Capítulo XIII

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"Com todo perdão da palavra, eu sou um mistério para mim."
Clarice Lispector

Ao entrar ela sentiu um calafrio na espinha, seu corpo tremeu como nunca antes, talvez mexer com lembranças despertasse espíritos diversos. Ao retirar os olhos de Anuar, ela pode ver muitos quadros espalhados e preenchendo quase toda parede do quarto. Era Victoria em toda sua graça e juventude, todos os seus trabalhos até o casamento com Omar. Vicky andou pelo quarto, olhando os quadros de perto; sobre a cômoda pode ver objetos pessoas, jóias, pente, escova de cabelo, até o perfume que ela usava na época. Era como um "museu Victoria"... O mundo dela preservado como tesouro.

- Meu bisavô guardou tudo dela depois que ela faleceu, o quarto que você estava era intocável. Mas, depois da morte de meu avô transferimos as coisas para cá. Afim de impedir a visitação de outras pessoas e preservar tudo como é. - Vicky parou de olhar as coisas na cômoda.

- Onde ele se matou? - Anuar a olhou nos olhos.

- Nesse quarto. - ela voltou a se arrepiar. - Era o quarto dele. Na época.

- Vocês sabem o motivo? - Anuar se sentou em uma das poltronas que enfeitavam o local.

- Depressão. Mas, minha tiavó dizia que foi por dor, a falta de sua amada esposa. Ela dizia que ele amava Victoria mais que a própria vida e não suportou viver sem ela. - Vicky deixou lágrimas caírem.

- Chora por ele? - perguntou Anuar.

- É triste, não acha? Amar tanto e não ser correspondido... - Anuar franziu o cenho.

- Porque acha que ele não foi correspondido? - Vicky percebeu que falou besteira.

- Por nada. - sentou na penteadeira e se olhou no espelho.

- Me diz a verdade. Não sou tolo. - Vicky respirou fundo. - Sei que acabamos de nos conhecer, mas é a história de minha família e sei que você é a reencarnação dela. Não adianta negar. - Vicky o olhou rapidamente, o silêncio durou pouco.

- Você acredita em reencarnação... - sorriu, ele a olhava pensativo. - Então acreditará em minha história. Mas antes, quero que prometa me ajudar no que for preciso.

- Não posso te prome... - ela o interrompeu.

- Não te pedirei dinheiro ou nada material. Apenas apoio. - ele apenas a observava. - Tenho o diário que você tanto procura. - ele olhou para o caderno nas mãos dela.

- Onde o encontrou?

- Em uma gaveta secreta. Ela me mostrou em um sonho...

- Já o leu?

- Um pouco. Mas, preciso que me deixe ler primeiro. Sei que é sua propriedade e peço, por favor... - ele a olhou em silêncio por um tempo, decidindo o que fazer. Pensou que ela poderia ser uma oportunista, que poderia estar atrás de alguma coisa valiosa ou até mesmo fosse uma jornalista atrás de uma matéria, sabe lá para que. No entanto, ao olhar nos olhos de Vicky viu verdade, um quê de bondade e não sabe porque aceitou a proposta.

- Ok. Você lê, mas aqui. Nessa casa e me passa o que descobrir. Te ajudarei no que for preciso. - ela sorriu e ele retribuiu.

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