Capítulo Dez - Parte 1

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Mando o link do site para Camila, com um pedido para ela e Felipe conferirem se não tem nada errado. Não sei se eles vão ter como ver isso, mas eu não faço a menor ideia do que estou fazendo. Pelo menos acho que fiz o upload das imagens todas certinhas, e diz a página de ajuda do site que ele faz os ajustes finais para encaixar as artes nas medidas de impressão. Só posso torcer agora e esperar para ver algo impresso, porque não tenho como pedir para entregarem aqui.

Suspiro e rolo os ombros para trás, tentando relaxar. Não que isso adiante muito, mas pelo menos fiz alguma coisa. Comecei a organizar tudo para encaminhar minha vida de vez, porque não importa o que Paula ou qualquer outra pessoa fale, não vou ficar presa aqui para sempre. Não vou. Só não sei como vou escapar.

Me levanto e vou até a janela. Daqui consigo ver um bom pedaço do jardim, e depois dele um espaço gramado antes das árvores começarem, espalhadas, até a área da mata, e a serra visível depois dela.

Lerda. Eu devia ter notado isso antes. Fico na ponta dos pés, tentando ver mais longe, mas não sei nem se estou olhando na direção certa. Se não me engano a mata cerca a propriedade toda e eu não faço ideia de para que lado fica o condomínio. Foi por isso que não quiseram vender o terreno para o pai de Rick. Não era pirraça nem nada do tipo: era a propriedade de Alexandre, dos seres mágicos. E agora que pensei nisso, é absurdamente óbvio. Não entendo como não percebi isso antes.

E falando em perceber... Já caiu a ficha de que não vai adiantar nada me trancar no quarto. Na verdade, só vai ser pior. Pode até ser mais seguro ficar aqui – não que eu realmente acredite nisso –, mas se não sair nunca vou descobrir o que posso fazer para escapar. Tenho que manter isso em mente, porque é a única coisa que importa. Ou seja: vou aprender a lidar com bruxas, lobisomens e fey. E vampiros. Cruzo os braços quando um calafrio me atravessa. Acho que nunca mais vou ler um romance com vampiros ou qualquer outro ser sobrenatural do mesmo jeito, depois de saber que existem.

Se bem que eu acho que estou segura. Ou tão segura quanto possível. Quer dizer, Rodrigo e Lavínia pularam na frente do lobisomem na cozinha para me defender, não pularam? E pelo que Paula me falou, não acho que vão me matar. Se quisessem fazer isso não iam ter me trazido para cá.

Respiro fundo e coloco a mão no vidro. Não adianta ficar aqui. Não importa se vou estar segura ou não. Ficar aqui é me conformar. É dizer que não tem outro jeito. E eu me conformei por tempo demais. Engulo em seco, encarando o horizonte. Joguei dois anos da minha vida fora, agindo como esperavam de mim. Isso sem mencionar os anos em BH e todas as oportunidades que deixei passar. Não. Eu já decidi que isso acabou, não decidi?

Olho para o notebook. O navegador ainda está aberto no site que imprime os pôsteres e outras coisas. Eu decidi que não ia mais me conformar quando comecei a olhar seriamente a possibilidade de ganhar dinheiro com minhas ilustrações. Preciso me lembrar disso. Não vou abaixar a cabeça de novo.

E se isso quer dizer que preciso engolir meu medo e descer para encarar sabe-se lá o que vou encontrar na cozinha, eu vou fazer isso.

Respiro fundo, pego a bandeja e abro a porta. De novo: como é que Paula conseguiu subir com ela sem derrubar nem derramar nada? Mas é bom porque tenho que me concentrar na bandeja e não nas pessoas que estão pela casa. Já faz mais ou menos duas horas que ouvi o movimento do lado de fora voltar ao normal: pessoas andando e vozes, mesmo que ninguém tenha vindo para o lado do meu quarto.

Deixo a porta bater atrás de mim e vou direto para a escada. Acho que tem duas pessoas vindo da parte de trás da casa, mas não espero para ver quem. Desço, concentrada em não deixar nada cair. Nem sou desastrada mesmo normalmente, mas são dois lances de escada e eu ainda não tenho certeza de que sair é seguro então...

Refém da Noite - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora