Capítulo 19

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Demorou alguns minutos até que minha ficha caísse. Minha mente girava em pensamentos cada vez mais profundos. Minhas mãos suavam com a ideia de ter que sair do quarto de Daiene, aonde eu estive desde que desmaiei da última vez.

Fazia praticamente uma semana que eu estava deitada, presa no quarto, sem sair. Sentia medo da forma como todos me receberiam, como me olhariam. Posso ser forte, mas essa situação toda é estranha demais para mim. O que eu diria? O que diriam? Não sei... Só sei de uma coisa: quanto mais eu ficava presa naquele lugar, pior era para eu sair de lá.

Quer dizer...Qual cara eu deveria fazer? Deveria sorrir ou ficar triste? Ou talvez ficar séria e tentar bancar a misteriosa? Por mais que eu planeje sei que na hora vai ser um desastre total.

Eu já havia levantado da cama, com roupas limpas em meu corpo e pronta para enfrentar o lado de fora. Não vi Daiene hoje, ela saiu do quarto antes que eu pudesse acordar. Ela estava particularmente estranha esses dias. Achei que fosse por minha causa, mas após uma semana de estranheza, notei que não era eu. Quis perguntar diversas vezes, mas ela sempre me dizia: "Gaste sua energia se recuperando". Se ela insistisse naquilo eu daria um murro na cara dela porque, sinceramente, ficar tendo que ouvir aquilo toda vez que eu tentava puxar assunto sobre a estranhasse dela já era demais. Tenho paciência, mas nem tanto.

Caminhei até a porta, aguardando o impulso dentro de mim que me faria abri-la. Respirei fundo, mas o impulso não veio. Soltei o ar, frustrada.

Qual é! Sai logo desse quarto, Anne. Enfrenta a situação de frente, não pode ser tão ruim! Afinal, já se passou 1 semana desde que tudo ocorreu. Todo mundo já deve ter esquecido né!

Dando de ombros pra situação, escancarei a porta sem querer, chamando a atenção com o barulho que causei. Todos os piratas que estavam trabalhando pararam para me olhar.

Senti um quente percorrer meu corpo, fazendo-me ferver por dentro. Meu plano de ficar séria foi por água-abaixo. Minha cara era mais uma mistura de espanto com um toque de crise existencial de quem foi descoberta e não sabe onde se esconder. Aqueles segundos de atenção me fizeram quase morrer de verdade. Eles continuariam me encarando pra sempre se Ed não os tivesse interrompido:

-Pararam por quê? Ao trabalho, andem. Não há por que parar. Quero ver tudo limpo até a noite!

Voltaram aos poucos para suas tarefas, fingindo claramente que me esqueciam, mesmo eu conseguindo sentir seus olhares me julgando. Dei meu primeiro passo, receosa, para fora do quarto. De lado, notei os cabelos brancos de Jake, que se levantou do chão o qual estava esfregando. Ele torceu um pano sobre um balde e voltou ao trabalho.

Caminhei um pouco mais, tentando ver se ele me olhava, sem efeito. Simplesmente não desviou nem um pouco sua atenção do que estava fazendo. Seus músculos nem se contraíram ao passo que eu me mexia.

Desde que tudo ocorreu ele não veio falar uma palavra sequer comigo. Não veio ver como eu estava nem nada do tipo. Eu até havia pensado em conversar com ele, mas desisti. Não estava pronta para discutir, para chamar a atenção de novo para mim mais do que já estou chamando.

Olhei em volta e algumas cabeças se mexeram, tentando claramente disfarçar para que eu não percebesse que estavam me observando. Eles queriam encarar, entender a situação. Estavam tentando se acostumar com o fato de mais uma mulher estar no navio, e dela ser o ex-Andy.

O tempo estava nublado e escuro, perfeito para os sentimentos que habitavam dentro de mim. Minha barriga roncou alto, de forma que quem estivesse ao redor podia ouvir. Pela primeira vez notei uma leve virada de cabeça de Jake. Parece que eu estar com fome chamou sua atenção. Mas parou por ai, pois ele logo voltou ao que estava fazendo, como se nada tivesse acontecido. Para pegar algo para comer eu teria que passar no meio de todo mundo, e não me sinto tão bem para encarar esse desafio nesse momento, então é melhor eu voltar para o quarto e continuar definhando e retorcendo de fome.

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