Capítulo Sete - Parte 1

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Eu ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Nada fazia sentido. Nada. Só podia ser um sonho. Um pesadelo, na verdade. Por que me queriam ali, se não iam fazer nada comigo? Não que eu estivesse reclamando, mas... Não fazia sentido.

Eu só conseguia pensar nisso enquanto o mesmo homem de antes me levava escada acima. Ele estava falando alguma coisa, mas não conseguia prestar atenção, só o segui de forma mecânica até o segundo andar, e então dando a volta no vão da escada para subir para o terceiro andar. Não havia ninguém nos corredores ou na escada, mas eu sabia que alguém estava me observando. Vários alguéns, na verdade. Me lembrava bem de quantas pessoas tinham falado que moravam ali aquela noite, no bar... Que parecia ter sido uma vida atrás.

Apertei as alças da minha mochila com força quando o homem parou na frente de uma porta de madeira escura como as outras e a abriu. A primeira coisa que vi foram minhas duas malas de pé ao lado de uma cama de casal com dossel. Tive a impressão de ouvir um "se precisar de qualquer coisa é só chamar" antes da porta se fechar atrás de mim, mas não tinha certeza.

Isso estava acontecendo. Eu estava no casarão, presa ali por sabe-se lá quanto tempo, sob uma ameaça de morte, nas mãos de uma quadrilha... E tinham me dado um quarto enorme com uma cama de dossel. De alguma forma, aquilo parecia mais absurdo que tudo até então e eu comecei a rir enquanto ia na direção da cama e colocava minha mochila no chão, ao lado das malas.

Sabia que minha risada era histérica, mas não conseguia controlar. Me sentei na cama, olhando ao redor sem realmente ver o quarto, antes de me deixar cair nos travesseiros.

Não demorou muito para a risada virar soluços e então um choro desesperado.

O que eu ia fazer?

Perdi completamente a noção das horas. Chorei até não conseguir mais chorar, e mesmo assim não saí de onde estava. Como minha vida podia ter dado tão errado? Como? Por que tudo tinha que acontecer justamente comigo? Por que meus planos não podiam dar certo pelo menos uma vez?

Mas, no fim das contas, não era a primeira vez que eu me sentia assim. E dessa vez eu tinha um plano que podia dar certo, que podia até funcionar melhor por causa disso. Respirei fundo, tentando me acalmar. Se eles não iam fazer nada comigo e eu precisava manter contato com as pessoas que conhecia para ninguém imaginar nada estranho, isso queria dizer que eu ia ter acesso a internet. Então aquela ideia de aproveitar esse tempo para começar a trabalhar como freelancer e juntar um dinheiro era possível. E o melhor: ia poder fazer isso sem ninguém me enchendo o saco ou perguntando a respeito. Pelo menos, eu esperava que sim.

Respirei fundo de novo e me sentei, passando as mãos no rosto com força. Não adiantava pirar. Já estava ali, já tinha tomado minha decisão. Precisava fazer alguma coisa, ou pelo menos focar só no que podia fazer. Era isso ou ficar louca de vez pensando em como tudo estava dando errado e como parecia que nunca havia nenhuma boa escolha para mim.

Olhei ao redor, só então prestando atenção no quarto. Dois criados-mudos estavam de cada lado da cama, um deles vazio e o que estava mais perto de mim com um abajur. Um guarda-roupas enorme estava encostado na mesma parede onde ficava a porta. Me virei na cama. Havia uma penteadeira encostada na outra parede, com uma cadeira na frente dela, e um espelho de corpo inteiro ao seu lado. E a última parede tinha duas janelas/portas que aparentemente davam para uma sacada. Me levantei e dei dois passos na sua direção antes de lembrar que se fugisse naquele momento ia ser pior. Ainda conseguia ouvir meu pai me falando que estavam dispostos a matar a família toda. Então respirei fundo, e voltei a prestar atenção no quarto.

Todos os móveis eram feitos de madeira escura e eram antigos. Encarei um dos criados-mudos, reparando nos detalhes entalhados nele. Definitivamente antigos e provavelmente bem caros. Se bem que eu não fazia ideia de se era possível serem os mesmos móveis de quando o casarão foi construído. Essas coisas antigas costumam durar bastante, mas...

Refém da Noite - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora