Capítulo I

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"Sonhar é acordar-se para dentro."
Mario Quitana

Tem sonhos que nem lembramos, sonhos que só lembramos trechos sem sentido, outros tão lindos e tranquilos, outros assustadores e existem aqueles que parecem reais. Reais demais para serem ignorados ou sonhos que se repetem noites após noites, insistentemente.

"O sol está forte, um dia sem nuvens. A luz bate na flora verde de um pasto deixando um verde mais intenso e chamativo, ao longe vejo gado e cercas de madeira que se opõe a paisagem natural. Eu corro em uma estrada que separa esse campo em dois, ela é delimitada por árvores de cipreste-português que proporcionam sombra e brisa fresca, meus cabelos esvoaçantes tocam meu rosto. Visto um vestido branco com várias e pequenas flores que o tornam mais azul do que branco, ele desenha meu busto e fica rodado no meu quadril, se movia enquanto corro, mostrando minhas coxas. Estou sorrindo enquanto fujo de alguém, mas não sinto medo pelo contrário, quero ser pega, sinto a necessidade inusitada de ser alcançada. Corro sorrindo e em uma das minhas olhadas para ver quem me persegue vejo seus olhos, esses olhos verdes que penetram até minha alma, como um sol iluminando toda escuridão em mim."

- E esse sonho me persegue a meses, quando penso que vou parar de sonhar ele volta e cada vez com um detalhe diferente, como algo que esteja lembrando aos poucos, é estranho e na verdade me assusta. Fico o dia pensando especialmente nele, naqueles olhos verdes... As vezes desejo voltar a sonhar para ver aqueles olhos novamente, só vejo os seus olhos, o resto se seu rosto é meio embaçado, e isso me deixa mais curiosa ainda... Será que tenho algum problema Gaby? Não sei mental, psicológico... Estou enlouquecendo talvez! - Fala em tom engraçado e fazendo careta.

- Como é exagerada, em? - diz Gabriela, rindo e empurrando o ombro da amiga de leve. - acredito que não é nada, Vicky. Você vai ver que isso vai passar e você nem lembrará desse sonho daqui a algum tempo.

- Assim espero, mas não posso negar que estou intrigada. É como se... Gaby, é estranho para mim dizer isso, mas, a necessidade de ser pega por esse alguém ultrapassa o sonho... Não sei explicar. - ela abaixa a cabeça como que envergonhada e a amiga percebe, escondendo de Victória suas desconfianças em relação a esse sonho.

- Não se sinta envergonhada em me dizer o que sente, Vicky. Por favor. - diz tentando confortar a amiga. - Você sabe que pode contar comigo para qualquer coisa e olha pra mim. - Victoria olha para Gabriela, a qual pega em sua mão. - Vamos esperar um tempo e ver o que acontece, se você continuar tendo esses sonhos procuramos ajuda. O que você acha?

- Obrigada, Gaby. - diz com um sorriso largo. - Você é a melhor amiga do mundo inteiro, não sei o que faria sem você. - As duas se abraçam e Vicky derruba a amiga na cama fazendo cócegas enquanto Gaby ri quase sem fôlego, tentando pedir para a amiga parar de fazer cócegas, mas sem conseguir. Ela é salva por Dona Guadalupe, a qual abre a porta do quarto e ao ver aquela cena sorri.

- Anda, anda! Parem com isso e desçam para a janta. - diz Guadalupe, batendo as mãos criando um som estridente. As meninas se separam rindo e descem as escadas junto com a pequena senhora.

Enquanto desciam as escadas, Victoria observava a mãe, ela admitiu que seria uma honra parecer com ela quando em sua idade e se sentiu totalmente orgulhosa de ser sua filha. Ao chegar na sala de jantar, não suportou ficar calada e declarou o seu amor a sua mãe. Victoria sempre foi tachada de "pegajosa" por seus irmãos, na verdade ela era carinhosa demais e por algum motivo, não suportava esconder seus sentimentos de ninguém, muito menos de seus familiares.
A sala de jantar é ampla, todos estão sentados em uma enorme mesa no centro da sala, Don Ramon, Marcelo e Cristóvão, além de Gabriela, que já desce as escadas correndo para sua cadeira e servindo-se meio rápido demais. Enquanto isso Vicky se declara a mãe.

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