VIII. O Grito

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Naquela noite Laura optou por se deitar cedo. Não tinha um pingo de sono, mas as lágrimas que desciam por seu rosto a fizeram dormir rápido.

Naquela noite ela sonhou com sua irmã, mas não só com ela. Sonhou novamente com o belo garoto de cabelos louros, que tinha um par de asas saindo de suas omoplatas. No sonho ele voava alto, a luz dourada e quente do sol tocando seus cabelos.

Ele voava tranquilamente, descrevendo movimentos cheios de graça no céu, até que começou a se contorcer. Seu rosto assumiu uma expressão de puro horror e agonia, como se estivesse sentindo uma dor excruciante.

Aos poucos foi perdendo a altitude, indo de encontro ao chão, até que caiu na relva verde e macia. Suas asas estavam em um ângulo estranho, como se estivessem quebradas. Ambas estavam maculadas por manchas vermelhas no centro. Era sangue. O sangue então começou a se espalhar por elas.

Logo depois todo o corpo do garoto começou a sangrar, mas a origem do sangue era desconhecida, pois não havia ferimento algum. Era como se alguém estivesse obrigando o sangue a sair de seu corpo.

De repente, o céu ficou escuro e um forte vento começou a soprar. Longe do jovem alado caído no chão, à sombra de uma árvore alta, encontrava-se uma figura alta, vestida com vestes totalmente negras que tremulavam com o vento.

Era uma garota. Seus cabelos eram totalmente negros. Seus olhos cinzentos encaravam o garoto. Ela deu um passo e depois mais alguns. Então andou na direção do garoto em passos decididos e por onde ela passava, a grama antes verde, ficava negra e sem vida.

Laura acordou de sobressalto, sufocando um grito. Estava suada, a respiração ofegante. Levantou-se e foi até a janela. Olhou o céu escuro e pontilhado de estrelas.

Ela estava triste. Havia perdido a irmã. E não só isso. Havia previsto a morte da irmã muito tempo antes de acontecer e não havia sido capaz de fazer nada para impedir. Não conseguiu mais dormir.

Manu e Thomas estavam sentados em sua mesa habitual no café Monet's. Laura estava para chegar. A garçonete colocou três xícaras de café fumegante sobre a mesa no exato momento em que Laura irrompeu pela porta do café. 

Ela murmurou um bom dia sem muita emoção, que foi respondido por outro da mesma forma.

— Como você está? — perguntou Manu e quase se bateu por tê-lo feito.

Ela sabia como Laura estava se sentindo. Sabia que a amiga não estava nem perto de estar bem, mas ainda assim fez aquela pergunta idiota.

— Estou bem. Não tão bem quanto gostaria, mas ainda assim bem.

Manu não respondeu nada, apenas acariciou o ombro direito da amiga, como que enviando uma mensagem para dizer que ela estava ali para qualquer coisa que a outra precisasse.

A música do plantão do jornal local tocou e logo a maioria dos presentes no café viraram-se para a televisão.

Manu recolheu sua mão, levou a xícara de café aos lábios e encarou a televisão.

"Bom dia, aqui é Roberto Campos, diretamente da delegacia de Nova Aurora. Saiu, enfim, o resultado da análise realizada na amostra de sangue colhida no jardim da casa de Isabelle Gold, de trinta e quatro anos, que foi morta em um incêndio ontem."

Laura abaixou a cabeça, em tristeza.

"Segundo a análise, o sangue pertence ao homem encontrado morto no jardim da casa. Carlos Souza, como se chamava, estava desaparecido há mais de duas semanas. Era professor de educação física em uma cidade vizinha, onde residia com a mulher e o filho de dois anos. Seu sangue foi completamente drenado de seu corpo e marcas de mordida foram encontradas em seu pescoço. A polícia ainda investiga quem está por trás de sua morte e o considera o principal suspeito do assassinato de Isabelle. Buscas por qualquer vestígio ou pistas estão sendo realizadas nos arredores da casa da vítima, agora em ruínas. Voltamos a qualquer momento com mais notícias."

Os Mutantes 01 - Os RemanescentesOnde histórias criam vida. Descubra agora