"Tem uma menina na minha sala que chama Duda!"
"Você tem um cabelo bonito."
"Gostei das suas meias."
"Você tem um Minion igual o da minha meia."
"A vovó saiu?"
"Oi, Duda. Você não vai lanchar?"
"Por que tirou as trancinhas?"
...
Seis anos. Os meus maiores sorrisos nessa nova casa são culpa de um garoto de seis anos.
É, com certeza, a melhor pessoa daqui. E tem covinhas!
Parece que fazem séculos desde que eu tinha essa idade. Decerto eu não era tão fofa quanto esse garoto, tampouco tão sábia.
Acredite, esse menininho é mais sábio em sua meia dúzia de anos do que muitas pessoas em suas décadas.
Fazia tempo que eu não via um sorriso tão puro e sincero. Acho que eu precisava disso.
É bom parar de estudar com um "Deixa eu ver mais um desenho, vovó!!!"
Ou talvez uma batida tímida na porta de um pequenino querendo contar o seu dia.
A verdade é que estou com medo. Muito medo mesmo. Desse ano inteiro. De estar fazendo as escolhas erradas. De ter sido uma péssima neta. De estar falindo meus pais. De colocar nas costas do meu irmão um peso imenso. De acreditar nas mentiras que conto para mim mesma. De não conseguir.
Mas, olhar para esse garotinho de meias por cima da calça e cabelo despenteado me olhando ansioso, de alguma forma, faz com que eu queira continuar. Talvez eu só esteja com vontade de, no final do ano, dizer a ele que as coisas sempre dão certo e, dessa vez, acreditar mesmo nisso.
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Íntimo
PoetryO mundo através dos meus olhos de vidro, embaçados pela confusão de coisas que sinto.