Capítulo Cinco - Parte 1

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Estava dando uma última olhada na loja antes de apagar as luzes quando Alexandre e Paula subiram. Assenti na direção deles, sem falar nada. Não tinha visto nem sinal deles a tarde toda, não fazia ideia do que estava acontecendo para estarem estranhos mais cedo, e já tinha coisas demais na cabeça. Conferi se tinha desligado o computador antes de me virar para a porta, respirando fundo. Não queria admitir, mas estava tensa. Eu tinha enfrentado Rick... Tinha terminado com ele. Não achava que ele fosse fazer alguma coisa, não de verdade, mas não conseguia deixar de sentir aquela tensão.

— Você vai direto para casa hoje? — Paula perguntou.

Me virei para ela, de certa forma agradecida por ter uma desculpa para demorar mais alguns segundos para sair, e mais agradecida ainda quando vi que ela estava sentada na beirada da minha mesa, balançando os pés. De volta ao normal. Alexandre estava parado um pouco atrás, apoiando o ombro em uma das estantes, com o resto na sombra. Engoli em seco e encarei Paula.

— Vou. — Dei de ombros. — Meu pai está precisando de mim.

Ela assentiu e pulou de volta para o chão.

— Certo, me dá um minuto e...

Paula se calou ao mesmo tempo em que Alexandre se endireitou e saiu da sombra. Ele ainda estava estranho... Se é que eu sabia dizer quando ele estava "normal" e quando estava "estranho". Mas ainda havia alguma coisa no olhar dele que estava me deixando nervosa.

— Vou te acompanhar até sua casa.

Balancei a cabeça, sem ter certeza de que tinha entendido o que Alexandre falou. Ele estava se oferecendo para ir comigo até minha casa, que ficava a pouco mais de quinze minutos do trabalho. E Paula quase tinha se oferecido para fazer a mesma coisa. Engoli em seco. Eles tinham ouvido minha discussão com Rick e eu sabia exatamente o que estavam pensando.

— Rick nunca faria uma coisa dessas. — Balancei a cabeça, apertando a alça da minha bolsa. — Ele pode ser meio babaca, mas estão exagerando.

Paula ergueu as sobrancelhas.

— Ah, que bom, agora você admite que ele é babaca.

Dei de ombros e ela balançou a cabeça, enquanto Alexandre só me encarava.

— Mas apostaria sua vida nisso?

Respirei fundo e soltei o ar de forma audível antes de balançar a cabeça. Não acreditava que Rick fosse fazer uma loucura dessas. De verdade, não acreditava mesmo. Mas... Esse "mas" era um problema.

Paula olhou de mim para Alexandre e então de volta para mim.

— Se preferir, posso ir com você.

Eu tinha confiado em Alexandre o suficiente para mostrar minhas ilustrações, então porque não confiava nele para ir comigo? Bom, não era uma questão de confiança. Mas entre ficar tensa pensando no que podia acontecer e ter um cara que praticamente exalava violência do meu lado... Sem mencionar que Paula era minha amiga. Se ir com Alexandre não fosse uma boa ideia ela ia ter falado alguma coisa.

— Não precisa.

Me virei para Alexandre, que assentiu.

— Vão indo então, eu fecho tudo aqui. — Paula passou por mim e parou ao lado da porta de vidro.

Respirei fundo e assenti, mais para mim mesma que para eles, antes de sair. Alexandre me acompanhou. Dei uma olhada para a loja, mas Paula ainda estava lá dentro e parecia não estar com pressa para sair. Com um suspiro, comecei a subir a rua. Pelo menos naquele horário dona Neuza não costumava estar sentada na varanda, então a história sobre como eu estava indo para casa com Alexandre não ia se espalhar tão depressa assim.

Refém da Noite - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora