Prólogo - 11.04.2017

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Aquela era apenas mais uma manhã como qualquer outra na pequena cidade de Nova Aurora, com o Sol do outono incidindo seus raios quentes sobre ela.

Pessoas corriam agitadas a caminho dos escritórios, departamentos e hospitais em que trabalhavam. Jovens andavam com pouco ou nenhum entusiasmo para a escola, com suas mochilas penduradas desajeitadamente sobre os ombros.

O tradicional café Monet's, com sua pintura azul e janelas amplas - nunca havia sido reformado desde sua fundação dez anos antes - estava apinhado de pessoas que tomavam, apressadas, um café da manhã da melhor qualidade.

A televisão do estabelecimento estava ligada e sintonizada num programa matinal qualquer, ao qual as pessoas não davam muita importância.

Um garoto que devia ter mais ou menos vinte e poucos anos estava sentado em uma das mesas de pedra dividindo sua atenção entre um calhamaço e uma xícara de café fumegante. Espirais de fumaça subiam da xícara e logo se desfaziam no ar, como uma dança sincronizada.

A alguns quilômetros do café, carros passavam cantando pneus na avenida que circundava uma das praças mais movimentadas da cidade.

Um senhor com seus cinquenta anos, talvez sessenta, que ostentava uma barba por fazer, já grisalha, se encontrava de pé em um canteiro. Segurava em sua mão esquerda uma placa com a frase "O FIM ESTÁ PRÓXIMO!" escrita em uma caligrafia irregular.

Uma pequena aglomeração de dez pessoas, quinze no máximo, se amontoava perto do senhor, escutando atentamente o que ele tinha a dizer.

— O Fim está próximo, meus irmãos. Estamos de volta à Idade das Trevas!

— É o fim! — gritou um dos fanáticos.

— Apocalipse! — esbravejou uma senhora no meio da pequena multidão.

— Sim! É o fim! O Apocalipse está chegando! Se não mudarem suas ações vão todos arder no mármore do Inferno!

O senhor com a placa gritava a plenos pulmões, o que era um fato admirável, levando em conta sua idade avançada.

Pedestres que passavam do outro lado da praça paravam e olhavam para o velho e seu séquito, reviravam os olhos e então seguiam seu caminho.

Até então tudo transcorria na mais perfeita harmonia, afinal situações como aquela eram corriqueiras na cidade. Entretanto, toda aquela normalidade estava prestes a acabar. Se eles soubessem o que estava para acontecer...

Começou devagar, com uma sombra, pequena inicialmente, que surgiu no céu. Talvez fosse apenas uma nuvem que entrou na frente do Sol. Mas não era. A sombra ia ficando maior aos poucos.

Crianças que seguravam nas mãos de suas mães, ou pais, olhavam para o céu e começavam a pular excitadas apontando para o alto.

Aos poucos, a Sombra foi chamando a atenção de outras pessoas. Algumas até passaram a acreditar nas palavras que o velho da placa gritava. Fosse o que fosse aquilo, parecia estar ficando maior e mais próxima do solo a cada segundo.

Os pedestres já não andavam mais. Estavam parados no meio da praça e nas calçadas encarando o céu. A confusão estampada em seus rostos cansados após uma noite de sono mal dormida.

Estavam em estado de choque. Quando se deram conta do que poderia ser aquela coisa enorme que caía do céu, começaram a correr de um lado para o outro, completamente assustados.

Motoristas abandonaram seus carros e motos no meio da pista. Alguns simplesmente seguiram caminho até seu destino, dirigindo ainda mais rápido. Buscavam um lugar seguro onde pudessem se proteger e se esconder do que quer que fosse aquilo.

Quando a bola tocou o chão, foi como se tudo o que tinha acontecido até aquele momento tivesse se passado em câmera lenta. Veio uma explosão, seguida de um barulho ensurdecedor e então tudo ficou preto.

Então, os efeitos colaterais começaram a ser sentidos, tão rápido quanto aquela coisa tocou o solo. Pessoas foram de encontro ao chão. Alguns tiveram espasmos, outros apenas uma forte dor de cabeça. Alguns sentiam como se uma corrente elétrica percorresse seus corpos.

Em todo o mundo, nas maiores e menores cidades, aconteceu a mesma coisa. Era como se uma força superior a tudo o que existe estivesse agindo sobre o planeta.

Pronto. Havia acontecido. O estrago estava feito e o fim havia mesmo chegado, assim como aquele senhor de sessenta — ou seriam cinquenta? — anos havia dito naquela mesma manhã. Dizem que depois disso passaram a chamá-lo de profeta.

Não havia sido o mesmo fim, mas ainda assim um fim. O fim da raça mutante. O meteoro havia liberado uma radiação poderosa no momento de sua colisão, e nos primeiros instantes após a mesma, que havia feito com que todos os mutantes do mundo perdessem seus poderes ou morressem instantaneamente.

Naquele exato momento, o gene mutante fora extinguido da face da Terra.

Quando eu despertei de meu transe e abri meus olhos, senti uma leve sensação de claustrofobia. Não que eu seja claustrofóbico. Longe disso.

Mas o lugar em que eu me encontrava era tão apertado, o espaço tão recluso, que eu só conseguia enxergar cerca de sete centímetros à minha frente.

Espirais de uma fumaça gelada subiam e dançavam frente aos meus olhos, para desaparecerem logo em seguida. Eu estava sem camisa e então senti uma onda de frio tão cortante e gelado que perdi a consciência logo em seguida.

Os Mutantes 01 - Os RemanescentesOnde histórias criam vida. Descubra agora