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O chalé estava silencioso e frio, como numa típica noite qualquer, a fumaça da lareira flutuava pelo ambiente madeirado, com o fogo quase morrendo.

As madrugadas na clareira eram longas ainda mais com o inverno tão próximo, as vigas absorviam toda friagem da noite congelando o lugar por dentro, o único lugar decentemente​ quente, era na sala ao lado da lareira crepitante.

O frio nunca foi um problema, mas por alguma razão não conseguia dormir o vento que batia nas telhas pareciam​ querer contar segredos sussurrando e murmurando. Foi aí que eu soube, algo estava acontecendo.
Porém o que?

Com cuidado para não acordar Kin que dormia serenamente com os braços ao redor da minha cintura, levantei-me. É a passo rápido caminhei para fora onde não só o ar frio me esperavam.

Congelei.
E não tinha a ver com o tempo.

Ele estava ali, parado no meu quintal olhando para o chalé com que parecia... saudades? Então ele olhou para mim, não como sempre fazia, estava diferente dessa vez.

Down, meu eu pai, caminhava para mim como se ainda pertencesse a este mundo.

— O que faz aqui?— Foi tudo que consegui murmurar.

—Eu nunca tinha reparado como esse portão e inútil. Se alguém quiser passar, vai passar de tudo jeito.— O que deu nele? Depois de morto deu de fazer piadas?

— Não foi isso que eu perguntei!

—Vejo que continua teimosa.—Ponderou ele.

— É de família.— Retruquei, rápida e irônica. Ele parecia refletir sobre a questão, depois concordou.

— Porque voltou Down, não deveria estar no Além Mundo?

— Eu bem que queria querida, mas Caan tem outros planos primeiro.

Querida?

Meu pai nunca nem me olhou com ternura, quem dirá me tratar de tal forma. Não depois da morte dela pelo menos.
As coisas devem estar bem feitas por lá.

— O que quer dizer?— A deusa da paz dos mortos, tem planos para ele?

— Há uma condição...—Ele não prossegue, parece esperar que eu acompanhe a explicação​.

—E não  há a sempre?— Ele decide ignorar meu sarcasmo, e continua.

—Para mim ficar com sua mãe no reino de Caan, é preciso cumprir a minha promessa.

— E que promessa é? Se quer​ perdão chegou tarde.

— Não, a promessa que fiz a sua mãe que​ cuidaria e apoiaria vocês​, e não fiz, você​ também prometeu e não cumpriu.

A promessa que fiz a mamãe.
Sim, fiz uma promessa é a cumpri, a maior parte dela.
No leito de morte da mãe, eu jurei que não abandonaria o pai, que eles ficariam unidos e felizes, eu tentei, deuses como tentei, porém não podia fazer tudo sozinha, era apenas uma menina na época, o adulto alí era Down e ele não fez nada. Chegava cada noite mais frio e cruel, enquanto eu tinha que cuidar de um bebê recém nascido, é um menino pequeno, enquanto lidava com o luto, meu Pai nunca me ajudou. Ele não tem o direito de chegar aqui depois de tudo que me fez passar, e exigir nada.

— Mais eu...

— Sim eu sei, e sua mãe está orgulhosa, nós dois estamos, e eu sinto muito Zey! Você não tem ideia o quanto. —Completou a última parte em sussurro.

Não, eu sei o que ele está fazendo, brincando! Brincando comigo como sempre fazia.

Até onde ele vai para me humilhar?

— Então de uma vez por todas, como acabar com essa bendita promessa?

— É por isso que estou aqui filha.

Oh! esse atrevido fantasmas idiota, metido a sabichão.

Então? Foi o que diz dizer com os olhos.

— Vocês correm perigo!

— Isso eu já sei papai, o que não sei e como enfrentar o perigo.

— Exato.— Ele sorrio de um modo que eu tinha esquecido, Down quando ainda estava vivo, sorria apenas com deboche.

— Sério, sabe o mais sensato a se fazer?—Pela primeira vez desde que a notícia me foi dada eu estou realmente feliz.

— Sim, eu sei bruxinha. Vocês​ devem partir, antes do inverno, seu lobo vai cuidar de você e seus irmãos. Seram felizes!

Meu lobo? Como ele sabia sobre Lochen? Não contei a ninguém. Porém havia preocupação mais urgentes.

— Mas Cho não vai aceitar assim tão fácil, vamos fugir com quem ele não conhece e não confia, além de ser um lobisomem. —Essa era minha maior preocupação.

— Chonan é um garoto esperto ele vai entender, ele não sabe ainda, mas o futuro dele está lá.

onde?

— Se eu contar perderá a graça.

— Está bem, então.— me dei por vencida.

— Zeya, confie no lobo, ele é a metade de sua alma, assim como sua mãe é a metade da minha, ele dará a vida se preciso pra proteger vocês.

Deuses que​ não chegasse a isso.

— Você nos amou?

— Sim, com toda força do meu coração.

Era bom reforçar, eu já sabia, apenas havia me esquecido com todos esses anos sombrios.

— Filha não esqueça de falar a Lochen que ele não teve nada a ver com o que aconteceu naquele dia, a escolha foi inteiramente minha.

— Pode deixar! — prometi, sorrindo pela primeira vez em anos para meu progenitor.

— E Zey?

— Sim.... pai?— Foi um pouco difícil usar a palavra.

— Cuide-se! —Pediu ele sorrindo, retribui o gesto.

— Eu irei! Boa sorte.

— A você também bruxinha.

Foi só então que Kin saiu de trás da porta, meio envergonhada e receiosa sorrindo para o fantasma do pai.

— Mande um beijo pala mamãe.

Sua voz infantil preencheu o silêncio da noite, roubando um sorriso terno de Down, garantindo que o pedido seria atendido.

—Venha cá querida.—Peguei ela no colo.

Ficamos alí, abraçadas vendo nosso pai acenar e sair pela estradinha que chegou, rumo ao portão da entrada da propriedade, quando chegou ao portão ele olhou uma última vez para nós, para tudo a sua volta, e para o chalé, não além do chalé para o garoto loiro que dormia serenamente lá dentro. E então sumiu.

Deixando suas filhas para trás com saudades de um homem que conhecemos apenas por um instante, e que não veríamos mais.

O Lobo que Eu Amo [Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora