Sou branca. Faço parte da classe média. Sou heterossexual. Estudo em uma das melhores escolas do estado.
Nunca usei drogas tampouco as vendi. Nunca fui vítima de racismo. Ninguém nunca me julgou pela cor da minha pele. Sempre tive as melhores oportunidades.Eu sou a minoria numérica do nosso país.
Não se preocupe se você também fizer parte dela. Você tem uma vida boa. Não estou te julgando, não estou dizendo que você não se esforça. Não. Estou apenas mostrando a você quem é a maioria.
A maioria numérica é composta pelas minorias sociais. Uma antítese. Melhor, um paradoxo. Como pode a minoria ser também a maioria?
A resposta é simples: eles são invisíveis.
Negros, homossexuais, transgêneros, cadeirantes, gordos, pobres, traficantes, cegos, surdos, mudos, mulheres, pessoas com deficiências mentais, prostitutas, seguidores da umbanda, todos aqueles que não vemos, todos aqueles que não são como eu. Que não são como nós."Opressora!!! Todos são iguais!!"
É, eu concordo. Somos todos humanos, somos iguais, mas não é assim que a sociedade nos trata.
Essas minorias não têm as mesmas oportunidades, direitos ou benefícios que nós: "A minoria".
Assim, com A maiúsculo. Afinal, somos superiores demais para nos igualarmos aos outros.
Doaremos uma quantia para aquela ONG que ajuda crianças na África e teremos salvo nossa consciência. Nos formaremos em uma boa universidade, teremos um bom emprego, constituiremos uma bela família, é claro que dentro dos padrões estabelecidos pela Igreja, mais tarde nossos filhos seguirão o mesmo caminho, assim como nossos netos, bisnetos e tataranetos. Certo? Talvez.
Mas e aquele garoto que viu o pai ser assassinado aos três anos de idade? Que cresceu na periferia, foi aviãozinho, vendeu cocaína pra sustentar a mãe e as três irmãs? Que largou a escola pra trabalhar e que nem pensa em fazer faculdade? Aquele garoto que anos mais tarde foi morto em um tiroteio? O que acontece com ele? Com os filhos, netos e bisnetos dele? Terão o mesmo destino que os nossos? Acredito que não.
Estufamos o peito para falar de meritocracia mas não nos lembramos do quão injusta ela é. Não há mérito sem oportunidades.
Devemos não só ser iguais, mas nos tratarmos como iguais. Devemos nos igualar no respeito às nossas diferenças. PRECISAMOS nos colocar no lugar do outro.Eu sou branca, negra, parda, amarela e também vermelha. Sou heterossexual, homossexual e transgênero. Sou rica, pobre e classe média. Sou formada e analfabeta. Sou mulher e homem. Sou magra e gorda. Sou cega, surda e muda, mas também vejo, ouço e falo. Sou prostituta. Sou traficante. Sou católica, ateia, espírita, budista e seguidora da umbanda.
Eu sou as diferenças que clamam por igualdade.
Eu sou todos nós.
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Íntimo
PoetryO mundo através dos meus olhos de vidro, embaçados pela confusão de coisas que sinto.