A garota era boa. Nenhum cadastro em redes sociais, o que era um milagre para uma menina de vinte e dois anos. Nenhum emprego fixo ou nada que pudesse prendê-la a qualquer lugar. Não existiam amigos de longa data, muito menos qualquer relacionamento amoroso que fosse capaz de ligá-la a alguém.
Familiares, então, sequer entravam na lista. Tudo que tinha era um irmão inútil que a colocou na merda em que se encontrava agora. Até mesmo para mim, que encarava a solidão como algo tão natural quanto a luz do sol, era difícil compreender os motivos pelos quais a garota se escondia de tudo e de todos.
Ela era a presa perfeita e seu desaparecimento não levantaria qualquer suspeita. Vasculhei de forma cautelosa e cuidadosa o apartamento pequeno, passando um "pente fino" em cada canto, procurando qualquer detalhe que pudesse me levar à fugitiva. Objetos espalhados pelo chão denunciaram a pressa em deixar o lugar, levando apenas o que considerava essencial.
"Prática."
Entrei na cozinha apertada e os pequenos potes de metal contendo restos de leite e pasta de atum, fizeram minha atenção redobrar. Não era um entusiasta por animais, mas também não os tratava com desprezo. Quando pequeno, sonhava em ter um cachorro até meu pai me presentear com um, em meu aniversário de oito anos. Infelizmente, a fêmea de pastor alemão morreu pouco tempo depois, envenenada.
Alguns diriam que a morte precoce me causou um trauma, uma vez que desisti de ter qualquer animal após a Quinn. Continuei minha busca por evidências que confirmariam a suspeita do tipo de animal que ela possuía, quando encontrei um pacote de ração para gatos.
Interessante.
Segurei o saco, balançando-o algumas vezes com a intenção de atrair a bola de pelos do esconderijo em que se encontrava. Aguardei alguns segundos, sem ouvir qualquer sinal de sua presença no apartamento e talvez a praticidade de sua dona tenha ido pelo ralo, quando decidiu levar o bichano em sua "pequena aventura".
Deixando a cozinha de lado, a curiosidade de saber mais sobre ela me fez atravessar o corredor estreito, que continha duas portas, uma para o banheiro minúsculo, como o restante do lugar, e outra para o quarto, onde a maioria dos objetos pessoais estavam espalhados pelo cômodo.
Caminhei em direção ao armário aberto, absorvendo cada informação. Em uma das portas jazia uma camisa preta, enorme e desgastada de uma banda de rock, que obviamente já teve dias melhores. Retirei a peça com cuidado, sentindo o cheiro leve e cítrico de laranja e canela impregnados nela, indicando que foi usada recentemente.
A cama tinha um tamanho razoável e os lençóis brancos ainda estavam revirados. Próximo à cabeceira, em cima de uma mesinha de madeira branca, uma coleção de livros amontoados com alguns post-its colados nas folhas, chamou minha atenção. Com alguns passos, alcancei as obras, analisando o texto escrito nos papéis, incapaz de conter o sorriso quando percebi serem comentários sobre o que ela estava lendo.
Observei o lugar por mais uns minutos, notando quão simples ele era. Paredes de cores neutras contrastavam de forma intensa com os poucos objetos espalhados pelo local. A poltrona larga e de tecido desbotado próxima à janela, tinha os pés de madeira corroídos e arranhados, provavelmente pelo gato.
Por fim, após recolher o que acreditava ser necessário, deixei o apartamento pela escada de incêndio da mesma forma que entrei, tendo uma única meta na cabeça:
Caçar Robbie Miller.
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HAUNTED
RomansaFugir, era a sua única saída. Caçar, era o seu trabalho. Ela se escondia. Ele a encontrava. Heather Miller nunca foi do tipo de garota que corria dos problemas que a vida insistia em jogar na sua cara, muito pelo contrário, ela praticamente se atira...