Capítulo 14

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Mais que droga! O dia inteiro Daiene ficou no meu pé, teimando em conversar sobre o que aconteceu no calabouço. Ela insiste em não esquecer aquilo. Por que é tão difícil dela entender que foi a magia dela que quebrou aquelas algemas?

Eu estava arrumando as cordas que haviam soltado um pouco após a batalha de ontem. Nosso navio não havia sofrido nenhum arranhão ou bombardeio grave. Apenas alguns barris quebrados e comidas desperdiçadas, pois alguns marujos haviam ido até o estoque de alimentos batalhar. Como eles foram parar lá, eu não tenho ideia, porém agora estávamos com menos dias em alto mar de alimento. Logo precisaríamos parar em alguma vila pelo caminho para abastecer novamente o navio.

Era um dos últimos nós que eu precisava reforçar quando Daiene se aproximou de mim com aquele olhar de assustada que ela faz quando precisa dizer algo urgente. E algo já me dizia sobre o que ela falaria. De novo.

-Andy, é sério!

-Se for pra me encher com o que aconteceu ontem, nem tenta.

Peguei uma corda jogada ao chão que estava cortada. Coloquei-a no ombro e fui em direção ao barril que continha mais cordas. Daiene teria ficado pra trás se não viesse atrás de mim.

-Andy...Nós precisamos falar, você querendo ou não.

Continuei ignorando ela, enquanto voltava ao meu posto com uma corda novinha para amarrar no lugar da velha. Quem sabe sendo deixada falando sozinha ela não esquecesse aquilo.

-Andy! - Ela se aproximou novamente.

Quanta insistência, coisa chata!

-An-

-Ta bom! Ta legal, ganhou minha atenção. Fale de uma vez.

Ela soltou o ar de forma exagerada, fazendo uma cara de brava para mim. Puxou o pano de minha camisa, me empurrando até que fossemos um pouco mais para a beirada do navio.

-O que, vai me jogar? - ri, zombando.

-Para de ter essa atitude.

-Qual atitude?

-Está agindo como se o que aconteceu ontem fosse normal. Porque não foi!

Coloquei minhas mãos sobre seus ombros.

-Daiene, eu não entendo o que está querendo dizer, porque-

-Andy, só alguém com magia poderia retirara aquelas algemas.

-Sim, eu sei disso, você me disse isso na primeira vez que nos encontramos. E, olha só! Você tem magia. Coincidência não é?

-Não poderia ser eu. - Ela deu um tapa em minhas mãos, desvencilhando-se de meu toque. - Eu tentei durante anos e nunca funcionou.

-Talvez não tenha tentado o suficiente.

-Ta de brincadeira não é? Olha pra mim.

Ela colocou suas mãos em torno de meu rosto.

-Eu não fiz aquilo.

Segurei seus braços, afastando-os de mim.

-Quer saber? Provavelmente as algemas já estavam gastas depois de muito tempo presas a você e elas acabaram se quebrando. Agora se me da licença, tenho trabalho para fazer.

Afastei-me dela, mas dessa vez ela não me seguiu. Ficou apenas me encarando com seu rosto de contrariada e irritada de sempre.

***

O sol ardia e o calor estava insuportável naquela tarde. Todos os marujos descansavam, recuperando-se do combate. Nossas perdas tinham sido mínimas. Três mortos somente e o restante levemente feridos.

Elementais: Maga Aprendiz Onde histórias criam vida. Descubra agora