pela primeira vez, mas ele disse que não se sentia confortável. Das duas, uma: ou ela cansou de ouvi-lo falar "Sra. Jenkins" a cada cinco minutos, ou havia realmente gostado dele. Eu não sei vocês, mas aposto na segunda opção.

- Estamos pintando na varanda. Venha.

Nós sentamos nos bancos de madeira e ficamos um bom tempo encarando as telas em branco e decidindo o que pintar. Depois de um tempo, começamos a pintar um ao outro.

A NinfetaOnde histórias criam vida. Descubra agora