Greyfair, Janeiro de 1813.
Crawford sabia que não deveria ter deixado Anne sozinha. A irmã sempre se metia em confusões quando ia aos bailes de verão e, naquela noite, não foi diferente. Anne fora flagrada por toda a aristocracia Krasoviana nos braços de um libertino da pior espécie – a que se atacava as irmãs dos próprios amigos – e que não possuía pudor algum antes de seduzir uma inocente dama.Érico Cooper. O filho do barão de Croix.
Foi um escândalo.
O duque sabia que as fofocas perseguiriam a irmã aonde quer que ela fosse. Ele sabia disso quando a trancou no quarto no dia anterior. Ele só não sabia que aquela intervenção resultaria na fuga de Anne.
Naquela noite chovia o previsto para todo o mês em Greyfair, o que fazia com que todas as rotas de fuga do ducado ficassem terrivelmente enlameadas, dificultando uma perseguição até sua irmã fugitiva, e por não saber exatamente quanto tempo sucedeu da fuga até o conhecimento dela, o duque não saberia dizer se àquela altura já não seria tarde demais para impedir um desastre. Porém, nem mesmo um casamento às pressas impediria Crawford de permitir que a irmã vivesse com Érico. Ele apenas tinha certeza de uma coisa: mataria o homem antes que pudesse ter a chance de consumar o casamento. Nunca poderia deixar que a filha e irmã de um duque se casasse com um homem medíocre, de posição imensamente abaixo da dela. O que um simples baronete poderia oferecer à Anne?
Amor não enchia barriga, bem lembrava ele.
— Milorde, há uma mensagem. — disse o mordomo ao entrar em seu escritório.
Crawford olhou para o empregado notando que ele estava com a postura tensa e apertou os olhos com força. Sentia o suor gélido escorrer pela testa enquanto um frio tomava seu âmago. Sabia que deveria ter tomado uma providência antes de permitir que a irmã, tola e teimosa, se apaixonasse por um simples baronete.
Mas como ele poderia ter previsto aquilo?
Vaidosa e criteriosa, Anne sempre fora uma jovem imprevisível. Era quase impossível premeditar os próximos passos e ações da irmã. Havia perdido as contas de tantos cortejos que ela havia recusado ao longo de seus dezenove anos. Parecia não existir um homem que estivesse à altura. Ou talvez isso devesse ao fato de sua irmã estar à espera de alguém que certamente não seria apropriado, como estava acontecendo naquele exato momento. Parecia até mesmo alguma forma que a caçula havia encontrado de irritar o duque.
Mas ele sabia que também não era isso. E ele deveria ao menos ter tentado evitar aquela situação. Nunca deveria ter apresentado o baronete para Anne. Nunca deveria ter incentivado a amizade entre os dois. Quão tolo ele parecia agora, diante de toda aquela situação?
— Não me diga que ela já se casou com aquele infeliz, Bingley! — O duque moveu o maxilar com tanta força que era possível ouvir o ranger de seus dentes mesmo ao longe.
— Não, senhor. — A voz do mordomo saíra em um tom baixo, porém firme. Suas feições severas pareciam ainda mais sérias. — Antes fosse, milorde. Mas sinto em dizer que é pior.

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O Duque de Greyfair - Escandalosos I
RomansaOBRA REGISTRADA! - Até onde um homem pode chegar para se vingar de alguém? Thomas Albert Ryan Crawford, oitavo duque de Greyfair, vê a vida sem sentido, depois que sua irmã mais nova foge com um homem inadequado e acaba morrendo na fuga, transforma...