Faltam quatro dias para o meu aniversário.
Quatro é um quadrado perfeito.
Quatro ao quadrado é a idade que tenho hoje.
Daqui a quatro dias terei um número primo de anos.
Mas, se considerarmos um ano como sendo o período de 365 dias e prestarmos atenção aos anos bissextos, vamos perceber que completamos mais um ano nesse mundo antes da data que consta na certidão.
Já passei por quatro anos bissextos, de modo que meu aniversário está adiantado em quatro dias.
Então, hoje completo dezessete anos de vida. Parabéns para mim.
Quando eu era mais nova, acreditava que quinze seria A IDADE. Eu teria dentes perfeitos, minhas espinhas teriam ido embora, namoraria um príncipe encantado, iria a várias festas e, claro, teria um belo par de seios.
Aos quinze, minha pele continuava horrível, terminei com o namorado, descobri que não posso ir na maioria das festas e meus seios ainda eram pequenos... Pelo menos meus dentes se acertaram_ bendito freio de burro!
O fato é que ter quinze foi bem diferente do que eu esperava. Assim como ter dezesseis.
Então, decidi parar de esperar. Aprendi a aceitar e amar muitas coisas.
Não vou ter um sutiã tamanho M ou G, a não ser que compre na sessão infantil e, por mim, tudo bem.
Minha pele vai continuar assim enquanto eu não fizer um tratamento adequado e, até lá, que seja.
Não existem príncipes e isso é ótimo, porque não acho que o Encantado teria aquela pegada made in roça.
Nunca gostei muito de festas. O importante não é o lugar, mas sim a companhia.
A vida me prega peças todos os dias. Às vezes, eu acordo e quero chorar por um dia inteiro. Outras vezes, durmo e quero que seja para sempre.
Mas, na maior parte do tempo, eu sorrio muito com meus dentes de freio de burro. Eu sorrio tanto e para tantas pessoas que até faço os anos de dentista valerem a pena.
Afinal, o que nos resta além de sorrir?
Eu gargalho de piadas horríveis contadas por um idiota com olhos de caleidoscópio. Eu me engasgo com as cócegas que ele faz.
Eu rio com desconhecidos nas ruas e com o nem tão desconhecido moço do estacionamento.
E é isso que quero até o fim da vida. Quero poder sorrir um pouquinho todos os dias da minha vida de borboleta.
Pudera eu ser lagosta!
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Íntimo
PoetryO mundo através dos meus olhos de vidro, embaçados pela confusão de coisas que sinto.