Capítulo Dois - Parte 2

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Já eram quase cinco e meia da tarde quando Rick entrou na loja. Me virei para ele e sorri, antes de voltar a prestar atenção no computador. Estava terminando de criar meu portfólio em um site. Tinha parado para dar uma lida nos sites de trabalhos freelance para ver como os anúncios eram feitos, que tipos de ilustrações costumavam ser mais procuradas e o que eu podia fazer, no geral. Para um dia que tinha começado não exatamente mal, mas complicado, estava terminando muito bem.

— Que animação é essa, Lau? — Rick perguntou, puxando a cadeira.

Me inclinei sobre a mesa, distraída, e dei um selinho nele.

— Só fazendo planos — falei, conferindo as informações que tinha acabado de digitar no site antes de me virar para Rick. Minha primeira vontade era minimizar a janela, mas não tinha nada a esconder. E, se fechasse, ele iria querer ver o que estava fazendo.

— Planos?

Sorri.

— Aham.

Rick suspirou e cruzou os braços, tentando não sorrir também.

— Que planos, Lau?

Dei de ombros. Não queria contar meus planos para ninguém, na verdade. Se ninguém soubesse o que queria fazer, ninguém ia poder falar pelas costas – ou pela frente mesmo – que eu tinha sido uma incompetente de novo. Eu sabia o que falaram quando voltei de Belo Horizonte, não queria repetir aquilo.

— Só algumas coisas que estava enrolando para fazer. Se tudo der certo, te conto.

Ele sorriu e balançou a cabeça.

— Você e seus planos mirabolantes. Deveria ter imaginado que ter voltado não ia mudar isso.

Na verdade, quase tinha mudado. Por dois anos, não tive nenhum plano, nenhuma expectativa além da rotina e da comodidade da vida que eu tinha ali. Conseguia ver e admitir aquilo, mas não via motivos para pensar em nada além. Não depois que os planos que fazia desde os meus quinze anos tinham ido por água abaixo.

Será que tinha sido por isso que eu havia voltado com Rick? Por que era cômodo, previsível, sem nenhuma surpresa? O que esperavam de mim, já que aparentemente o que eu queria não importava? Será que era por isso que ficava tão irritada com a forma como Rick agia, mesmo que todas as minhas amigas dissessem que ele estava sendo atencioso?

Não. Não. Se ainda estivesse em BH, nunca aceitaria um cara agir assim comigo. Teria falado que se ele queria ser "atencioso" assim, deveria ir atrás de alguém que quisesse aquele tipo de atenção, o que não era o caso. Teria colocado ele para fora da loja todas as vezes que me incomodou. Não teria ido para a casa dele quando preferia ficar sozinha.

Engoli em seco. Nunca tinha parado para pensar no tanto que voltar para Monte das Pedras tinha me marcado. Estar ali era um lembrete constante de que não tinha sido boa o bastante para conseguir o que queria, que era cair fora dali de vez e conhecer o mundo. Acho que antes da formatura eu já estava assim, fora do ar, sem me importar com mais nada.

Eu não era assim. Se a Laura de quinze anos me visse assim, me acharia patética. Como eu podia ter deixado de ser uma garota disposta a enfrentar tudo e todos para correr atrás dos seus sonhos e me tornado aquilo? Não, isso não ia continuar. Não mesmo. Eu não ia jogar minha vida fora.

— Você quer fazer alguma coisa depois que eu sair hoje? — Perguntei, de repente.

Rick estreitou os olhos.

— Em que você está pensando?

Meu sorriso se alargou.

— Quero ir para o bar.

Ele me encarou por alguns instantes, de boca aberta.

— Você nunca quis ir no bar.

Porque eu ir lá ia render comentários, como tudo que qualquer um fazia na cidade. Mas fazia dois anos que eu só bebia uma taça de vinho nos jantares de família em ocasiões especiais. Não ia me esconder mais, e aquela me parecia uma boa forma de comemorar minha decisão e de decidir o que faria sobre o meu namoro com Rick.

— Hoje eu quero.

***

N.A.: Parte pequena, eu sei, não me maaaatem! Eu juro que to organizando as coisas aqui pra começar a postar em modo rápido esse mês ainda!

Refém da Noite - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora