Brigas

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Não tenho carro.

Tive que chamar um táxi pra nos levar pros lugares, não é uma missão muito fácil com mais duas pessoas e uma criança porém, acho que ter o Alex por perto até que me ajudará, ele carrega as sacolas com mais facilidade, afinal de contas é homem... forte.

Enfim, a Flor está mais quietinha e a minha madrinha não para de falar da cidade, das vezes que veio em São Paulo, ela realmente sentiu falta daqui, só pelo jeito no qual se refere já dá pra ver que apesar das circunstâncias está feliz em ter voltado pro Brasil.

Eu me senti muito feliz quando voltei dos anos fora, simplesmente estava aliviada, durante a época dos estágios na Anderson eu não fui muito de ter amigos, só tive colegas, mantenho contato com poucos, acho que o Alex traumatizou minha estadia de todas as formas, e ainda me parece quase impossível que ele esteja realmente aqui, sentado atrás de mim num táxi em plena avenida Paulista.

O taxista segue rumo ao centro, tenho várias clientes nessa região, combinei de consultar cinco agora pela manhã e as demais pela tarde, depois eu vou ver a Nega por volta das sete da noite pra nós convesarmos.

Meu celular vibra, chegam mensagens a toda hora das minhas clientes, quando chega pedido é assim, muitas ligam de última hora pra pedir coisas de pronta entrega, mas ao checar o celular vejo mensagens de Brendon.

Suspiro, tem hora que até me arrependo de ter pedido pra ele assumir a Flor, as vezes ele é um saco.

"onde você tá?"

Ok Brendon, isso não é da sua conta.

"você não responde as minhas mensagens"

Eu odeio quando ele começa com isso... fica agindo como se eu fosse mulher dele, já tem a Eline aquela vaca.

"entendo que esteja brava ok? Eline ainda está doente mas gostaria de ver a Flor".

Com coisa que eu acredito.

"pode me responder pra onde você foi? acabei de chegar no prédio e o Santana falou que você saiu"

Santana é o porteiro que substitui o do dia, ele conhece a todos e todos gostam o Brendon. Respiro fundo e decido responder o Brendon, mas enquanto estou digitando ele manda outra mensagem.

"aposto que saiu com aquele merda, fica agindo feito uma putinha com ele né Isabel? Levando ele pros lugares com a minha filha"

Leio a mensagem e fico paralisada, depois de alguns segundos chega outra.

"está transando com Alex Anderson não é mesmo? Agindo como uma puritana na minha frente mas sendo uma puta pelas costas"

"você está fora de si Brendon"

Ele nunca falou assim comigo antes, não sei o que se passa na cabeça de Brendon, só que dessa vez não vou perdoar tão fácil. Seco as lágrimas que caem na minha face nesse instante, fico tão machucada com esses comentários, estou sinceramente farta das acusações de Brendon, esse ciúme desenfreado dele.

"onde você está Isabel?"

"estou indo atender algumas clientes"

"e levou Anderson?"

"ele e a minha madrinha vieram pra me ajudar"

"você nunca levou ninguém pras suas entregas"

"mas dessa vez é muita coisa"

"eu poderia ter te levado"

"não, obrigado Brendon"

"você está tendo um caso com ele Isabel? é amante desse homem?"

"não"

Isso me deixa bem mais que triste.

Isso me deixa bem mais que triste.

"seja sincera comigo"

"estou sendo sincera Brendon, o que você quer de mim?"

Ele demora pra responder.

Bloqueio o celular e olho pra frente engolindo o choro, estou esgotada desse assunto, estou farta das insinuações dele, achei que havia parado depois do fora que dei nele essa semana, mas pelo visto Brendon não entendeu o recado.

Logo eu? Eu que sempre fui tudo o que a Eline não foi? Vadia é a mulher dele que se envolveu com ele quando estávamos juntos, vadia é a mulher dele que sempre foi uma completa estúpida com a minha filha só por que ela é de cor, vadia é Eline que sempre de alguma forma tentou me prejudicar depois que o Brendon e eu registramos a Flor.

--tudo bem Isabel?--Alex pergunta se inclinando pra frente--algum problema?

--nenhum--falo e tento sorrir.

--sei--ele está desconfiado.

Viro pro lado e o fito.

--é sério, nenhum problema Alex.

--não parece, você está chorando...

Olho pra Madrinha, ela brinca com Flor no tablet, está alheia ao que falamos.

--não estou não, é só irritação.

--se for por minha causa...

--não é não Alex, pode ficar tranquilo.

--então o que é?

Falamos em voz baixa, quase cochichando.

--nada.

--fala.

Ele está ordenando, não tenho paciência, desbloqueio o celular e entrego pra ele.

--lê.

Alex pega o celular e lê, o táxi começa a se mover novamente, depois de alguns instantes me vejo escutando o Alex falando ao celular.

--oi... não é a Isabel, é o Alex... por favor, tenha um pouco mais de respeito pela mãe da sua filha, você deveria se envergonhar de falar isso--Alex está falando ao celular arregalo os olhos--se eu e a Isabel estamos juntos isso não é da sua conta, ao menos tenha um pingo de respeito pela mulher que cria a sua filha seu idiota, e não volte a falar com ela assim ok?

Ele parece ouvir em silêncio vindo dele, Alex está ouvindo o que Brendon fala, estou sufocada e paralisada.

--tudo bem Brendon, faça como quiser, só acho absurdo que fale assim como Isabel, ela não merece ser tratada dessa forma... ok... tudo bem... ok... até.

E desliga.

Me estende o celular muito tranquilamente.

--fui demitido!--fala logo que pego o celular, ele se inclina e me dá um selinho e sorri como se isso fosse irrelevante--sem problemas.

Fico séria, olho pro celular, depois pro Alex.

--isso não vai ficar assim Alex.

--não precisa se preocupar...

--ele não pode fazer isso, pode deixar.

Desbloqueio o celular e envio uma última mensagem antes de bloquear o perfil do idiota.

"me demito"

Foda-se também, se ele quer assim, eu serei assim.




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Senhor Anderson (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora