III. Grandes e Proeminentes

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O dia amanheceu em Nova Aurora. Marcus acordou. Encarou fixamente o teto e espreguiçou. Havia passado a maior parte do dia anterior dormindo. Talvez fosse o efeito da medicação ministrada no hospital, mas não tinha certeza disso.

Olhou o relógio no criado-mudo ao lado de sua cama. Era cedo e ele tinha que ir para a escola. Seus pais com certeza já haviam saído para trabalhar.

O quarto estava totalmente escuro e a única luz presente era um raio de sol que entrava por uma pequena fresta na cortina fechada. Marcus levantou-se e foi em direção ao banheiro.

Quando passou pela janela, o pequeno raio de sol tocou sua pele e lhe queimou. Não foi um leve ardor como acontece quando o sol está muito quente. Foi como se tivessem encostado um ferro quente em sua pele.

Quando saiu do alcance do sol, viu que pequenas bolhas enfeitavam seu braço. A dor excruciante passou e as bolhas desapareceram rapidamente. Ele entrou no banheiro e se examinou no espelho.

Seu rosto estava pálido - ainda mais pálido do que ele já era normalmente. Seus olhos castanhos estavam mais escuros e intensos. Os círculos vermelho-sangue ao redor das íris estavam maiores do que no dia anterior.

Ele saiu do quarto e desceu as escadas. As cortinas estavam todas fechadas, então não entrava sequer um raio de sol na casa, por menor que fosse. Entrou na cozinha. Sobre a mesa havia uma garrafa de café e pães em uma cesta coberta com um pano.

Ele foi até a geladeira, pegou um queijo e uma faca no armário. Estava cortando um pedaço de queijo quando acidentalmente cortou o dedo.

Um pouco de sangue jorrou do pequeno corte e ele instantaneamente levou o dedo à boca. O gosto de sangue despertou nele uma sensação diferente. Foi quando sentiu uma dor enorme em sua arcada dentária e sentiu que seus lábios haviam sido espetados por algo pontudo.

Tirou o dedo da boca bem a tempo de ver o corte se fechar e a pequena cicatriz branca desaparecer rapidamente. Ele não entendia o que estava acontecendo. Correu para o banheiro do andar de baixo e, parado em frente ao espelho, abriu a boca. Seus caninos haviam crescido, adquirindo um tamanho consideravelmente anormal para um humano.

Saindo do banheiro, foi até a sala e parou frente a uma janela. Seus dedos abriram a cortina e a luz do sol tocou seu peito nú. Então veio a dor. Uma dor semelhante à que havia sentido minutos antes em seu braço, só que muito mais forte.

Rapidamente, fechou a cortina e a dor passou aos poucos. As queimaduras em seu peito desapareceram após um minuto. Seus caninos ainda não haviam voltado ao tamanho normal. Ele sentia sede, mas não era sede de água e ele sabia disso. Foi até a geladeira, serviu água em um copo e o levou à boca. Bebeu tudo de uma vez e a sede não passou. Refez o processo mais duas vezes e a sede ainda estava ali, presente. Ele sabia o que queria beber, só não queria ter que beber.

Thomas, Manu e Laura sentaram-se na mesma mesa de sempre no café Monet's. O café estava cheio de pessoas, em sua maior parte adolescentes que estavam esperando a hora de entrar no colégio.

Cada um dos três tinha um prato de porcelana com um pedaço de torta à sua frente.

— Gente — disse Laura, séria, deixando seu pedaço de torta de lado — Eu preciso contar uma coisa pra vocês.

— O assunto deve ser sério mesmo. Você até parou de comer — disse Thomas.

— Hahaha, engraçadinho. Não é tão sério assim. — disse ela.

Os Mutantes 01 - Os RemanescentesOnde histórias criam vida. Descubra agora