II. Olhos Vermelhos na Escuridão

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Laura não sabia se devia acreditar ou não naquela hipótese. Não fazia sentido, fazia? 

— Não sei, acho que não — disse Laura.

— Eu acho que pode ser verdade — disse Manu — Porque se você analisar bem, faz sentido.

— Acho que você tem lindo muitos livros da Anne Rice, ultimamente. — brincou Thomas.

— Eu tô falando sério, gente.

— Mesmo não acreditando em vampiros, eu também acho tudo isso muito estranho. E intrigante — concordou Laura. — Mas vamos voltar ao assunto inicial. O garoto. O que o médico falou, Tom?

Tom pensou por um momento, tentando se lembrar de alguma coisa. Por fim, disse:

— Não sei. Quando eu cheguei no hospital com o garoto eu só conversei com a recepcionista e contei ao médico o que eu tinha visto. Então eu fui embora.

— Mas você não sabe nada sobre o tal garoto? — indagou Manu, curiosa.

— Eu sei que o nome dele é Marcus alguma coisa — respondeu Thomas pensativo — Marcus Aurélio, eu acho. Ah, ele tem 15 anos. Acharam os documentos dele no bolso da calça.

— Quem foi o médico que cuidou dele? — perguntou Laura.

Thomas não via relevância alguma naquele fato, mas se Laura estava perguntando então talvez fosse mesmo relevante.

— Foi o médico que estava dando plantão ontem à noite, mas eu não conheço.

— Eu vou tentar descobrir alguma coisa em casa — disse Manu — Minha mãe deve saber quem deu plantão ontem.

Marcus se levantou depois de horas dormindo. A noite passada fora um tormento. Lembrava-se vagamente de estar andando na rua, voltando de um curso de teatro que fazia no centro da cidade.

Ele sempre havia gostado de atuar, por isso passava horas vendo filmes famosos pelas grandes atuações de grandes atores e atrizes do mundo inteiro.

Pensava na estreia da peça que estavam ensaiando no curso - a data estava se aproximando - e a partir daí tudo era apenas um borrão. Lembrava-se apenas de sentir uma dor lancinante em seu pescoço.

E lembrava-se de dentes também. Dentes grandes e afiados e uma mordida. Uma mordida demorada e agoniante, que fez com que sua alma quisesse abandonar seu corpo. Sentiu um aperto e peso fortes sobre seu corpo.

Então ele sentiu os dentes saindo de dentro de si e o peso se aliviando. Sua vista ficou turva, suas pernas cambalearam e ele caiu de encontro ao chão.

Ficou ali, na calçada fria e suja, olhando para cima. Era noite de lua cheia. Depois disso, veio um apagão. Sua mente divagou para a mais plena e completa inconsciência.

Depois disso, a única coisa de que ele se lembrava era de acordar num quarto hospitalar, sobre uma maca. Lembrou-se de seus pais entrando no recinto e parando ao lado da maca. Então ele voltara para casa com um curativo no pescoço.

Ele pulou da cama e sentiu seus pés entrarem em contato com o chão frio. As cortinas estavam fechadas, então o quarto se encontrava na mais completa escuridão, mesmo já passando das onze horas da manhã. Foi até o banheiro e se deixou aliviar.

Escovava os dentes quando se olhou no espelho. Viu não o reflexo a que estava acostumado, mas a imagem de um adolescente magro.

Os Mutantes 01 - Os RemanescentesOnde histórias criam vida. Descubra agora