Capítulo 11

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  Demorou um pouco até meu batimento voltar ao normal e meus pés estabilizarem. O medo ainda está dentro de mim quando penso em subir as escadas.
 
  Levanto-me, recobrando os sentidos. Pego minha bolsa, procurando pelo frasco em meio a tantas coisas. Eu preciso esconder melhor essa coisa.

  Pego um pedaço de pano e enrolo no vidro. Tiro tudo que está na bolsa, até achar o seu fundo. Coloco o pano que contém meu segredo no fundo da bolsa e volto todos meus pertences que retirei no lugar em que estavam.

  Talvez eu estivesse fazendo tudo aquilo em vão e Daiene já estivesse contando a todos meu segredo. Talvez aquilo não protegesse o que eu queria tanto esconder, mas não tinha o que eu fazer. Aquilo era o lugar mais escondido que pude achar. Bom, até a bruxa decidir invadir minha privacidade, claro.

  Respiro fundo e vou em direção à saída. Subo os degraus lentamente, fazendo a madeira ranger com meus passos. Sinto o sol bater em meu rosto e seu calor me esquentar. Mostro-me a todos, esperando que me ataquem, que me xinguem, gritem. Mas nada acontece.

  Olho em volta e ninguém sequer me nota. Somente Jake, que se aproxima.

  -Andy, está bem? Parece um pouco pálido.

  Olho-o, analisando seus gestos e sua fala. Ele não estava indignado, não estava me julgando. Estava com o corpo relaxado, sem tensão. Ele não sabia do segredo. Ainda não.
 
  Avisto Daiene conversando com o Capitão na porta de sua cabine. Ela conta algo a ele, que escuta com atenção. Pego-me tentando aguçar minha audição, como se fosse possível ouví-los. Meu olhar se foca nos lábios de Daiene, tentando decifrá-lo. Meus ouvidos não ouvem nada ao redor, meus olhos não prestam atenção em mais nada.

  -Andy!

  Saio do transe, fechando meus olhos e escutando o que me tirara daquilo. Jake me encarava.

  -Ah! Estou sim.

-Mesmo? Não parece, está meio aéreo.

  -De verdade.

  Ele desconfia, mas assente com a cabeça. Caminho para a borda do navio, disfarçando meu interesse no assunto de Daiene e o Capitão. Aproximo-me um pouco demais e vejo o olhar de Reiky passar dos de Daiene pra os meus. Sinto um frio no estômago. É agora que ele vai me jogar ao mar?

  Desvio meu olhar, encarando a água abaixo de mim. Ela batia contra o casco do navio de forma serena. O vento soprava leve. Tudo ao redor parecia estar em paz, menos meu interior. Eu estava fervilhando por dentro.

  Sinto meu coração agitar, bato meu pé contra o chão, impaciente. Se for me entregar, faça logo, droga! Não faça com que eu me torture ainda mais!

  Fecho os olhos, continuo nervosa. Aperto fortemente a beirada do navio, sentindo os nós de minha mão doerem. Eu precisava falar com ela. Coragem, Anne. Coragem!

-Daiene!
 
  Viro-me rapidamente, chamando sua atenção e a atenção de todos. Minha voz sai mais alto do que eu esperava. Ela se vira, sorrindo de lado. Claramente estava se divertindo com a situação. Reiky mesclava seu olhar, que ia da bruxa pra mim.

  -Preciso falar com você. Acompanha-me? - pergunto, podendo observar todos os olhares sobre mim. Os piratas agora estavam em silêncio, tentando entender.

  Que coragem era essa que eu tinha?! Parecia um homem desesperado. Ao invés de ser discreta e chamá-la de lado, eu fui lá e berrei. Até os peixes ouviram.

  -Venha a meu quarto.

  Ela caminhou, sorrindo para mim, em direção a seu quarto. Quando fui segui-la, senti Jake dar dois tapinhas em meu ombro esquerdo. Olhei-o e em seus lábios se formou um sorriso e as palavras sem som podiam ser lidas somente com o movimento de sua boca: "boa sorte". Foi então que percebi em seu olhar o que estava passando em sua mente.

Elementais: Maga Aprendiz Onde histórias criam vida. Descubra agora